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Linha Direta

Turquia suaviza tom sobre tensão causada com Rússia após caça abatido

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O caça russo abatido pela Turquia é o mais grave incidente entre os dois países desde que a Rússia entrou no conflito sírio há dois meses. Mas, dois dias após, o conflito tende a se arrefecer. O chefe da diplomacia russa, Serguei Lavrov, garantiu que Moscou não "entrará em guerra contra a Turquia". Anteriormente, o Kremlin havia classificado a queda do caça como uma "provocação planejada" por um Estado que coopera com terroristas. Já Ancara garantiu que não conhecia a procedência do avião e divulgou o áudio dos alertas dados ao caça russo antes de ser abatido, perto da fronteira com a Síria, e suaviza o discurso sobre a tensão causada com o Kremlin.

Policial patrulha em frente da embaixada turca onde houve manifestanção em consequencia do avião de guerra russo que foi abatido pela Turquia. Moscou, Rússia 25 de novembro de 2015.
Policial patrulha em frente da embaixada turca onde houve manifestanção em consequencia do avião de guerra russo que foi abatido pela Turquia. Moscou, Rússia 25 de novembro de 2015. REUTERS/Sergei Karpukhin
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Fernanda Castelhani, correspondente da RFI em Istambul

Logo após abater o caça russo, o governo turco declarou que faria o que fosse necessário para defender sua fronteira e seus arredores. Agora, mudou o tom por recomendação dos líderes ocidentais. Uma vez que a Turquia conseguiu o apoio da OTAN, dos Estados Unidos e da União Europeia no episódio, não vai querer perder o papel de destaque.

Alinhado com esse pedido de calma dos aliados, o primeiro-ministro turco, Ahmet Davutoğlu, passou a chamar a Rússia de “vizinho amigo” enquanto o presidente Tayyip Erdogan afirmou que não quer aumentar esse clima de tensão.

Para provar a legítima defesa, as Forças Armadas de Ancara asseguraram que desconheciam a nacionalidade do avião abatido, e divulgaram o áudio dos alertas que teriam sido dados aos pilotos russos. A gravação fala repetidas vezes: “Você se aproxima do espaço aéreo turco, dirija-se imediatamente ao sul”.

O Kremlin desmente. A TV estatal russa transmitiu a entrevista de um homem uniformizado, de costas para as câmeras, identificado como o piloto sobrevivente. Ele relatou não ter entrado em céu turco e não ter recebido nenhum aviso de possível invasão. Moscou anunciou ainda o deslocamento de um navio e de um sistema antimísseis de última geração para a base no norte da Síria – um recado de que está tudo pronto para responder se necessário.

Reação exagerada?

Mesmo com apoio declarado à Turquia, a grande pergunta nos bastidores das conversas entre os aliados das operações na Síria é: o que o governo de Ancara poderia ganhar por abater, intencionalmente, um avião militar estrangeiro? Analistas militares se questionam se a reação turca foi exagerada. Isso porque os radares apontam que o caça russo permaneceu 17 segundos no espaço aéreo da Turquia que, por sua vez, mencionou que os alertas foram emitidos durante cinco minutos.

De acordo com especialistas, as aeronaves F-16, que abateram o aparelho russo, são bem mais ágeis, teriam alcançado facilmente o caça e poderiam ter se alinhado ou se colocado à frente do invasor para interromper a possível infração. Ainda assim, a afirmação do Ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, de que foi tudo arquitetado é, por enquanto, especulação.

Mas é evidente a insatisfação da Turquia de não ser a grande protagonista das discussões sobre a Síria, já que a Rússia se adiantou em relação a todos e assumiu a dianteira justamente em apoio ao lado adversário. O governo de Ancara também é o único a considerar o partido curdo sírio (PYD), que hoje recebe armamentos tanto dos russos quanto do Ocidente, uma organização terrorista.

Com os ataques recentes da Rússia nos vilarejos dos ancestrais turcos – os turcomenos, no norte da Síria – e os bombardeios dos aliados contra o Estado Islâmico, o grande temor da Turquia é a liberação do território para os curdos. Por isso, é bem difícil decifrar as reais intenções nessa história.

Sergei Lavrov

O Ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, já cancelou a visita que faria à Ancara para tratar da Síria e pediu que os turistas parem de viajar para a Turquia sob risco de terrorismo. Apesar da ira, Moscou declarou que não entrará em guerra com a Turquia, mas irá avaliar seriamente a continuidade de importantes projetos conjuntos.

Mesmo com os protestos nos consulados dos respectivos países, não houve nenhum gesto de retirada de representação diplomática. A verdade é que há uma forte dependência econômica de ambos os lados. A Turquia é o segundo maior consumidor do gás natural originário da Rússia, responsável por 50% do uso interno. O país mais de 40 projetos de construção civil com os russos que, por sua vez, compram 15% da produção têxtil e 20% dos alimentos exportados pela Turquia.

Os turistas russos também ocupam o segundo lugar no ranking de visitas e são os terceiros maiores investidores imobiliários. Portanto, analistas consideram que essa reação é momentânea. A principal prejudicada é a população síria, uma vez que as negociações sobre a transição política do país, que já andam a passos lentos, agora ficam estagnadas diante da atual necessidade das organizações ocidentais de, primeiramente, mediarem essa crise de relacionamento.

Nessa queda de braço, resta ver quem vai ceder: a Turquia, que hoje exige antes a saída de Assad, ou a Rússia, que apoia a participação do ditador sírio numa futura mudança de governo.

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