Dois dirigentes do Khmer Vermelho são condenados à prisão perpétua no Camboja
O tribunal de Phnom Penh condenou nesta quinta-feira (7) à prisão perpétua por crimes contra a humanidade os dois mais importantes dirigentes ainda vivos do regime do Khmer Vermelho. Esse movimento revolucionário controlou o Camboja de 1975 a 1979, sob a liderança de Pol Pot, provocando a morte de cerca de dois milhões de pessoas.
Publicado em:
Pol Pot aboliu a religião, as escolas e a moeda, esvaziou as cidades e enviou os habitantes a fazendas coletivas na zona rural. Os opositores do regime foram perseguidos em todo o país. Cerca de dois milhões de cambojanos, o equivalente a um quarto da população, morreu de exaustão, fome e doenças, ou ainda em consequência de torturas e execuções.
A ditadura do Khmer Vermelho foi derrubada em 1979 pelo Vietnã, aliado a ex-integrantes do movimento, como o atual primeiro-ministro do Camboja, Hun Sen.
Réus alegavam inocência
Khieu Samphan, condenado nesta quinta-feira à prisão perpétua, foi chefe de Estado durante a ditadura do Khmer Vermelho. No julgamento, ele se apresentou como um dirigente simbólico, ingênuo e excluído dos círculos de decisão do regime.
Aos 83 anos, Samphan não ofereceu nenhuma explicação, e ainda menos uma confissão, sobre as atrocidades cometidas no país entre 1975 e 1979.
O outro dirigente condenado, Nuon Chea, de 88 anos, era o braço direito de Pol Pot. Considerado o principal idealizador dos crimes cometidos pelo regime, ele se declarou inocente durante todo o julgamento.
Os defensores dos dois homens anunciaram logo após o veredito que vão recorrer da sentença.
Para tentar obter ao menos um veredito antes da morte dos acusados, o julgamento foi dividido. A condenação desta quinta-feira de Nuon Chea e Khieu Samphan foi por crimes contra a humanidade ligados aos deslocamentos forçados de população, em particular a evacuação em poucos dias e sob ameaças de dois milhões de habitantes da capital.
O segundo julgamento deles começou no final de julho e envolve outros crimes contra a humanidade e acusações de genocídio contra vietnamitas e a minoria muçulmana Chams.
Tribunal internacional
O Camboja e a ONU assinaram em 2003 um acordo para a criação das Câmaras Extraordinárias dentro dos Tribunais Cambojanos. Elas foram instaladas em 2006 e trabalham nas línguas khmer, inglesa e francesa.
As Câmaras Extraordinárias misturam o direito internacional e o direito cambojano, e as culturas jurídicas francesa e anglo-saxã. O mandato do tribunal permite que ele julgue os principais responsáveis do regime do Khmer Vermelho e os crimes cometidos entre 1975 e 1979. A pena de morte foi excluída, assim como as indenizações financeiras às vítimas.
Financiado majoritariamente pelo exterior, o tribunal, que até agora já gastou cerca de US$ 215 milhões (o equivalente a R$ 488 milhões), enfrenta constantemente a falta de dinheiro para realizar seu trabalho. Ele também é muito criticado pela lentidão e por supostos casos de ingerência do governo cambojano.
Pol Pot morreu em 1998, aos 73 anos, sem ser julgado. O mandato do tribunal se limita aos principais dirigentes do regime, e por isso milhares de funcionários menos graduados e combatentes nunca comparecerão diante da justiça.
NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.
Me registro