Partido Socialista francês está à beira de um racha, diz imprensa
A guerra interna no Partido Socialista francês está nas manchetes de todos os jornais desta quinta-feira (25). Eles repercutem o longo artigo publicado no jornal Le Monde pela prefeita de Lille, Martine Aubry, com críticas severas à política do atual governo.
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Para Le Figaro, a reforma da legislação trabalhista proposta pelo governo de François Hollande foi a gota d'água para a explosão de Martine Aubry, ex-secretária geral do Partido Socialista e uma das líderes históricas e mais emblemáticas da esquerda francesa.
Além da reforma trabalhista, Aubry desfilou outras críticas como a discussão sobre a retirada da nacionalidade de franceses condenados por terrorismo e a postura do governo em relação aos refugiados.
Le Figaro afirma que as "críticas violentas" de Martine Aubry não assustam o primeiro-ministro Manuel Valls nem o presidente François Hollande. No entanto, a situação vai exigir do atual secretário-geral do PS, Christophe Cambadélis, um verdadeiro exercírio de equilibrista, na medida em que ele vai ter que aparar as arestas dessa fissura entre os socialistas.
Em editorial, Le Figaro lembra que Martine Aubry foi quem introduziu na França o sistema de 35 horas semanais de trabalho, uma "lei suicida" na opinião do jornal pois tirou a competitividade do país e não produziu os efeitos esperados de criar mais postos de trabalho no mercado.
Hollande deve ignorar esses companheiros de partido e seguir em frente com sua primeira verdadeira reforma do mandato, defende Le Figaro.
Partido rachado
Libération diz que a crítica violenta de Martine Aubry contra a política do governo expõe de maneira muito explícita o racha que se instalou dentro do Partido Socialista entre uma "esquerda social" e uma "esquerda liberal".
Em seu editorial, Libé diz que o enfrentamento ficou mais claro entre duas linhas políticas dentro da chamada esquerda reformista: a social-liberal modernista representada pelo primeiro-ministro Manuel Valls e a social-democracia clássica simbolizada por Martine Aubry.
Diante dessa situação, o presidente Hollande tem duas opções: a primeira é usar o "método Valls", uma expressão apontada pelo jornal em referência à conhecida estratégica do primeiro-ministro de deixar a polêmica esfriar com o passar do tempo. O risco, neste caso, é instalar uma divisão na esquerda e terminar o atual mandato de maneira amarga e cheia de rancores.
A outra opção é ceder em alguns pontos para evitar a implosão do partido. Libération sugere que a realização de primárias para designar o candidato do partido à presidência do ano que vem é a melhor opção para verificar qual é de fato a linha majoritária do PS. É difícil e complicado, sem dúvida, mas o "suicídio político é o caminho mais simples", diz o jornal.
Tempestade na cúpula do Estado
Para Le Parisien, as críticas de Aubry criaram uma situação embaraçosa para François Hollande, que se encontra em viagem oficial na América do Sul. A delegação presidencial demonstrou nervosismo na quarta-feira (24) e alguns membros do entorno de Hollande admitem que o texto assinado por Aubry e outras 17 personalidades de esquerda trazem muito desconforto.
Mas a situação tende a tornar ainda mais delicada a relação do presidente com seu primeiro-ministro. Segundo uma fonte do Le Parisien, Hollande não estaria muito satisfeito com Manuel Valls. A reforma da legislação trabalhista com uma linha fortemente liberal é vista como uma tentativa do premiê de mostrar força, o que irrita Hollande. O presidente considera, segundo o jornal, que o premiê vai longe demais e não respeita totalmente sua linha política. Tudo isso com a eleição presidencial de 2017 como pano de fundo, daí o aviso do jornal em sua manchete: "Alerta para tempestade na cúpula do Estado".
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