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Pela primeira vez, mulheres se candidatam em eleições sauditas

A campanha das primeiras eleições abertas às mulheres na Arábia Saudita, que acontecem no sábado (12) em nível municipal, terminou nesta quinta-feira com poucas perspectivas de sucesso para as candidatas.  Mais de 900 mulheres, além de cerca de 6 mil homens, disputam dois terços das cadeiras nas assembleias locais, em um país extremamente restritivo em termos de direitos das mulheres. A Arábia Saudita havia realizado eleições para os legislativos locais em 2005 e 2011, mas só homens podiam se candidatar.

Candidata Fawzia al-Harbi apresenta sua biografia no site do Tribunal Eleitoral, em um shopping de Riad
Candidata Fawzia al-Harbi apresenta sua biografia no site do Tribunal Eleitoral, em um shopping de Riad REUTERS/Faisal Al Nasser
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O pleito representa uma abertura tímida na Arábia Saudita. Até porque, boa parte dos eleitores decide o voto com base em lealdades tribais. É o caso de Um Mohammed, uma mulher de 47 anos que foi entrevistada pela AFP em sua casa, perto da fronteira com o Kuwait. Ela assegura que, apesar de suas filhas terem trabalhado na campanha de uma candidata, votará em um homem.

"Votarei nele porque é de nossa tribo e defenderá nossos direitos. Tem bom caráter e nunca ouvimos nada de negativo sobre ele", disse. Acompanhada de seu marido, Um jantou com o candidato em uma tenda e acabou convencida por ele. Estas tendas tradicionais, onde os homens se reúnem, acabam fazendo as vezes de comitê eleitoral. Apesar de Um Mohammed já ter escolhido seu candidato, votar não será uma tarefa fácil para ela, uma vez que as mulheres não podem dirigir e em sua região não existem táxis, obrigando-a a ir junto ao marido ou a alugar um carro com um motorista homem.

Doutrina saudita é similar à do grupo Estado Islâmico

No país, as mulheres devem se vestir de preto da cabeça aos pés quando estão em público e necessitam da permissão de um membro masculino de sua família para viajar, trabalhar e se casar. A monarquia petroleira, um reduto do wahhabismo, doutrina sunita puritana baseada na interpretação literal do Alcorão, semelhante à adotada pelo grupo Estado Islâmico, está há décadas nas mãos dos Al Saud, família do atual rei Salman.

Sob o reino de Abdullah, antecessor de Salman que morreu em janeiro, houve uma pequena abertura e a campanha das municipais representou mais um passo, ainda que algumas candidatas tenham sido excluídas e outras tenham se retirado pela pressão que sofreram. Uma professora que vive no nordeste do país e que não quis ser identificada contou que sua candidata foi excluída por acusações de religiosos.

"Ela teve que se retirar porque os religiosos disseram que uma mulher não pode participar das eleições. Não creio que as mulheres ganharão muito poder caso vençam", declarou. Outro eleitor, um homem da cidade de Hafr al-Batin, no leste do país, usou um argumento machista para justificar sua decisão de não votar numa mulher: "Para entendê-las é preciso fazer um esforço adicional". Para um diplomata ocidental, "será uma grande surpresa" se uma mulher for eleita no sábado.

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