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Para Libération, Lula é “um ícone despedaçado”

A suspensão da posse do ex-presidente Lula como ministro da Casa Civil e as manifestações contra sua entrada no governo ganham ampla repercussão na imprensa francesa desta sexta-feira (18).

Dilma Rousseff e Lula durante durante a cerimônia de posse do ex-presidente como ministro da Casa Civil, em Brasília.
Dilma Rousseff e Lula durante durante a cerimônia de posse do ex-presidente como ministro da Casa Civil, em Brasília. REUTERS/Adriano Machado
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"Um ícone despedaçado”. Esse é o título da reportagem de duas páginas dedicadas pelo Libération para falar da situação atual do ex-presidente Lula. Os mitos também podem morrer. Com essa frase, a correspondente do jornal em São Paulo, Chantal Reyes, começa sua extensa reportagem sobre o impacto e as repercussões da entrada de Lula no governo e de seu envolvimento nas investigações da operação Lava Jato.

Depois de deixar o poder de maneira gloriosa, ele se tornou um homem político como outro qualquer, envolvido em casos de corrupção e denúncias de enriquecimento pessoal.

Líder histórico do Partido dos Trabalhadores (PT), aclamado no mundo inteiro por seu charme, seu carisma e seu sucesso por ter tirado 40 milhões de pessoas da pobreza em seus dois mandatos, Lula agora tenta escapar da prisão, algo impensável até mesmo por seus adversários.

Na noite de quarta-feira, uma brincadeira agitava as redes sociais sobre o autor da seguinte frase: "No Brasil, quando um pobre rouba, ele vai parar na cadeira. Mas quando um rico rouba, ele vai parar na prisão". A resposta é Lula. Ele pronunciou esta frase em 1988 quando era o líder incorruptível da oposição de esquerda, lembra Libération. Agora, seus adversários lançam a frase contra ele mesmo.

Libération informa que o ex-presidente é acusado de ter aceitado o cargo de minsitro de Dilma Rousseff para escapar de Sérgio Moro, um juiz implacável, segundo o jornal, e responsável pelas investigações dos desvios de verbas da Petrobras.

De acordo com Libération, sua entrada no governo três dias depois das manifestações de rua contra Dilma Rousseff, foi vista pela imprensa brasileira como um provocação e até como um golpe. Brasileiros furiosos foram às ruas e a manobra pode não dar certo porque sua posse no cargo de “superministro” foi suspensa provisoriamente pela justiça.

A direita, em princípio intimidada pelo prestígio do ex-presidente, acordou, escreve Libération, que também faz referência ao termo "coxinha", atribuído aos filhinhos de papai. O PT, denuncia uma caça às bruxas dos conservadores para afastar Lula de uma possível candidatura nas eleições de 2018.

Citando editorialistas da grande imprensa, Libération diz que no ministério Lula “mataria dois coelhos com uma só cajadada”: salvaria o governo de sua herdeira política e prepararia terreno para voltar ao poder nas próximas eleições. Aa comentar o vazamento das conversas entre Dilma e Lula, Libération diz que o juiz Sérgio Moro demonstrou habilidade do timing político e elevou a crise política a um outro nível.

A destituição da presidente Dilma seguirá seu curso no Congresso e tudo vai depender agora do PMDB, segundo o jornal. Mas a decisão é difícil, visto o número de políticos do partido envolvidos no Petrolão. Libération concluiu o artigo com uma fórmula considerada menos traumática pelo presidente de Senado Renan Calheiros: um parlamentarismo à brasileira, ou seja, manter a presidente Dilma Rousseff no cargo até o final de seu mandato, mas com um ministro da Casa Civil escolhido pelos congressistas.

Críticas a Sergio Moro

Le Figaro informa que a nomeação de Lula foi contestada. Logo depois de tomar posse sua entrada no governo foi suspensa por um juiz. “O medo começa a tomar conta do Brasil”, alerta a correspondente jornal Lamia Oualalou. Medo de ser agredido nas ruas por não pensar igual a seu próximo e também de ver o país no vazio diante da batalha final pela decisão de manter ou não de Dilma Rousseff no cargo.

Desde quarta-feira, o país assiste uma troca de acusações entre o governo e a justiça, informa o jornal, ao comentar também o vazamento das escutas telefônicas entre Dilma e Lula. As manifestações espontâneas aconteceram no país. Tudo isso generosamente divulgado pela TV Globo, a principal do país, que faz campanha aberta pela queda de Dilma, escreve Le Figaro.

A atitude de Sérgio Moro choca. Um juiz de primeira instância não tem o direito de colocar um presidente sob escuta, escreve Le Figaro. Além de ilegais, o jornal lembra que as gravações foram feitas duas horas após o juiz ter pedido a interrupção das escutas. Le Figaro traz os argumentos de defesa de Moro, mas lembra que a Ordem dos Advogados do Brasil reprovou o comportamento do magistrado, "típico de estados policial", e considera um risco para a soberania nacional.

Mercados contam com queda de Dilma

O jornal Les Echos se refere à situação como uma descida ao inferno para a presidente Dilma. A divulgação das escutas telefônicas entre ela e Lula criaram uma forte tensão no Brasil e elas confirmam, segundo o jornal, que a entrada de Lula no governo foi decidida para protegê-los das investigações de corrupção.

A revelação do diálogo fragiliza ainda mais a presidente petista. Les Echos diz ainda que em outras escutas, Lula pede a seus colaboradores que façam pressão sobre os juízes da Corte Suprema e até insinua que o procurador-geral da República lhe deveria um favor.

Les Echos informa que economistas e investidores temem que de uma recessão o Brasil entre em uma profunda depressão econômica. Os mercados, diz o jornal, apostam no final do governo petista.

 

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