Petróleo que financia o grupo Estado Islâmico é consumido na Turquia
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Praticamente todo o petróleo refinado pelo grupo Estado Islâmico no Iraque atravessa as fronteiras em caminhões e é consumido na Turquia. Segundo especialistas, fragilizar esse sistema de exportação seria uma maneira de impedir o principal meio de financiamento do grupo terrorista.
Segundo Pierre Terzian, presidente de uma das principais consultorias de Petróleo da Europa, 2014 foi o grande ano do grupo Estado Islâmico no campo financeiro. O preço do barril, ao redor de US$ 100, permitiu ao grupo acumular US$ 1 bilhão em apenas um ano, mesmo vendendo a preços abaixo do mercado. “Estre ritmo começou a diminuir rapidamente, porque o preço caiu e alguns campos de exploração foram retomados pelos curdos. E ainda houve campos que pararam de funcionar por falta de manutenção”, explica Terzian.
Com essa queda nos rendimentos, os jihadistas passaram a ganhar “apenas” US$ 200 milhões por ano, quantia ainda gigantesca para uma organização terrorista. O sistema de contrabando de petróleo do grupo Estado Islâmico começou a funcionar no Iraque nos anos 90, na época em que o país sofria sanções internacionais. Empresas privadas foram então criadas para transportar o produto de caminhão até a Turquia, onde era refinado legalmente.
Este sistema, tolerado pelas Nações Unidas na época, foi herdado pelo Daesh (nome em árabe da organização jihadista), assim que o grupo chegou ao poder em partes da Síria e do Iraque. “Os caminhões, as estradas, as refinarias e os intermediários: tudo estava lá”, afirma Terzian. Isso explicaria a velocidade com que os extremistas conseguiram fazer o sistema funcionar novamente.
“Infelizmente deixamos eles fazerem isso. Faz 14 meses que a coalizão bombardeia posições dos terroristas, mas os campos de petróleo raramente foram atingidos”, lamenta o especialista.
Dinheiro circulando na França
O ministro das finanças francês, Michel Sapin, diz que uma das prioridades do país agora é rastrear o dinheiro envolvido com o grupo Estado Islâmico, não apenas o que é recebido pelos terroristas, mas o que enviam para outros países para financiar suas operações como, por exemplo, o atentado em Paris. “Não são centenas de milhões de euros, são quantias menores, milhares de euros, que podem transitar. Precisamos conseguir detectar, perseguir e impedir essa circulação”, disse Sapin à imprensa.
Segundo Pierre Terzian, o petróleo jihadista não é produzido em volume suficiente para ser exportado para os países da Europa Ocidental, mas é integralmente consumido na Turquia, depois de ser refinado pelos próprios extremistas usando equipamento rudimentar. “É preciso que a Turquia feche suas fronteiras de maneira hermética. Isso seria um golpe quase mortal nesse comércio”, defende.
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