Salão do Chocolate de Paris mostra cacau produzido sob a Mata Atlântica brasileira
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Os chocólatras que circulam pelo Salão do Chocolate de Paris poderão saber mais sobre uma técnica de produção sustentável de cacau no sul da Bahia, a cabruca. O fruto é cultivado sob a copa das árvores da Mata Atlântica, uma técnica tradicional praticada há mais de 200 anos e que ajuda a preservar a floresta.
O cacau gosta de calor, mas não de sol. Para se desenvolver, ele precisa de sombra - e encontrou abrigo na exuberância da mata brasileira. Esse sistema agroflorestal acaba dando ao fruto características especiais, valorizadas no mercado de chocolates finos.
A um mês da Conferência do Clima de Paris (COP21), a técnica desperta a curiosidade no Salão do Chocolate da capital francesa, que abriu as portas nesta quarta-feira (28). No domingo, último dia do evento, o diretor da associação Cabruca COP21, Wandel da Rocha, vai explicar como funciona a produção ambientalmente sustentável do cacau.
“A associação deseja promover o máximo de conservação da Mata Atlântica, ou seja, que a copa das grandes árvores seja preservada e os extratos inferiores sejam substituídos por cacau”, explica.
Árvores raras são preservadas
Pouco a pouco, os estados produtores de cacau começam a se recuperar dos estragos de uma infestação por um fungo conhecido como vassoura de bruxa, nos anos 1980. Em uma década, 60% dos cacaueiros brasileiros morreram e a participação do Brasil no mercado internacional despencou.
Com o sistema cabruca, árvores raras, como pau-brasil e jequitibá, acabam preservadas para dar lugar à plantação do cacau. Segundo Rocha, curiosamente, tudo começou com um francês.
“Foi um francês que levou o cacau do estado do Pará, que na época não prosperou, para o sul da Bahia. Esse contexto, de ter sido um francês e por a COP21 se passar em Paris, faz com que os franceses estejam muito interessados nesse assunto, afinal eles são apaixonados por história e por chocolate”, constata.
Na África, devastação é a regra
A técnica é única mundo. Na África, de onde vem mais de 70% do cacau consumido no mundo, os produtores desmatam a floresta primária e cultivam o solo com bananeiras e leguminosas. O cacao é plantado à sombra dessas árvores.
“Na África, a floresta equatoriana foi devastada para melhorar a fertilidade dos solos. A capacidade produtiva se esgota em no máximo 30 anos e a solução é, de novo, pegar mais uma parte da floresta, queimar e plantar cacau”, relata. “Desta maneira, a floresta equatoriana vai sendo substituída pela cultura do cacau.”
No Brasil, além da Bahia, também Espírito Santo, Pará, Amazonas e Rondônia produzem cacao. Técnicas semelhantes à cabruca já se desenvolvem na floresta amazônica.
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