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O Mundo Agora

Nos próximos anos, segurança vai dominar a política mundial

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De repente os atentados terroristas contra a França e o avião de linha russo no Sinai, acordaram todo mundo. O dito “Estado Islâmico” (Daesh em árabe) deixou de ser um problema local do Oriente Médio. E uma boa cooperação policial não é suficiente para controlar seus sequazes no resto do mundo.

"Há um mês que a Rússia vem largando toneladas de bombas – mas praticamente só na cabeça dos combatentes da oposição “moderada” ao regime de Bachar Al Assad".
"Há um mês que a Rússia vem largando toneladas de bombas – mas praticamente só na cabeça dos combatentes da oposição “moderada” ao regime de Bachar Al Assad". REUTERS/Ministry of Defence of the Russian Federation/Handout
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Paris, e agora Bruxelas paralisada pelo estado de sítio, mostraram que os extremistas islâmicos, com meros kalashnikovs e cintos de explosivos, representam uma ameaça estratégica para a Europa inteira. Não dá mais para tapar o sol com peneira: não haverá segurança no Velho Continente se Daesh não for destruído, na Síria e no Iraque. Claro, isto não resolve o problema dos terroristas individuais, muitos dos quais são cidadãos europeus. Mas tentar impedir novos atentados passa por arrancar o mal pela raiz. Daesh não pode continuar gozando de um território próprio para treinar recrutas, planejar ações, acumular fundos vendendo petróleo e servir de ímã para jovens radicais frustrados à procura de “pureza” religiosa e de “martírio”.

Só que derrotar o “Estado Islâmico” não é fácil. Já está mais do que demonstrado que não se ganha uma guerra deste tipo só com bombardeios. E sem tropas no chão. Há um mês que a Rússia vem largando toneladas de bombas – mas praticamente só na cabeça dos combatentes da oposição “moderada” ao regime de Bachar Al Assad – e somente conseguiu reconquistar meros 120 quilômetros quadrados para o governo de Damasco e ainda por cima perdendo pequenos pedaços de território. Moscou está descobrindo que o que sobrou do exército de Bachar Al-Assad e seus aliados – as milícias xiitas do Hezbolah libanês e pequenas unidades da Guarda Revolucionária iraniana – não têm condições de dar conta do recado. Pior ainda para Vladimir Putin, a intervenção militar conseguiu fortalecer ainda mais o ódio dos djihadistas, e dos sunitas em geral, contra a Rússia “ortodoxa”. Sem falar nos 4.000 terroristas chechenos que estão na Síria e no Iraque e que sonham em se vingar e exportar o djihad para as populações muçulmanas do Cáucaso e da Ásia Central.

Com o atentado contra o avião russo no Egito, o Kremlin foi obrigado a mudar de posição: pela a primeira vez os aviões russos estão bombardeando seriamente o “Estado Islâmico”, e Putin declarou estar disposto a trabalhar junto com os Americanos e os Europeus para encontrar uma saída para o conflito. E esta saída passa pelo restabelecimento de um Estado e um regime viáveis na Síria, derrotando o “Estado Islâmico”.

Mas quem vai mandar soldadinhos para a região? O presidente francês, François Hollande, está em primeira linha tentando montar uma coalizão internacional mais ampla possível. Sem isso uma ofensiva séria contra os djihadistas é politicamente impossível. Os países que decidirem arriscar seus militares precisam de um forte apoio militar, mas também de muita cobertura política. Aliás, pressionado pelos franceses, o Conselho de Segurança da ONU, votou por unanimidade, uma resolução autorizando os estados membros a “utilizar todos os meios necessários” contra o Daesh, decretado “ameaça global à paz e segurança” do mundo.

Na Europa, a Espanha e a Irlanda já anunciaram que poderiam substituir as tropas francesas no Mali e outros países do Sahel, para que elas se concentrem na ofensiva no Oriente Médio. O governo britânico tenta convencer o seu Parlamento a aceitar que os aviões da RAF também participem nos bombardeios. Claro, ainda não há acordo entre as potências ocidentais e os russos com relação ao futuro regime sírio. Como também continua a concorrência dos protagonistas locais – Turquia, Irã e Arábia Saudita. Mas existe hoje uma janela de oportunidade para que todos possam se unir contra o inimigo comum djihadista.

Mas a verdade é que essa luta será muito longa e que nos próximos anos, queira ou não, a política mundial será dominada pelas questões de segurança. Isto deixa pouco espaço para a grande maioria dos países que não têm capacidade militar e que poderão amargar pesadas retaliações se não mostrarem solidariedade concreta ou se não forem capazes de conter o perigo djihadista nos seus próprios territórios.

 

*Alfredo Valladão é professor no Instituto Sciences PO de Paris

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