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Egito

Protagonismo francês no novo Canal de Suez passa pelos caças Rafale

Parecia uma premonição: a primeira foto de divulgação dos caças franceses Rafale, quando começaram a ser produzidos, foi clicada em um sobrevoo sobre as pirâmides do Egito, como lembra o jornal Le Monde desta quinta-feira (6). Os caças desfilam hoje novamente nos céus do Saara, desta vez como propriedade dos egípcios, na inauguração do novo Canal de Suez. A cerimônia tem o presidente François Hollande como convidado de honra.

Caças franceses sobrevoam a cerimônia de inauguração do novo Canal de Suez.
Caças franceses sobrevoam a cerimônia de inauguração do novo Canal de Suez. MOHAMED EL-SHAHED / AFP
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Muitos anos depois daquela primeira foto, no início deste 2015 o Egito se tornava o primeiro país do mundo a fazer uma encomenda dos aviões que são o orgulho da indústria bélica francesa. A partir daí, Paris e Cairo passaram a viver uma nova lua de mel. A inauguração do novo traçado do Canal de Suez domina as capas dos jornais franceses de hoje de forma desproporcional se comparado à imprensa de outros países.

Até porque a encomenda egípcia parece ter acabado com uma espécie de maldição que pairava sobre os Rafale: considerado caro e sofisticado demais, ninguém além da França estava disposto a comprá-lo – incluindo o Brasil, que desistiu depois de anos de negociações entre Lula e Sarkozy.

Lua de mel

Pois depois da compra do Egito, que desembolsou € 5,2 bilhões por 24 caças, a maldição parece ter se quebrado: o Catar encomendou outros 24 exemplares, a Índia já está com a caneta na mão para assinar o cheque por 36 aviões e as negociações também andam bem com Indonésia e Canadá, que poderá comprar 65 Rafales.

Além dos aviões, Cairo também encomendou uma fragata multimissão Fremm e mísseis de curto e médio alcance, com a exigência de que fossem entregues rapidamente. Começou aí uma grande mobilização francesa, com deslocamento de equipamentos de suas forças armadas. A fragata Normandie, inicialmente prevista para uso local, foi transformada em Tahya Misr (“viva o Egito”), e seis aviões que também deveriam voar em mãos francesas foram redirecionados para o negócio.

Inimigo maior: o islamismo

Com o novo arsenal, o presidente Abdel Fattah al-Sissi pretende enfrentar com maior efetividade as ofensivas do grupo Estado Islâmico em dois frontes contra o seu país: a fronteira com a Líbia e o Sinai. A visita de Hollande hoje para a inauguração do canal é uma retribuição por Sissi ter buscado a França, e não os Estados Unidos, na hora de reforçar seu poder bélico – e por ter batido o martelo em apenas cinco meses.

Na França, há críticas a esta aproximação com o Egito, e elas têm alvo específico: a situação dos direitos humanos no país diante da violenta repressão de Sissi contra os opositores, a maioria apoiadores do deposto Mohamed Morsi.

Mas estas críticas parecem ser eclipsadas por um problema supostamente maior, pensamento perfeitamente representado pelo editorial de capa do jornal Le Figaro de hoje: “os críticos se esquecem dos desafios que enfrenta este país milenar e os perigos que ameaçam a região. O marechal Sisi está ativamente engajado no combate contra o islamismo. (...) Este aliado deve ser apoiado, ainda mais agora que ele se esforça para ser uma potência econômica moderna”.

 

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