Há cinco anos morando em Pequim, a chef brasileira Camila Betin não pensa em deixar a China tão cedo. Ela comanda a cozinha do Factory, restaurante que abriu com um sócio chinês e uma italiana três anos atrás, no famoso distrito artístico 798, um centro de produção cultural da capital.
Vivian Oswald, correspondente da RFI em Pequim
O charme do bairro está no fato de ter crescido ao espalhar-se pelos galpões abandonados, e hoje revitalizados, de uma antiga fábrica de equipamentos de rádio, que se mudou dali ainda na década de 1990. Foi neste endereço que Camila resolveu colocar em prática tudo o que aprendeu pelas suas andanças mundo afora.
Depois de se formar em 2005 na Escola de Gastronomia Aires Scavone, em Porto Alegre, sua cidade Natal, já trabalhou em restaurantes na Itália, na Nova Zelândia e na Inglaterra. “Em Londres o proprietário me deixava fazer o que eu quisesse. E foi ali que eu comecei a provar, a fazer um monte de coisas. Isso é o que eu mais gosto e o que mais me diverte. Pego ingredientes de qualquer lugar e coloco junto, de uma maneira que eu acho legal. ”
Seus cardápios refletem as várias influências que sofreu desde os estudos no Brasil. É uma cozinha moderna e criativa, com ingredientes do mundo. Os pratos são montados um a um, com o esmero dos grandes chefs. Cada detalhe tem a sua razão de ser. Claro que o pãozinho de queijo é um dos quitutes que fazem sucesso nos coqueteis e jantares que serve. Os pratos brasileiros também ganham as suas versões tradicionais ou as releituras possíveis, a depender do humor da chef e dos ingredientes locais do momento.
Cardápio saudável
Uma das bases das receitas da brasileira é a comida saudável e esse é hoje o seu carro-chefe. Ela oferece um serviço especial novo na China. Camila prepara um cardápio para a semana, leve, com refeições saudáveis, que entrega aos clientes em casa. Foi a primeira a trabalhar com este conceito em Pequim. Hoje há outros três restaurantes seguindo os seus passos. “Temos esse serviço e estou estudando nutrição esportiva, e quando comecei a mudar minha alimentação decidi que queria oferecer a mesma coisa a meus clientes", diz.
Logo que chegou a Pequim, Camila trabalhou no Salt, um dos primeiros restaurantes estrangeiros abertos na capital, que pertencia a outra brasileira, Gabi Alves. Hoje, Camila pouco fala o português no dia a dia. Mas ouve bastante. A música brasileira não para no seu restaurante. É a trilha sonora da cozinha onde trabalha cercada de chineses. Hoje se sente à vontade no país, embora não fale o idioma local. Ela precisou aprender a viver na China e rever os seus conceitos. Não basta ser chef, é preciso entender a dinâmica dos funcionários e a lógica local. Seu maior desafio? A paciência.
NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.
Me registro