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Internet ajudou a criar manifestações de revolta sem líderes, diz psicanalista Ana Costa

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A Maison de l’Amérique Latine em Paris organizou nesta terça-feira (7) um debate intitulado “O Homem revoltado de nossos tempos”. Trocadilho com o título da obra do escritor e filosofo francês Albert Camus (1913-1960), o evento aborda a questão das revoltas e dos fenômenos de massa contemporâneos sob o prisma da psicanálise. Para a professora Ana Costa, autora de “Litorais da Psicanálise”, prêmio Jabuti em 2016, e que participou da discussão, a internet é um dos principais elementos na transformação das novas formas de se exprimir coletivamente.

A psicanalista Ana Costa nos estúdios da RFI.
A psicanalista Ana Costa nos estúdios da RFI. RFI
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Quando Freud abordou o conceito de massas organizadas, o pai da psicanálise situou sua análise em torno de instituições como a Igreja ou o Exército. Outros autores se concentraram no papel dos líderes, que encarnavam uma fonte de inspiração capaz de instigar revoltas coletivas. Porém, com o passar do tempo, o que se tem visto cada vez mais são as revoltas sem líderes.

Para a professora da pós-graduação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e membro da Associação Psicanalítica de Porto Alegre, um dos elementos que contribuiu para essa transformação foi o desenvolvimento da internet. “Ela permite que as manifestações sem líderes sejam muito mais frequentes e possam se expandir”, afirma.

Uma das razões, lembra a professora, é que, do ponto de vista psicológico, é muito mais fácil se revoltar e se manifestar quando se está protegido atrás de uma tela de computador. “A internet tem algo que afasta o sujeito de procurar relações concretas. É como se esse mundo virtual fosse suficiente para viver a vida”, analisa. “É como se você pudesse se expressar imediatamente, dizer qualquer coisa, sem que isso tenha maiores consequências. Mesmo se aos poucos isso vai tendo consequências no nosso mundo”, pondera.

Porém, a psicanalista lembra que para que uma massa se una, é necessário um “sentimento de revolta compartilhado”. “O que reúne os indivíduos não é a busca de um ideal a ser alcançado, mas a reação a uma imagem de passividade, de humilhação, de submissão.”

Além disso, Ana Costa ressalta que as revoltas não têm necessariamente um programa de início, mas podem servir a fins políticos diversos. Para explicar o conceito, a psicanalista usa o exemplo dos protestos de 2013 no Brasil, que culminaram no impeachment da presidente Dilma Rousseff. “As manifestações começaram por causa da alta dos preços das passagens. Mas aos poucos foram reunindo uma série de pessoas que não estavam interessadas nisso, mas sentiam revolta com relação à presidência, à condição do Brasil, algo mais amplo.”

(Ouça a entrevista completa clicando na foto acima)

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