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Fato em Foco

Espírito “olho por olho” afunda esperança de paz entre Israel e palestinos

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O aumento da violência na Faixa de Gaza, na Cisjordânia e em Jerusalém já leva alguns analistas a alertarem que está em curso a terceira Intifada, como é chamado o levante dos palestinos contra a ocupação israelense. Uma nova guerra na região pode ser iminente. A constatação é de que os governos já não conseguem mais controlar as agressões espontâneas de um lado ou de outro, enquanto o processo de paz parece estar abandonado.

Manifestante palestino durante confrontos com o exército israelense em um checkpoint próximo a Ramallah, Cisjordânia, em  6 de outubro de 2015.
Manifestante palestino durante confrontos com o exército israelense em um checkpoint próximo a Ramallah, Cisjordânia, em 6 de outubro de 2015. REUTERS/Mohamad Torokman
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Tudo começou em setembro, após confrontos entre palestinos e a polícia israelense na mesquita Al-Aqsa, um local sagrado tanto para muçulmanos quanto para judeus. Desde então, pelo menos 10 israelenses morreram esfaqueados por palestinos e, em resposta, o exército israelense matou ao menos 27 palestinos.

Não é a primeira vez que enfretamentos como esses terminam mal, como lembra Emmanuel Navon, professor de Relações Internacionais da Universidade de Tel Aviv.

“Foi exatamente isso que aconteceu há 86 anos, em 1929, quando o mufti de Jerusalém da época acusou os judeus de quererem conquistar a mesquita de Al-Aqsa. A violência resultou na morte de 133 judeus. Foram ataques com facas e machadinhas, exatamente como hoje”, recorda.

O pesquisador da Universidade Livre de Bruxelas e da Universidade de Montreal Sébastien Boussois, autor de “Israel entre Quatre Murs”, observa que a tensão já estava em alta desde agosto, quando militantes da extrema-direita israelense incendiaram e mataram uma família palestina. Ele ressalta que, há alguns anos, uma parcela dos colonos israelenses nos territórios palestinos se tornou mais violenta – e conta com a proteção do exército não só para se defender, como para atacar.

“Acho que há uma lógica de olho por olho, dente por dente, um tipo de lei do talião, com acertos de contas diretos, sem passar nem pela polícia, nem pela justiça. Isso é muito preocupante, ainda mais quando pensamos que alguns dos maiores massacres da história aconteceram por armas brancas, que são um símbolo”, afirma.

Desilusão de jovens

Do lado dos ataques palestinos, as agressões a facadas têm sido feitas por jovens que não se reivindicam de nenhum movimento. São garotos nascidos depois do fracasso do acordo de paz firmado em Oslo, na Noruega, em 1993 - uma juventude que só conheceu o aumento das hostilidades, e que hoje é apelidada de “geração perdida de Oslo”.

“Eu acho que, com a sua política superdimensionada de reação em Gaza ou nos territórios ocupados, Israel criou uma geração de jovens palestinos revoltados, que alguns chamam de terroristas potenciais. O grande fracasso da união do mundo árabe e da situação dos palestinos é que esses jovens estão sem nenhuma esperança”, ressalta Boussois. “Todos assistiram à morte de um familiar, de um vizinho. São gerações de crianças traumatizadas.”

Paz está cada vez mais distante

Neste período, as colonizações israelenses só se expandiram na Cisjordânia e em Jerusalém oriental e o governo palestino perdeu a confiança da população, em meio a escândalos de corrupção. Para o pesquisador francês, a paz é um objetivo enterrado, inclusive porque os governos israelense e palestino já não controlam mais o que acontece nos seus próprios campos.

“A paz foi abandonada em 2000. Acreditamos na paz no tratado de Oslo, em 2000 as novas negociações fracassaram e desde então as duas partes se radicalizaram”, explica Boussois. “Sem contar que, entre os palestinos, houve divisões que até hoje não foram superadas, e do lado israelense as colonizações e os nacionalismos explodiram. Esse contexto de impossibilidade da paz se transformou em uma construção política do status quo.”

Estado Islâmico por perto

Em Tel Aviv, Emmanuel Navon também está pessimista sobre o futuro do conflito, um quadro que se agrava com a ameaça do grupo Estado Islâmico. O professor teme que os extremistas já tenham captado militantes palestinos radicais.

“Falar de paz no Oriente Médio quando olhamos como está o Oriente Médio é quase uma ingenuidade, na medida em que não há paz em nenhum país da região, a começar pela Síria e o Iraque”, destaca Navron. “Não vejo como Israel poderia ser uma exceção, inclusive porque Israel, enquanto Estado soberano do povo judeu, é rejeitado pelos vizinhos regionais.”
 

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