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Planeta Verde

Atividade industrial ameaça metade de patrimônios mundiais da Unesco

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O carimbo de local Patrimônio Mundial da Unesco não é garantia de preservação da atividade industrial do homem. Um relatório publicado pela organização ambiental WWF denuncia que quase a metade dos espaços que integram a prestigiosa lista já sofre degradação ou está diretamente ameaçada.

Em Santa Cruz Cabrália (BA), o acervo paisagístico da Costa do Descobrimento foi tombado pelo Iphan, em 1984.
Em Santa Cruz Cabrália (BA), o acervo paisagístico da Costa do Descobrimento foi tombado pelo Iphan, em 1984. http://portal.iphan.gov.br
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No ano passado, a entidade havia alertado sobre o risco que a extração de petróleo e de minerais representa para dois terços das áreas inscritas na Unesco, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura. Com o novo estudo, que engloba todas as atividades industriais, a World Wide Fund constata que o homem sequer é capaz nem de conservar os 0,5% de belezas da Terra, consideradas as mais fantásticas do mundo. O diretor da ong na França, Pascal Canfin, ressalta que, se tudo continuar como está, dezenas de lugares que hoje são admirados pela beleza podem desaparecer.

“Essa dinâmica mostra que não sabemos proteger os tesouros da humanidade. A classificação da Unesco pode dar uma ideia de ser uma lista burocrática, mas o que afinal ela quer dizer? São simplesmente os lugares mais lindos do planeta”, constata Canfin. “Não somos sequer capazes de protegê-los dessa nossa bulimia de matérias-primas, de gases, petróleo etc. Sendo assim, qual será o nosso limite?”

A atividade petrolífera permanece como a mais ameaçadora - é o caso em 20% dos patrimônios mundiais -, seguida pela mineração, a pesca, o desmatamento, a construção de grandes infraestruturas, como rede elétrica ou férrea, e, por fim, a exploração excessiva da água para a indústria.

96 países têm patrimônios mundiais da Unesco

O mapa dos riscos inclui os cinco continentes, num total de 114 lugares a perigo. A lista completa da Unesco tem 229 patrimônios naturais “de valor universal excepcional”, que começaram a ser estabelecidos na convenção de 1972. A maioria deles, 197, são belezas naturais, repartidas em 96 países. Para fazer parte dessa classificação, o local deve atender a dez critérios estabelecidos pelas Nações Unidas.

No Brasil, sete lugares são citados no documento: as reservas do sudeste e da Costa do Descobrimento da Mata Atlântica, as de Fernando de Noronha e o Atol das Rocas, o complexo de conservação da Amazônia central, o Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros e das Emas, o Parque Nacional de Iguaçu e a Reserva do Pantanal.

“Temos lugares na Tanzânia, por exemplo, que foram tombados por serem reservas excepcionais de biosfera para espécies ameaçadas, como elefantes e rinocerontes. Mas, mesmo assim, os rinocerontes estão quase em extinção na Tanzânia”, lamenta o diretor francês. “Temos também as barreiras de corais. As da Austrália são as mais emblemáticas, mas veja o caso das de Belize, perto do México. O desenvolvimento da pesca e do turismo em escalas industriais, totalmente desmedidos, estão fazendo com que essa barreira de corais, que é um integrante mágico do nosso patrimônio natural, esteja progressivamente se degradando, até serem destruídas”, diz Canzin.

Destruição também ameaça populações vizinhas

O estudo adverte que a destruição desses lugares ameaça 11 milhões de pessoas que vivem nas regiões listadas, em uma economia de subsistência. A organização exige que as companhias responsáveis pela degradação em alta escala se comprometam a respeitar os limites dos patrimônios mundiais da Unesco. Esse já é o caso da Shell e da Total, por exemplo.

A WWF pressiona para que os governos tomem atitudes mais concretas para proteger os locais – afinal, foram os governantes que insistiram para que os espaços fossem inscritos na lista da ONU, uma medida que catapulta a frequentação turística e facilita a obtenção de subsídios.

Bons exemplos

Mas nem só de críticas é feito o relatório. O texto cita bons exemplos, como o Parque Nacional de Chitwan, no Nepal, cuja instalação gerou tensões entre as autoridades e as comunidades locais. A solução foi redistribuir as receitas geradas pelas visitas ao espaço, incluindo os moradores que tiveram de sair da área de preservação.

Outro exemplo vem das Filipinas. O recife de Tubbataha, que abriga um dos sistemas marinhos mais diversificados do mundo, se tornou uma fonte de desenvolvimento econômico sustentável depois que o governo adotou normas mais rígidas para a pesca.

O relatório da WWF foi feito em parceria com a consultoria internacional Dalberg Global Development.

 

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