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Irã/Europa

O Irã se tornou um país "normal"?

Com o fim das sanções econômicas e o acordo sobre o programa nuclear, o presidente  iraniano Hassan Rohani iniciou suas rodadas diplomáticas para reaquecer suas relações com antigos parceiros comerciais. Entre eles a Itália, onde esteve nos últimos dois dias, e a França, onde chega nesta quarta-feira (27) e será recebido com honras militares no hotel dos Inválidos. Mas afinal, o que mudou na República Islâmica dos aiatolás?

O presidente iraniano Hassan Rohani é recebido pelo primeiro-ministro italiano Matteo Renzi
O presidente iraniano Hassan Rohani é recebido pelo primeiro-ministro italiano Matteo Renzi REUTERS/Alessandro Bianchi
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À primeira vista, as imagem das esculturas de divindades nuas cobertas com caixas no museu do capitólio em Roma, não causaram estranheza. Num país com tantas obras de arte, é normal que algumas delas às vezes não estejam expostas ao público – quando são restauradas, por exemplo. Mas essa “medida” executada pelo premiê italiano Matteo Renzi tinha um intuito completamente diferente: “não ferir a cultura e a sensibilidade iranianas” do presidente Rohani e sua comitiva, convidados para jantar no local.

Esse episódio é a triste constatação de uma única realidade: nos últimos tempos, o Irã conseguiu passar uma imagem reformista e seduzir uma parcela dos ocidentais, mas continua sendo a nação onde a sharia, lei islâmica, e os aiatolás determinam presente e futuro dos cidadãos. É também o país onde condenados são executados no meio da rua. Mas afinal, o que é uma estátua coberta diante de € 17 bilhões de contratos assinados entre os dois governos?

Isso posto, é fato que o Irã é uma potência regional que não pode ser ignorada. Como escreve o jornal Le Monde em um editorial nessa quarta-feira, Paris tem razão em receber Rohani: o Irã é um país do futuro e uma potência regional. Mas a França não deve se equivocar sobre a natureza do regime iraniano: uma teocracia complexa e ambígua, ainda que decidida a se “abrir” ao Ocidente. Aproximar-se da potência xiita também é diplomaticamente essencial para “facilitar” o diálogo entre o país e a inimiga Arábia Saudita sunita, fonte das questões que hoje delineam os conflitos no Oriente Médio e que servem de celeiro para o terrorismo.

Em Paris, almoço sem vinho

Os franceses não se dobraram às exigências iranianas, nem agora e nem da última vez em que o protocolo do palácio do Eliseu, sede da presidência francesa, preparou uma visita de Rohani a Paris. Por ironia do destino, ela não aconteceu, já que estava marcada para o dia 17 de novembro, quatro dias depois dos atentados de 13 de novembro.

Na ocasião, Teerã teria pedido ao protocolo que retirasse as garrafas de álcool da mesa durante o almoço oficial. A França se recusou, e o almoço teria então sido cancelado. O caso nunca foi confirmado oficialmente, mas foi revelado pela rádio francesa RTL, citando fontes de empresários convidados. Desta vez, a solução foi excluir as refeições da agenda do presidente, evitando celeumas.

Amigo de Khomeyni, ele viveu na França antes da Revolução

O presidente iraniano é um “filho da revolução.” Nascido em Sorkheh, no leste de Teerã, ele foi educado no seminário, em Qom, lá mesmo onde está situada uma das centrais nucleares iranianas tanto tempo escondida dos inspetores da AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica). Já aos aos 18 anos, ele visita o futuro aiatolá Khomeyni, o futuro Guia da Revolução, em seu exílio em Nadjaf, no Iraque.

Doze anos mais tarde, depois de uma passagem por uma faculdade de Direito inglesa, ele volta a se encontrar com o futuro líder da revolução islâmica, em Neauphle-le-Château, em Yvelines. O que mostra bem sua proximidade com o regime e seus princípios.

Eleito ao Parlamento revolucionário em 1980, Rohani permanecerá durante anos na comissão de Defesa, durante e após a guerra contra o Iraque. Durante 14 anos, ele também será secretário do Conselho de Segurança Nacional, o que o levará a responder as questões dos inspetores internacionais a partir de 2003 sobre as suspeitas de fabricação de uma bomba atômica.

Foi nesse período que Rohani desenvolveu sua reputação reformista, pela capacidade política de negociar com o regime e os ocidentais. Em entrevista ao jornal Le Monde, o embaixador da França no Irã, François Nicollaud, diz que o chefe de Estado conseguiu obter a suspensão do enriquecimento de urânio com o aiatolá Khamenei “por sua própria conta e risco”. O resultado dessa capacidade de Rohani de transitar no mundo dos aiatolás e dos ocidentais pode ser visto hoje, em sua primeira visita oficial à Europa e a retomada de parcerias ocidentais com a França e a Itália.
 

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