Oposição síria e regime al-Assad iniciarão negociações em janeiro
Os principais grupos da oposição síria chegaram nesta quinta-feira (10) a um acordo sobre as bases de uma negociação com o regime de Damasco para encontrar uma solução política para o conflito sírio que já dura mais de cinco anos. Os opositores, no entanto, continuam determinados a exigir a saída do presidente Bashar al-Assad. Nos primeiros dias de janeiro, oposição e regime se encontrarão pela primeira vez.
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"Alcançamos um acordo sobre uma visão unificada do processo de solução e sobre uma alta instância das negociações" com o regime, declarou Souheir al-Atasi, líder da Coalizão Nacional, principal órgão político da oposição, sediado em Istambul na Turquia. Outros dois opositores confirmaram o acordo, assinado pelos participantes da conferência de Riad. A reunião, presidida por Abdulaziz Sager, um saudita que dirige o Gulf Research Centre em Genebra, aconteceu a portas fechadas em um um hotel luxuoso da capital da Arábia Saudita.
No comunicado emitido ao final do encontro, os opositores se disseram "prontos a entrar em negociações com representantes do regime com base na declaração de Genebra 1 (30 de junho de 2012) e nas resoluções internacionais pertinentes (...) em um prazo a ser definido com a ONU", mas exigiram "Bashar al-Assad e seu bando se retirem do poder no início do período de transição política" na Síria.
A conferência de Genebra 1 entre as grandes potências evocou uma transição na Síria, mas não definiu o futuro de Assad. Para que o processo de paz seja iniciado, os grupos de oposição demandam "medidas de confiança", como a libertação de presos, suspensão de condenações à morte, facilitação do fornecimento de ajuda humanitária, retorno dos refugiados e o fim dos bombardeios das áreas civis.
Permanecem tensões religiosas em meio aos opositores
"Na nova Síria", segue o documento, não haverá espaço para discriminação ou exclusão "com base em religião, credo ou etnia". O texto promete também a preservação das instituições do Estado e a restruturação do exército e dos serviços de segurança.
O grupo islamita Ahrar al-Sham, movimento armado mais poderoso a participar da cúpula, havia anunciado que se retiraria, mas acabou assinando a declaração final, não sem criticar o espaço "exagerado" dado ao Comitê Nacional, considerado pelos islamitas como demasiadamente próximo de al-Assad. O Ahrar al-Sham também criticou que a conferência não tenha dado importância suficiente à "identidade muçulmana" do povo sírio.
Este é o primeiro encontro formal entre as principais forças armadas e políticas da oposição desde o início do conflito sírio em 2011, uma guerra que provocou 250.000 mortes e o êxodo de milhões de sírios. Antes do fim da conferência, o secretário de Estado americano, John Kerry, considerou que o diálogo acontecia de "maneira muito construtiva". Por sua vez, o Irã, aliado do regime sírio, denunciou a reunião de Riad.
Ficaram de fora deste encontro as organizações consideradas terroristas como os jihadistas rivais do grupo Estado Islâmico (EI) e da Frente Al-Nusra, o braço sírio da Al-Qaeda. Os grupos curdos, que compõem a principal força terrestre contra o grupo Estado Islâmico, também não foram convidados e organizaram na Síria uma reunião paralela com outros movimentos opositores sobre o futuro político do país.
Os países que tentam ajudar no processo (Estados Unidos, Rússia, Arábia Saudita, Irã e países europeus) estabeleceram um calendário que prevê um encontro a partir de 1º de janeiro entre representantes da oposição síria e o regime de Damasco, antes de um cessar-fogo, a formação de um governo de transição em seis meses e a celebração de eleições em um prazo de 18 meses. A próxima reunião internacional deveria acontecer em 18 de dezembro em Nova York.
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