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O Mundo Agora

Guerras Mundiais mudaram regras de conflitos armados

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Mais uma vez, um presidente francês e uma chanceler alemã vão comemorar juntos o centenário da batalha de Verdun, uma das mais sangrentas da Primeira Guerra Mundial, poucos dias depois da primeira visita de um presidente americano ao memorial de Hiroshima.

Os RC-135 são utilizados pela Força Aérea dos EUA em guerras eletrônicas (utilizam a energia eletromagnética para destruir, neutralizar ou reduzir a capacidade de combate).
Os RC-135 são utilizados pela Força Aérea dos EUA em guerras eletrônicas (utilizam a energia eletromagnética para destruir, neutralizar ou reduzir a capacidade de combate). Service Depicted: Air Force
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Verdun foi uma carnificina inútil: 700.000 baixas (entre mortos e feridos) em combates por um pequeno território de poucas dezenas de quilômetros quadrados. As bombas atômicas lançadas sobre Hiroshima e Nagasaki, em 1945, mataram quase 200.000 pessoas em poucos minutos. Os dois acontecimentos mudaram profundamente todas as regras tradicionais dos conflitos armados.

Em Verdun, morreu a idéia de que as guerras são ganhas pela coragem física dos soldados e oficiais. As centenas de milhares de combatentes alemães e franceses não tinham a mínima chance diante dos novos armamentos da época: metralhadoras pesadas, canhões de longo alcance, gases tóxicos e a primeira aviação militar. Levas e levas, dos dois lados, foram dizimadas sem ganhar um palmo de chão.

A primeira grande dessa Grande Guerra foi que o material bélico motorizado (tanques, canhões e aviões de combate) seria o novo rei dos campos de batalha. E que os soldados seriam só serventes destas novas armas. A segunda lição foi que a guerra ia se estender por todo o território dos beligerantes e seus vizinhos, ameaçando boa parte das populações civis. E não só aqueles que por azar moravam nas zonas de combate.

A Segunda Guerra Mundial mobilizou 100 milhões de combatentes e provocou a morte de 62 milhões de pessoas – a grande maioria simples civis. Na verdade, as populações foram deliberadamente transformadas em alvos dos bombardeios aéreos e terrestres, sem falar nos massacres de massa e nos campos de extermínio. Hiroshima representou o ponto culminante desse poderio destrutivo. Bastou duas bombas para que o imperialismo japonês se rendesse sem condições.

"Era do átomo militar congelou a possibilidade de enfrentamento planetário"

A era do átomo militar congelou a possibilidade de outro enfrentamento planetário. Com bombas atômicas, qualquer guerra generalizada só poderia ter um desfecho: o suicídio coletivo da humanidade. Porém, a paz pela dissuasão nuclear não impedia as guerras locais e, pior ainda, aliada à capacidade destrutiva dos armamentos modernos, ela colocava os civis na linha de frente. Paradoxalmente, na segunda metade do século XX, os militares estavam mais bem protegidos do que as populações. A Guerra Fria abriu espaço para guerras locais “quentes”, onde a maior parte das vítimas foram civis.

Terrível evolução. Com as novas tecnologias da informação e comunicação, o monitoramento por satélites, as novas armas ultra-precisas e os novos meios de projeção de força para o mundo inteiro, a guerra está cada vez mais automatizada. Hoje, um piloto de drone pode bombardear o carro de um chefe terrorista, a milhares de quilômetros, sentado no seu escritório numa base em território americano.

"Tendência é cada vez menos militares no campo de batalha"

A tendência é cada vez menos militares no campo de batalha, o confronto tornando-se fundamentalmente uma guerra eletrônica. As ameaças futuras serão os ataques cibernéticos que poderiam paralisar as redes elétricas ou os processos de produção de um país inteiro, ou provocar a explosão de uma central nuclear.
Mas esse ocaso das virtudes militares em favor de armamentos automatizados está provocando uma rebordosa. Os civis transformados em alvo viraram combatentes de primeira linha. Os terroristas são civis radicalizados.

Os “ciberguerreiros” são hackers, muitas vezes clandestinos, ajudados ou não por governos hostis. As milícias locais que atacam populações civis, sem uniformes, utilizando picapes e um armamento heteróclito, são os novos senhores da guerra. Sem falar na ubiqüidade da violência urbana. A tecnologia bélica está provocando o desaparecimento da força armada institucional. Os governos estão perdendo o monopólio da violência legítima. Obama, Merkel e Hollande estão comemorando um tempo onde os dirigentes políticos ainda decidiam a paz e a guerra. Ainda vamos sentir saudades dos velhos exércitos.

Alfredo Valladão, do Instituto de Estudos Políticos de Paris, faz uma crônica semanal às segundas-feiras para a RFI
 

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