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O Mundo Agora

Rússia quer conquistar Aleppo para reforçar papel de Al-Assad

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Vladimir Putin enfureceu – ou está com muita pressa. A aviação russa decidiu bombardear Aleppo de maneira indiscriminada. Pelo visto também alvejou diretamente uma coluna de socorro das Nações Unidas e atacou sistematicamente, hospitais, ambulâncias, médicos. Isto sem falar nas vítimas civis. A violência é de tal ordem, que os chefes das diplomacias britânica e francesa acusaram a Rússia de “crimes de guerra”. O Conselho de Segurança da ONU foi convocado em urgência. Infelizmente, mais uma vez, não vai dar em nada.

Estados Unidos, França e Reino Unido acusam a Rússia após bombardeios em Aleppo. 25/09/16
Estados Unidos, França e Reino Unido acusam a Rússia após bombardeios em Aleppo. 25/09/16 REUTERS/Abdalrhman Ismail
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Um ano depois da intervenção no inferno sírio, os russos descobriram que entrar é fácil, mas sair é muito mais difícil. Putin tinha duas ideias: fazer com que a opinião pública russa e internacional pensasse menos na paralisia e no custo da intervenção na Ucrânia, e que a Rússia voltasse a ser um protagonista de peso no Oriente Médio. Só que Moscou continua atolada no pântano sírio, e a aventura está custando uma baba.

As armas russas conseguiram salvar a pele do ditador Bachar Al-Assad que estava quase caindo, mas até hoje não foram suficientes para que ele pudesse reconquistar territórios com algum valor estratégico. O exército pro-governamental sírio praticamente não existe mais. Só a guarda pessoal de Assad tem reais capacidades de combate.

O resto são unidades mal ajambradas ou milícias indisciplinadas. Em cada ofensiva do regime um pouco mais organizada e apoiada pelos aviões russos, são combatentes da Guarda Revolucionária iraniana, enviados por Teerã, e supletivos do Hezbollah libanês, que dão conta do recado. Os russos estão aprendendo a lição que já custou muito aos americanos: bombardear desde as alturas, sem tropas no chão, não resolve nenhum conflito territorial.

Síria: problema global

Na Síria, a dificuldade é que a guerra começou como um problema interno, passou a ser um assunto regional e agora está se transformando num enfrentamento global. De início, foi uma rebelião da imensa maioria sunita contra a ditadura sanguinária de um poder minoritário alauíta. Depois um ano de manifestações pacíficas reprimidas com massacres e tortura generalizada, sem que a comunidade internacional levantasse um dedinho, a oposição passou para a luta armada.

A falta de ajuda externa para os movimentos armados nacionais moderados, abriu o caminho para a criação de grupos islamistas extremistas ligados a Al Qaeda e aos terroristas do dito “Estado Islâmico”. Tudo isso com uma ajudazinha inicial de Bachar Al-Assad que queria enfraquecer a oposição sunita. E não deu outra: todas as potências regionais meteram a mão na cumbuca – Irã, Arábia Saudita, Qatar, Turquia – sem falar nas milícias libanesas e curdas.

Resultado: um banho de sangue sem saída e uma confusão total que está engolindo a região inteira. Só que para os Estados Unidos e os países ocidentais a prioridade era combater o grupo terrorista “Estado Islâmico”. O problema político interno na Síria – manter ou não o governo de Assad – importava pouco.

Putin intuiu uma oportunidade nesse enfrentamento de todos contra todos. O objetivo do ex-agente do KGB é que a Rússia volte a ser uma potência global, falando de igual para igual com os Estados Unidos. E ressuscitando, para isto, a velha ideologia do equilíbrio das grandes potências e suas zonas de influência e da defesa do statu quo político em cada país, mesmo as ditaduras mais ferozes.

Direitos humanos para quê? Só que Putin está convencido que se Hillary Clinton ganhar a eleição ela vai ser muito mais dura com a Rússia, inclusive do ponto de vista militar. Daí a pressa. Moscou quer tentar reconquistar Aleppo – a segunda cidade mais importante da Síria – antes de ter um novo presidente na Casa Branca. Aleppo nas mãos de Assad seria a única garantia de que Bachar Al-Assad possa ser visto como um interlocutor incontornável numa futura negociação geral. E que Putin seja o grande manda chuva desta negociação. Só que guerra é guerra. E reconquistar Aleppo, mesmo com um dilúvio de bombas, não é um passeio na pista.
 

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