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Linha Direta

Eleições legislativas no Irã colocam governo de Rohani à prova

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Os iranianos vão às urnas nesta sexta-feira (26) escolher o novo parlamento do país e a assembleia dos especialistas. As eleições, que acontecem poucos meses depois do fim do embargo ao Irã, são uma espécie de termômetro para o governo moderado do presidente Hassan Rohani, no poder desde 2013.

O presidente iraniano, Hassan Rohani, votou na manhã desta sexta-feira (26).
O presidente iraniano, Hassan Rohani, votou na manhã desta sexta-feira (26). Reuters
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Sandro Fernandes, correspondente da RFI, especial do Irã

A população elege hoje 290 representantes do Majlis, o parlamento iraniano, e votam também para a Assembleia dos Especialistas, um corpo clerical encarregado de nomear o próximo líder supremo da República Islâmica do Irã.

Por mais de uma década, os conservadores estavam à frente destas instituições, mas a vitória de Hassan Rohani em 2013 começou a alterar esta linha política. O atual presidente tem um governo moderado, mas o parlamento, que foi formado no governo de Mahmoud Ahmadinejad, ainda é conservador. Mas as eleições de hoje podem mudar a cara do parlamento para que ele esteja alinhado com a política moderada do presidente Rohani.

Para o presidente, essas eleições são uma maneira de ratificar seu governo, que conseguiu assegurar o acordo nuclear que levou ao fim do embargo, apesar da oposição da ala mais radical e conservadora. Estas eleições também vão mostrar se há possibilidade para uma reeleição de Rohani em 2017. Ele também é candidato para a Assembleia de Especialistas, aparecendo em segundo lugar nas listas.

Metade dos candidatos foi desqualificada

Todos os pré-candidatos foram submetidos ao Conselho Guardião, grupo de cléricos e juristas próximos ao supremo líder. Neste ano, 12 mil pessoas se apresentaram à lista, mas a metade foi desqualificada, entre elas, muitas importantes figuras reformistas.

Isso chegou a levantar rumores de que a ala reformista iria boicotar estas eleições. Mas eles notaram que a abstenção acabaria se voltando contra eles e que apenas deixaria espaço para uma vitória fácil dos conservadores.

A família de um dos principais líderes da oposição, Mehdi Karroubi, que está sob prisão domiciliar, disse que as pessoas têm que participar das eleições e apoiar os reformistas. Muitos políticos prisioneiros do Irã enviaram mensagem estimulando as pessoas a não boicotar as eleições e votar pelos candidatos não-conservadores.

Escolha do líder supremo

Tradicionalmente, as eleições para a assembleia dos especialistas não são tão importantes. Mas, neste ano, devido à idade avançada do aiatolá Ali Khamenei, 76 anos, há uma grande chance de que os 88 membros eleitos para um mandato de oito anos sejam aqueles que vão escolher o próximo líder supremo, o sucessor de Khamenei.

A ala reformista do Irã apoia o aiatolá Rafsanjani, ex-presidente do Irã, e tenta bloquear a entrada de três líderes ultraconservadores.

Eleitores iranianos estão apáticos e pessimistas

Apesar de o governo e da tímida oposição reformista tentarem convencer as pessoas a votar, o clima nas ruas é de apatia. Nas grandes cidades, há um medo de uma vitória conservadora no parlamento, que dificultaria ou impediria as reformas planejadas pelo presidente Rouhani.

Ao mesmo tempo, há uma espécie de pessimismo entre as pessoas, que acham que as eleições não vão alterar nada na vida do cidadão iraniano. Várias pessoas acreditam que o grande problema do país é a corrupção, e que ela seria mais grave até mesmo que os problemas geopolíticos que o país enfrenta.

O Irã trava uma batalha de poder regional com a Arábia Saudita e os iranianos acreditam quase em consenso que os sauditas são os responsáveis pela criação do Daesh, o grupo Estado Islâmico.

Em meio a uma economia fragilizada por causa da extrema dependência do petróleo, aliado à incerteza com o fim do embargo, a ameaça do Daesh e a hostilidade com a vizinha Arábia Saudita, os iranianos parecem ter poucos motivos para otimismo.

Além disso, muitos iranianos não estão a par das eleições de hoje. O período de propaganda eleitoral aqui no Irã é pequeno, não dura nem um mês.

Fim do embargo não afeta iranianos

O anúncio do fim do embargo parece despertar mais ceticismo do que otimismo entre os iranianos. A maioria deles tem ainda muita desconfiança do Ocidente e muitos falam que a decisão vai beneficiar mais as empresas ocidentais e a uma pequena elite local do que a população como um todo.

Mas há uma esperança de que o fim do embargo melhore algumas coisas na vida prática do cidadão comum. Com a inflação galopante, a população acredita que uma queda dos preços é o que pode mostrar que o fim do embargo representou mudanças. Enquanto isso não acontece, os iranianos falam com desconfiança sobre a questão.

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