"Hercule Florence foi um inventor isolado da fotografia": Boris Kossoy, historiador
Publicado em:
Ouvir - 07:45
A fotografia é uma grande paixão na vida de Boris Kossoy, teórico e historiador da matéria, professor-titular da ECA - Escola de Comunicação e Artes da USP, na qual também é coordenador do Núcleo de Estudos Interdisciplinares de Imagem e Memória, e doutor pela Escola de Sociologia e Política de São Paulo.
Com diversas obras publicadas, Boris Kossoy veio a Paris fazer uma conferência na Fundação Calouste Gulbenkian sobre o francês Hercule Florence, que viveu no século XIX (1804 -1879), e sobre o qual escreveu um livro "A descoberta isolada da fotografia no Brasil". A primeira versão em português foi escrita há 40 anos, sendo publicada em seguida em diversos países, com previsão de lançamento nos Estados Unidos no fim de 2017.
A conferência do professor, em Paris, coincidiu com a saída do seu livro na França, pela editora Harmattan, cuja apresentação foi feita por Paul-Louis Roubert, presidente da Sociedade Francesa da Fotografia, e André Gunthert, da Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais.
O francês Hercule Florence é reconhecido hoje como um dos inventores da fotografia, através de suas experiências inéditas realizadas com materiais fotossensíveis, com processos de fixação de cópias em papel, a partir de 1833. Nesta época, ele vivia no Brasil, onde chegou aos 20 anos, como marujo, e acabou ficando. Depois de fazer alguns amigos, Florence soube de uma expedição científica, e se interessou: "Era o momento das expedições que vinham pós-independência, o Brasil se abria para o mundo exterior, eram muitos naturalistas, biólogos, filósofos, enfim, Florence se encanta com a ideia de participar desta expedição chamada Langsdorff, que percorreu o Brasil durante quatro anos, e foi até a Amazônia por via fluvial", conta Boris Kossoy, lembrando que ele encontrou sua futura esposa na época e acabou ficando no país.
A invenção de Hercule Florence começou de forma surpreendente. "Nesta viagem pelo Brasil, ele toma nota dos sons dos animais, como se fossem escalas musicais e decide fazer um estudo com o nome de zoofonia, e decide imprimir esse estudo. Aí ele cai na realidade e se dá conta de que não há impressoras na província do estado de São Paulo. E, então, ele acaba desenvolvendo um processo de impressão, ao qual deu o nome de poligrafia, que seria o mimeógrafo de hoje", explica o professor, observando que ele sempre buscava imprimir com meios baratos e menos complicados do que a litografia, que estava no auge.
"Então, em janeiro de 1833, ele começa a fazer impressos pela ação da luz sobre papel sensibilizado com nitrato de prata. Ele começa a desenvolver esse processo fotográfico de impressão, realiza imagens pela câmara obscura, que é o embrião da câmara fotográfica, e ele está desenvolvendo, simplesmente, um processo fotográfico no meio do nada", analisa o professor.
Suas pesquisas caíram no anonimato durante 140 anos e foi nos anos 70 que Boris Kossoy provou historicamente e tecnicamente, a descoberta de Hercule Florence. O material foi examinado nos Estados Unidos pelo Rochester Institute of Technology, que comprovou a possibilidade real, química, da realização dessas experiências.
Kossoy ressalta que, em nenhum momento, está reivindicando a invenção da fotografia por Hercule Florence: "Isso seria uma bobagem do tamanho de um bonde. Ele é um inventor isolado de um processo fotográfico, como existiram outros como os famosos franceses Daguerre [Louis Daguerre], Niépce [Joseph Nicéphore Niépce], o inglês Fox-Talbot...", relata o historiador, concluindo, satisfeito, que " a descoberta dele está aí, sendo reconhecida no mundo inteiro, e é essa a ideia".
Boris Kossoy foi recompensado em 1984 com a condecoração Chevalier de l' Ordre des Arts et des Lettres do Ministério da Cultura e da Comunicação da França, pelo conjunto de sua obra.
Veja o vídeo da entrevista com Boris Kossoy
NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.
Me registro