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A Semana na Imprensa

Suspense político entre os dois turnos mostra que a França mudou

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Sete de maio é o dia D para a França, o dia do segundo turno de uma eleição presidencial única, histórica, marcada por um cenário inimaginável até a posse de François Hollande, há cinco anos: a ausência dos dois partidos tradicionais do país, a direita e a esquerda. Algo nunca visto, "du jamais vu", como se diz em francês.

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Emmanuel Macron, do centro, com seu movimento Em Marcha! fundado há somente um ano, e Marine Le Pen, da extrema-direita, com sua tradicional Frente Nacional, disputam com unhas e dentes o momento de fazer as malas e se mudar para o Palácio do Eliseu.

E é justamente este momento de suspense político entre os dois turnos que foram abordados por editoriais das revistas L'Express e L'Obs desta semana, chamando minha atenção pelas análises e reflexões.

L'Express: "Segundo turno parece outra eleição"

A semanal L'Express faz uma comparação entre o primeiro e segundo turno, que me lembra duas grandes telas pintadas por mestres. A imagem do primeiro turno representa, segundo o editorialista Christian Makarian, "um teatro político sem igual aos olhos dos democratas, como uma ópera permanente que associa no palco debates eleitorais entre candidatos, intelectuais, escritores, artistas. É todo o país que se concentra na escolha decisiva de seu chefe de Estado, mesmo se este tem cada vez menos poder nas mãos. "Um universalismo trágico e divertido", reflete Makarian, apontando o que chama de "leque alucinante" de candidatos no primeiro turno, 11 ao todo. Resumindo, o primeiro turno do domingo, em 23 de abril, é o que dá medo, com Marine Le Pen, mas também o que faz rir, com seus candidatos de menor força, mas ofensivamente "french".

Um espetáculo único e oposto ao clima atual antes do segundo turno, carregado de tanto temor de populismo e de dúvidas, que até parece uma outra eleição. Atrás das bases da identidade nacional, sendo a laicidade a primeira delas, surge a questão universal feita pelo L'Express: diante dos perigos que a globalização traz, como vai se expressar a protetora democracia francesa diante da pulsação populista, tanto de esquerda quanto de direita? A revista lembra a imagem dada pelo Wall Street Journal sobre esta eleição: "O combate mais importante já visto entre a globalização e opopulismo".

Concluindo, L'Express considera que este é o momento da tomada de consciência indispensável para a França. Chegou a hora de dizer adeus à velha República socialista, sem medo de perder a soberania, ao contrário, se preparando para crescer.

L'Obs: "Segundo turno, duas Franças"

O editorialista Matthieu Croissandeau, da revista L'Obs, concorda, apontando que uma nova era começa. Levando Marine Le Pen e Emmanuel Macron ao segundo turno, os franceses enviaram um recado claro aos partidos e políticos que dividiram o poder nos últimos cinquenta anos. As regras da Vª República estão caducas e o jogo do "desta vez sou eu, desta vez é você" não funciona mais.

O autor reflete que neste momento antes do segundo turno, pairam no ar as necessidades de um profundo desejo de renovação e uma demanda real de proteção. Macron promete mudar tudo, Le Pen promete fechar tudo. Na mesa, a escolha é difícil e antagônica: abertura e fechamento, modernidade ou tradição, liberalismo ou protecionismo, otimismo ou pessimismo, Europa ou nacionalismo.

Segundo turno, duas propostas, duas Franças. O editorial da L'Obs também lembra a ascensão impressionante da Frente Nacional, e os apelos pelos votos contra a extrema-direita deixam no ar, neste segundo turno, um perfume de revolta e amargor.
 

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