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Radar econômico

Airbnb completa 10 anos em cenário cada vez mais regulamentado

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A plataforma que nasceu em agosto de 2008 se tornou um dos maiores sucessos de economia colaborativa. Mas a empresa californiana tem enfrentado cada vez mais críticas. Em diversas cidades, o preço dos alugueis explodiu e muitos moradores tiveram que se mudar dos grandes centros. Em resposta, prefeituras, como a de Madrid na Espanha, decidiram impor regras cada vez mais duras ao Airbnb.

Parede com panfletos de protestos contra o Airbnb, Barcelona, Julho de 2018
Parede com panfletos de protestos contra o Airbnb, Barcelona, Julho de 2018 Creative Commons/Flickr
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Dividindo um apartamento em São Francisco, nos Estados Unidos, Brian Chesky e Joe Gebbia não poderiam imaginar que estavam prestes a lançar o maior site comunitário de acomodações do mundo. Em 2008, a cidade americana recebia uma conferência que lotou boa parte dos hotéis da região. Os dois estudantes americanos em design decidiram então anunciar na internet o espaço que tinham para acolher alguns participantes. Nascia então o Air bed and breakfast, que viria a se chamar pouco tempo depois Airbnb.

De lá pra cá, Brian Chesky e Joe Gebbia conseguiram captar U$ 3,4 bilhões em investimentos e o valor da empresa já ultrapassou a marca dos U$ 30 bilhões. Em 2017, o faturamento chegou a U$ 2,6 bilhões e a empresa americana pretende bater a meta de U$ 3,6 bilhões neste ano.

Para explicar o sucesso, é preciso lembrar daquela velha máxima: “no lugar certo, na hora certa”. Airbnb nasceu em uma hora propícia, junto com a chegada do iphone, outro grande sucesso comercial, que ajudou a democratizar o acesso à internet. “As empresas como Uber e Airbnb são emblemáticas por terem conseguido levar à terceira fase da internet na história, permitindo que o mundo digital invadisse o mundo real”, escreveu Brad Stone, autor de “The Upstars”, um livro que conta a ascensão dessas duas empresas, nascidas quase ao mesmo tempo.

Outro fator essencial para o sucesso da plataforma, foi conseguir criar um cenário de confiança para convencer milhares de pessoas de dormir na casa de desconhecidos. Isso só foi possível com o sistema de avaliações baseados em perfis verificados.

Polêmicas

Mas o sucesso da plataforma também está cercado de polêmicas. Grupos hoteleiros foram os primeiros a denunciar uma concorrência desleal, já que os impostos aplicados aos hotéis não eram cobrados do Airbnb.

Mas a discussão mais importante girou em torno do mercado de aluguel, que em algumas cidades, quase desapareceu. A pesquisadora do Núcleo de Direito e Democracia do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento, mestre e doutoranda em Direito pela Universidade de São Paulo, Bianca Tavolari, conta que ninguém esperava um impacto tão grande nesse mercado. “Demora um pouco para que os proprietários vejam as vantagens em colocar seus imóveis para alugar na plataforma. Mas a partir do momento em que isso começa acontecer de maneira massiva, a falta de regulação começa a ser um problema”, explica Bianca.

Em muitos países, como no Brasil, a burocracia do mercado de aluguel tradicional foi um dos motivos para esse fenômeno. “Os contratos, com cláusulas contratuais, de despejo, de reajuste de preço, de duração, fizeram com que muitos optassem pelo Airbnb. O problema é que se todo mundo começa a fazer isso, eu deixo de ter um mercado de aluguel em áreas bem localizadas”, afirma a pesquisadora.

Bairros sem moradores

A análise que Bianca Tavolari fez sobre o Airbnb e os impasses regulatórios para o compartilhamento de moradia se tornou referência no assunto e foi publicado no livro "Economias do compartilhamento e o direito". Ela explica que, em muitas cidades, o preço dos alugueis explodiu e muitos moradores tiveram que se mudar dos grandes centros.

A pesquisadora lembra que em 2014, o procurador de Nova Iorque, Eric Schneiderman, chegou a solicitar um relatório sobre os efeitos do aplicativo na cidade. Os dados revelaram que alguns bairros de Manhattan já não possuem mercado de aluguel tradicional. “Ou você é proprietário ou é turista. Você não consegue mais viver lá como morador da cidade querendo alugar um imóvel”, explica. Com a chegada de turistas em massa, que “não se importam em pagar mais para ficar em um lugar bem localizado, cria-se um problema de longo prazo no planejamento de moradias nas cidades”, analisa Bianca.

Regulamentação

A grande maioria das cidades na Europa decidiu restringir o uso da plataforma. Paris, por exemplo, limitou o aluguel pelo Airbnb a 120 dias por ano e já está aplicando multas aos proprietários que não respeitam a regra.

Barcelona foi além e passou a multar o próprio Airbnb. “A prefeitura começou a exigir um cadastro de quem quer alugar seu imóvel pela plataforma. Com isso, pôde negar pedidos em áreas saturadas. Mas onde a cidade se destacou, foi na fiscalização. Enquanto a maioria das capitais multa o dono do imóvel em caso de irregularidades, Barcelona passou a aplicar multas milionárias diretamente ao Airbnb. O que colocou em debate sobre a responsabilidade da plataforma que até então se dizia uma simples intermediadora”, explica a pesquisadora.

Outra cidade espanhola, Palma de Maiorca, passou a proibir o Airbnb e desde o mês passado começou a aplicar multas de € 40 mil em quem continua alugando seu apartamento pela plataforma.

Talvez todo esse debate fez com que o Airbnb começasse a diversificar seu portfólio. Desde 2016, a empresa passou a vender atividades e experiências culturais e em breve vai disponibilizar novas opções de alojamento, incluindo quartos em pequenos hotéis.

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