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Turquia acusa Rússia de tentar promover "limpeza étnica" na Síria

O primeiro-ministro da Turquia, Ahmet Davutoglu, acusou a Rússia de tentar promover uma "limpeza étnica" no noroeste da Síria e de fortaceler o grupo Estado Islâmico ao atacar grupos que Ancara classifica como moderados. A declaração é feita em um momento de forte tensão entre os dois países, desde que as forças armadas turcas abateram um caça russo na fronteira com a Síria, em 24 de novembro.

O premiê turco, Ahmet Davutoglu
O premiê turco, Ahmet Davutoglu REUTERS/Francois Lenoir
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De acordo com Davutoglu, os russos pretendem eliminar todos os "elementos indesejados" da região, majoritariamente ocupada por muçulmanos alauítas, fiéis ao presidente sírio Bashar al-Assad. O objetivo da suposta "limpeza étnica" seria assegurar as bases aérea e naval que a Rússia mantém na Síria: "Eles querem expulsar e limpar etnicamente esta zona para proteger as bases russas de Latáquia e Tartus, expulsando todas as populações sunitas e turcomenas, que não têm boa relação com o regime (de Damasco)", aliado de Moscou, disse o premiê.

Na mesma entrevista coletiva, concedida à imprensa internacional a partir de seu escritório em Istanbul, no palácio otomano Dolmabahce, no Bósforo, Davutoglu afirmou que os bombardeios que a Rússia iniciou no final de setembro estão "fortalecendo" o grupo Estado Islâmico, ao visar opositores "moderados" a al-Assad.

De acordo com o primeiro-ministro, apenas 10% dos ataques russos na Síria visaram o grupo Estado Islâmico, enquanto 90% foram contra "forças moderadas", e isso afeta as operações dos Estados Unidos. "Infelizmente, as operações russas não ajudam a eliminar o Daesh (sigla em árabe para a organização jihadista)", afirmou Davutoglu, citando o caso da cidade de Azaz, que é "um refúgio da oposição moderada aos jihadistas".

Evitar novos "incidentes"

Apesar das acusações, o premiê ponderou que o governo turco estaria pronto para trabalhar com Moscou para evitar um novo "incidente" como o do avião derrubado, que causou uma forte crise diplomática entre os dois países. O Kremlin insiste que o caça nunca invadiu o espaço aéreo turco, enquanto Ancara garante que os pilotos foram repetidamente advertidos da violação, antes de serem atacados. Para Davutoglu, o caso mostrou que "duas coalizões aéreas não podem atuar no mesmo espaço ao mesmo tempo, sem coordenação".

Moscou insiste na ilegalidade do disparo e, nesta quarta-feira, o presidente russo Vladimir Putin convidou especialistas britânicos para analisar a caixa-preta da aeronave. O Kremlin segue acusando Ancara de abater o avião para assegurar o tráfico de petróleo para dentro do território turco.

Em uma apresentação na semana passada, os serviços russos de inteligência exibiram imagens que mostrariam a conexão entre poços dominados pelos jihadistas na Síria e refinarias na Turquia. Moscou chegou inclusive a sugerir que a família do presidente Recep Tayyip Erdogan seria beneficiária deste comércio ilegal, lembrando que o filho do presidente é dono de uma das maiores companhias energéticas do país e o cunhado, ministro da Energia.

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