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Linha Direta

Repórter da RFI no Curdistão iraquiano fala das perdas do EI

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A coalizão internacional liderada pelos Estados Unidos na luta contra a organização Estado Islâmico (EI) anunciou nesta semana que o grupo terrorista perdeu 30% do território na Síria e no Iraque. Em Arbil, capital do Curdistão iraquiano, a população não teme uma invasão dos jihadistas, apesar do EI estar a apenas 50 km de distância da cidade.

Curdos iraquianos tocam tambores em Arbil no centro da região autônoma curda do norte do Iraque, celebrando o nascimento do Profeta Mohammed, conhecido em árabe como "al-Mawlid al-Nabawi.23/12/15
Curdos iraquianos tocam tambores em Arbil no centro da região autônoma curda do norte do Iraque, celebrando o nascimento do Profeta Mohammed, conhecido em árabe como "al-Mawlid al-Nabawi.23/12/15 SAFIN HAMED / AFP
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Sandro Fernandes, em Arbil

O forte esquema de segurança em Arbil, a capital do Curdistão iraquiano, impressiona logo na chegada ao aeroporto. O controle de malas é muito rigoroso - amistoso, mas rígido. Brasileiros e pessoas de outras 45 nacionalidades, quase todos do chamado "Primeiro Mundo", não precisam de visto e podem ficar 15 dias na região.

O Curdistão iraquiano faz parte oficialmente do Iraque, mas funciona como uma entidade independente. Por exemplo, brasileiros não precisam de visto para o Curdistão, mas precisam de visto para Bagdá, que é a capital iraquiana.

Saindo do aeroporto, a primeira coisa que impressiona é o grande número de edifícios não terminados, alguns pela metade, outros menos, outros quase prontos. Arbil foi o destino de muitos investimentos de infraestrutura desde 2006, graças a uma lei de incentivo ao investimento estrangeiro, mas muitas dessas empresas saíram da cidade desde que começou a guerra para afastar o grupo Estado Islâmico da cidade.

Entre os prédios já terminados, chama a atenção a grande variedade de origem das empresas e do capital investido. Uma clínica odontológica dinamarquesa, uma placa de uma firma de construção civil italiana, uma rede de comida americana são alguns exemplos do investimento estrangeiro em Arbil.

Para refugiados, Arbil é um oásis de estabilidade e segurança

O Estado Islâmico já esteve a menos de 5 km de Arbil. Hoje, os jihadistas estão a mais ou menos 50 km de distância. A população leva uma vida normal e se sente segura porque confia muito no Exército curdo, o Peshmerga. As pessoas se mostram mais preocupadas com efeitos colaterais da guerra, principalmente os problemas econômicos, do que com a guerra em si e a insegurança. Todo mundo insiste em destacar que o Curdistão é uma região segura e que o EI não tem força suficiente para tomar a capital curda. A proximidade com Mosul, a maior cidade iraquiana sob controle do EI, também não parece assustar. Mosul fica a apenas 80 km de Arbil.

Para os padrões da região, o Curdistão é um oásis de estabilidade e segurança. Estimativas apontam que pelo menos 2 milhões de refugiados chegaram à região, a maior parte deles (85%) no último ano, provenientes da Síria ou de outras regiões do Iraque atacadas e controladas pelo EI. A maioria desses novos refugiados são de minorias religiosas, como os cristãos assírios, os yezidis e os muçulmanos xiitas, que são duramente perseguidos pelo Estado Islâmico. O Curdistão acaba sendo a nova casa dessas pessoas, pelo menos temporariamente, já que a maioria quer seguir para a Europa.

Guerra afugentou investimento estrangeiro

A questão econômica preocupa os curdos. Bagdá deixou de repassar recursos ao Curdistão. O preço do petróleo, que é o principal produto de exportação do Curdistão, recuou no último ano, além da saída das centenas de empresas estrangeiras afugentadas pela guerra. Soma-se a isso um grave problema de corrupção nas instituições locais. Tudo isso afeta a economia local. O PIB do Curdistão cresceu entre 7 e 8% nos últimos anos, mas todos estes fatores vão, sem dúvida, freiar esse crescimento. O Curdistão é a região mais desenvolvida do Iraque e com mais alta qualidade de vida.

Diante de tantos problemas econômicos, muitas pessoas querem emigrar e tentar a vida em outro país, principalmente os mais jovens. Um taxista de 25 anos relatou à reportagem que era policial, mas estava sem receber há cinco meses e decidiu virar taxista pra poder sustentar a família - esposa e um filho pequeno. O rapaz disse que se o visto para a Europa fosse mais fácil, ele já teria ido embora.

"Democracia parlamentar" local é criticada por ongs

O Curdistão iraquiano é uma democracia parlamentar e o presidente Masoud Barzani está no poder desde 2005. Ele foi eleito reeleito em 2009 e, em 2013, o Parlamento estendeu a sua presidência por mais dois anos. Em 2015, quando acabaria o mandato de Barzani, já com dois anos extras, os partidos políticos não chegaram a um acordo a respeito de uma nova extensão de mandato. Mas Barzani ficou no poder, o que gerou protestos nas ruas e crítica da oposição.

O líder do Parlamento, Youssif Muhammed, é do partido de oposição Gorran, que significa mudança. Mesmo sendo o líder da Casa, ele é muitas vezes impedido de entrar em Arbil para participar das sessões parlamentares. Youssif é frequentemente parado nos controles policiais, os check-points existentes entre as cidades da região. Muhammed mora em Sulaymanya, uma cidade onde a oposição é muito forte.

Segundo a Human Rigths Watch, jornalistas que criticam o governo sofrem ameaças, condenações injustas e muitos tiveram que deixar a região.

Na política externa, o Curdistão também vem pouco a pouco diversificando suas relações. Vinte e nove países têm consulado geral no Curdistão, incluindo Estados Unidos, França, Alemanha, Rússia, Reino Unido, Irã e Turquia. A Índia, a Armênia e a Arábia Saudita já anunciaram que vão abrir representações diplomáticas aqui no Curdistão. O Brasil tem um cônsul honorário na região.

 

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