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Síria

A rotina de violência das milícias femininas do grupo EI

Parte das mulheres que integram o Grupo Estado Islâmico na Síria e no Iraque compõe a violenta polícia islâmica criada pelos jihadistas para controlar as próprias mulheres. Segundo relato de uma refugiada síria que hoje vive na França, as brigadas punem mulheres consideradas “bonitas demais” ou que pintam as unhas. A rotina feminina no autoproclamado califado ainda inclui a criação das crianças, expostas a cenas cotidianas de decapitação.

Imagem de propaganda mostra mulheres armadas em local controlado pelo EI.
Imagem de propaganda mostra mulheres armadas em local controlado pelo EI. France info.fr
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A origem da polícia feminina seria, ironicamente, um grupo de prostitutas da cidade de Raqqa. Ao tomar a cidade iraquiana, em 2013, os jihadisas converteram prostitutas que trabalhavam nos inúmeros cabarés da cidade em milicianas. Com o tempo, a polícia feminina começou a ser ampliada com a chegada de centenas de mulheres de toda a Europa.

Um relatório confidencial dos serviços de inteligência franceses, obtido pela rádio France Info, também indica um aumento expressivo de mulheres de nacionalidade francesa entre os combatentes do grupo Estado Islâmico na Síria e no Iraque. Pelo menos 220 francesas estão atualmente nas áreas controladas pelo EI.

As mulheres representavam 10% dos franceses no grupo extremista em 2013. O número saltou para 35% em 2015. Segundo os dados, elas seriam basicamente de dois perfis: as que vão ao Oriente Médio para arranjar um marido jihadista e as que vão encontrar familiares que já estão em combate.

A principal função das mulheres no grupo Estado Islâmico é ter filhos para povoar o autoproclamado califado, e a maioria trabalha como dona de casa. As com maior escolarização atuam em funções da administração.

A jovem Haya Al Hali, que fugiu da Síria há um ano e meio e hoje vive na França, teve de enfrentar a brutalidade deste controle. “Se uma mulher comete um delito, a brigada de mulheres a coloca em um carro e a leva presa para ser açoitada”, conta Hali. Segundo a refugiada – que se diz opositora tanto do EI quanto do regime de Bashar al Assad –, torturas contra mulheres ocorrem em plena rua. “Utilizavam pinças de ferro para arrancar os seios das mulheres”, conta ela.

Futebol com cabeças humanas

Hali também relata as multas absurdas que seriam aplicadas por estas brigadas femininas. Haveria multas até mesmo para mulheres consideradas “bonitas demais” ou que pintam as unhas. “As mulheres que têm olhos bonitos são humilhadas por serem consideradas provocativas e sedutoras”, relata. As que se recusam a se casar com algum homem também são perseguidas e punidas pelas próprias mulheres.

Ao chegar no autoproclamado califado, as mulheres estrangeiras são abrigadas em casas chamadas "maqqars", de onde só podem sair depois de arranjar um marido. A francesa Sophie Kasiki (nome fictício) se juntou ao EI em 2015, após se converter. Arrependida, conseguiu retornar a seu país de origem, onde lançou um livro sobre o tempo em que viveu em uma maqqar. “É uma espécie de creche para mulheres”, contou Kasiki à France Info. Segundo ela, também há crianças que se habituam a ver na televisão imagens de decapitação.

Dounia Bouzar, co-fundador de um centro de prevenção à radicalização islâmica na França, relata que é comum ver nos telefones celulares de mulheres jihadistas que voltam da Síria e do Iraque cenas de barbárie. “Assim como os homens, elas trocam fotos segurando braços e cabeças de pessoas assassinadas. Em outras, aparecem ensinando crianças a jogar futebol com cabeças. E são meninas que um ano atrás estavam em escolas francesas”, afirma Bouzar.
 

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