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Linha Direta

Vitória do partido de Erdogan agrava a divisão política da Turquia

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Um dia após o partido governista da Turquia conquistar, com surpreendente vantagem, a maioria do Parlamento, surgem denúncias de fraude durante a eleição. O resultado deste domingo (1°)  agrava ainda mais a divisão política do país e aumenta a insegurança sobre os planos do novo governo de Ancara.

O presidente turco Recep Tayyip Erdogan surpreendeu ao conquistar a maioria no Parlamento nas eleições de 1° de novembro de 2015.
O presidente turco Recep Tayyip Erdogan surpreendeu ao conquistar a maioria no Parlamento nas eleições de 1° de novembro de 2015. Reuters/Umit Bektas
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Fernanda Castelhani, correspondente da RFI Brasil em Ancara

Para explicar a diferença tão grande entre o que previam as pesquisas de opinião e o resultado da apuração de ontem, há duas possibilidades: ou a estratégia dos últimos cinco meses do governo realmente funcionou ou houve fraude eleitoral, como já começam a aparecer em depoimentos isolados pelo país.

A imprensa turca hoje (2)  divulgou que, até mesmo em grandes cidades, como aqui em Istambul e na capital, Ancara, alguns mesários pediram a eleitores que assinassem papéis em branco que, supostamente, seriam preenchidos durante a contagem de votos. Uma investigação também foi aberta para saber a procedência de carros sem placa estacionados na frente de algumas escolas onde houve eleição. No sudeste do país, o voto ocorreu sob forte policiamento e algumas pessoas, por medo, se deslocaram com segurança particular, como na cidade de Diyarbakır, em que o partido curdo HDP venceu com folga. Em algumas localidades, foi dispensada a determinação de se revistar cada um que entrasse na seção eleitoral e, em diferentes cidades, houve prisões por conta de brigas de partidários oponentes. O temor de manipulação era tão grande, que cada partido posicionou observadores nos locais de votação e também acompanhou de perto a apuração. O que se vê mesmo é que venceu o discurso do medo do partido AKP – que pregava um governo forte para combater o que chamou de “forças externas que querem desestabilizar a Turquia”.

O que esperar do novo governo?

Uma vez que o partido AKP conquistou a maioria do Parlamento – como queria desde a eleição de junho – não precisará agora formar coalizão. Há quem fale até em guerra civil na Turquia.

Muito provavelmente, o que preveem os analistas são: mais restrições às liberdades individuais, mais perseguição à imprensa independente, novas invasões a veículos de comunicação e novos processos judiciais diante de opiniões políticas divergentes. Alguns críticos são mais catastróficos e falam que esse governo não vai perdurar porque a sociedade turca, como um todo, não tolerará, por muito mais tempo, conviver longe da democracia que alcançou a duras penas.

Também não podemos negligenciar a conquista histórica do partido novato, HDP, que apoia as minorias do país. Farão barulho no Parlamento e, apesar de hoje remota a possibilidade, talvez até futuras alianças com o partido que ficou em segundo lugar, o social-democrata CHP. Falar em guerra civil ainda é prematuro, mas a tensão social deve aumentar, sim. O especialista em Relações Internacionais, İhsan Dağri, no livro “ O que deu errado na Turquia? ”, afirma que, aqui, os partidos são como bandeiras da identidade de cada povo. Neste momento, seculares, conservadores, curdos, alevis: cada um está se unindo aos seus iguais e evitando o convívio comum. O que mostra que o país está, de fato, se desintegrando.

Silêncio internacional

Os líderes e as organizações mundiais, de ontem para hoje, se mantêm discretos sobre essa vitória pessoal do presidente turco, Tayyip Erdoğan. Diante do silêncio internacional, o que esperar também da política externa da Turquia?

 O silêncio europeu se estende até aos desdobramentos dos encontros do presidente turco com a alemã Angela Merkel. A Comissão Europeia segurou para depois da eleição o relatório sobre as melhorias necessárias para que a Turquia tenha o que exige como contrapartida na oferta de conter os refugiados. Mas, se os esforços democráticos do governo de Ancara se mostrarem somente um álibi para a manutenção no poder, é bem possível que a Turquia, ao longo dos anos, se isole na região. E o presidente turco já deixou claro que em 2019 tem mais - para estar no cargo em 2023, quando a república completa 100 anos.

Economia

De imediato, o mercado internacional reagiu bem à vitória majoritária do AKP. Ainda ontem à noite, logo após a divulgação do resultado, a lira turca (TL)  valorizou 2,9%. Hoje pela manhã, US$1  chegou a ser negociado a 2,76TL, o que representa valorização de 5% da moeda local. Os investidores esperavam um Parlamento de coalizão, mas costumam gostar desse conceito de governo forte à primeira vista. O que a Turquia não pode esquecer é que sua economia é muito dependente de alianças externas. Chega a causar espanto que Europa e Estados Unidos tenham focado suas recentes críticas somente em relação à liberdade de imprensa daqui. É que tanto um quanto outro, hoje, dependem do governo turco para lidar com os refugiados e combater o terrorismo. Erdoğan sabe disso e se beneficiou dessas recentes parcerias no período de campanha.

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