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Brasil-África

Pedidos de afastamento de Jacob Zuma e Dilma são diferentes, diz especialista

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Brasil e África do Sul são dois países que têm bastante em comum: ambos fazem parte do BRICS, são relativamente novas democracias, passam atualmente por uma recessão econômica e lidam com sérios distúrbios políticos. Além disso, nos dois países, emergiram movimentos para pedir o afastamento do presidente – no Brasil, o impeachment de Dilma Rousseff se consolidou, e na Africa do Sul é Jacob Zuma quem segue na corda bamba.

Militante do partido ANC, de Jacob Zuma, pede a saída do presidente sul-africano.
Militante do partido ANC, de Jacob Zuma, pede a saída do presidente sul-africano. REUTERS/Siphiwe Sibeko
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Amanda Lourenço, correspondente da RFI em Pretória

Mas as semelhanças entre o processo de saída dos dois presidentes param por aqui, como explica Richard Pithouse, professor de teoria política contemporânea na Rhodes University, na África do Sul: "Não acho que as situações sejam parecidas. No Brasil, as pessoas que pediam o impeachment estavam, algumas vezes, elas mesmas envolvidas com corrupção. Foi um contragolpe político vindo da direita contra um governo que simpatizava com as classes mais pobres e com os negros”, afirma.

“Já o que temos aqui na África do Sul é uma crescente hostilidade contra Zuma mesmo dentro do seu partido, em sindicatos e entre estudantes. Não há uma divisão política como há no Brasil: é um fenômeno mais generalizado", explica o professor.

Mais flexibilidade para o partido trocar o presidente

Na África do Sul, os eleitores não votam diretamente no candidato à presidência, mas no partido, que por sua vez escolhe um representante para governar. Desta forma, é possível mudar o presidente e manter o mesmo governo.

"Já aconteceu antes com Thabo Mbeki, que foi retirado da presidência pelo próprio partido. É totalmente possível", afirma Pithouse. Zuma é líder do Congresso Nacional Africano (ANC), partido fundado por Nelson Mandela. Mas há uma divisão interna quanto à sua permanência no cargo, teoricamente até 2019. O atual presidente tem uma longa lista de acusações criminosas, inclusive estupro, e foi envolvido em comprovados casos de corrupção, entre outras acusações de má administração.

"A princípio, a saída de Zuma seria algo positivo tanto para seu partido quanto para o país. Ele está causando um estrago enorme para a ANC, que pagou um preço alto nas eleições locais”, indica o cientista político. “Quanto mais tempo ele ficar lá, pior será para o partido. E Zuma também causou danos ao país: muitas instituições ficaram comprometidas e a economia está uma bagunça”, argumenta o professor.

Pithouse avalia que o afastamento da presidente no Brasil não foi positivo, mas vê com outros olhos a situação na África do Sul: "Não conheço nenhum acadêmico aqui e em lugar nenhum que ache que o impeachment no Brasil tenha sido algo democrático. Na África do Sul, a questão é se o próprio partido deve ou não afastar o presidente. Acho que é uma situação bem diferente do Brasil".
 

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