Exército egípcio sinaliza apoio a manifestações anti-Mursi
Cada vez mais pressionado, o presidente egípcio Mohamed Mursi vê sua posição política se desintegrar: nesta segunda-feira, a oposição deu um prazo de 24 horas para ele deixar o cargo, quatro de seus ministros pediram demissão e o exército exigiu que as reivindicações do povo sejam atendidas.
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Na tarde da segunda-feira, o exército tomou parte no conflito, para a alegria dos manifestantes que ocupavam a praça Tahrir, no Cairo. Em uma declaração veiculada pela televisão local, o coronel Ahmed Ali, porta-voz dos militares, pediu que as exigências do povo sejam atendidas em 48 horas. Se as reinvindicações não forem satisfeitas neste prazo, o exército apresentará um plano de ação.
Apesar de os militares não terem feito referência direta à demissão do presidente, principal reivindicação do movimento Tamarrod (rebelião, em árabe), que lidera as manifestações, a declaração foi encarada como favorável ao movimento. Logo depois do pronunciamento, os manifestantes começaram a gritar "Mursi não é mais presidente, Sissi está com a gente", em referência ao ministro da Defesa Abdel Fattah al-Sissi, cujo retrato apareceu ao fundo durante a transmissão.
Há uma semana, os militares deixaram claro que não permitirão que o caos se instale no país. Caso Mursi não renuncie, o Tamarrod promete um movimento generalizado de desobediência civil. No domingo, o presidente pediu novamente a abertura de um diálogo, proposta prontamente rejeitada pelos manifestantes: "não aceitamos outra alternativa que não o fim pacífico do poder da Irmandade Muçulmana e de seu representante, Mohamed Mursi".
Além do exército, o movimento que congrega movimentos de oposição laicos, liberais e esquerdistas, pede um posicionamento claro da polícia e do aparelho judiciário, o que significaria a ruína completa do governo, depois da debandada ministerial.
Entre os ministros demissionários, o titular da pasta do Turismo, Hicham Zaazou, já havia expressado sua vontade de deixar o governo no mês passado, para protestar contra a nomeação de Adel al-Khayyat como governador da região turística de Louxor. Al-Khayyat pertence a um partido islamita ligado a um grupo radical que, em 1997, reivindicou um atentado que matou 58 turistas estrangeiros nos arredores da cidade. Além de Zaazou, os responsáveis pelo Meio Ambiente, Comunicações e dos Assuntos Jurídicos e Parlamentares entregaram suas cartas de demissão ao primeiro ministro Hicham Qandil.
No domingo, 22 milhões de egípcios assinaram uma petição e 14 milhões foram às ruas exigir a "queda do regime", em um eco do movimento que, em 2011, derrubou Hosni Mubarak. Confrontos deixaram 16 mortos e quase 800 feridos. Metade das mortes aconteceu em choques entre partidários e opositores do presidente.
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