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Pais que perderam filhos para a jihad participam de campanha na França

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O governo francês lançou nesta quarta-feira (7) uma nova campanha para tentar barrar a radicalização de jovens que podem estar propensos a fugir à Síria ou ao Iraque para fazer a guerra santa, a jihad. Autoridades calculam que mais de 500 jovens franceses lutam atualmente ao lado de grupos extremistas no Oriente Médio. Mais de uma centena deles morreram em território sírio e iraquiano nos últimos anos em nome da causa jihadista.

Baptiste, pai de Léa, que fugiu de casa aos 17 anos para fazer a guerra santa na Síria.
Baptiste, pai de Léa, que fugiu de casa aos 17 anos para fazer a guerra santa na Síria. Reprodução de Vídeo/Stop Djihadisme
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Desde ontem as histórias de Léa, Félix, Sarah e Sabri, todos jovens estudantes, de 17 a 23 anos, estão sendo veiculadas pelos meios de comunicação franceses. Nos vídeos, duas mães, Véronique e Saliha, um pai, Baptiste, e um irmão, Jonathan, contam como suas famílias foram devastadas pelo extremismo islâmico.

"Não somos parentes de terroristas, somos vítimas", diz Baptiste, o pai de Léa. Ela tinha 17 anos quando fugiu em 2013 para fazer a guerra santa. A garota teve um filho com um jihadista na Síria e raramente se comunica com os familiares, a quem trata de traidores e hereges. "Roubaram-nos nossa filha. Léa, essa pessoa que foi embora, jovial, alegre, morreu para nós", confessa o pai, com a voz embargada.

Em comum, nos testemunhos dessas famílias, a surpresa, a dor, a tristeza e a incompreensão de ver garotos e garotas, descritos como felizes, amorosos, estudiosos e sem nenhuma propensão para o radicalismo islâmico, partir bruscamente para a jihad sem nem mesmo se despedir de seus familiares.

"Na véspera da fuga de Sarah, nós estavávamos juntos, rindo. Ela tinha 17 anos. Normalmente, quando ela saía da escola, telefonava para nosso pai. Nesse dia, às 17 horas, nada de telefonema. Um dia depois, ela me ligou e disse: ‘estou na Síria’", conta Jonathan, o irmão de uma jovem francesa, com quem tinha uma ótima relação. Um ano depois da partida da garota, a vida da família se tornou uma eterna espera pelos contatos da jovem que, pelo Skype, descreve sua vida na Síria como "o paraíso". "Todos os dias, acordamos e vamos dormir nos perguntando se ela ainda está viva", reitera Jonathan.

Objetivo : sensibilizar a opinião pública

A produtora da campanha, Fabienne Servan-Schreiber, explica que é fundamental sensibilizar a opinião pública para o problema. "Com esses vídeos nós quisemos mostrar o sofrimento das famílias. É apavorante não saber o que aconteceu com seu filho, saber que ele está em perigo e que também está sofrendo", diz.

Servan-Schreiber ressalta que qualquer família pode ser surpreendida pelo problema. "Esses garotos e garotas que fogem para a jihad podem vir de famílias muito diferentes, de qualquer religião, tradição e nível social. É por isso que é preciso estar vigilante e levar esse fenômeno em consideração", reitera.

A psicóloga Inès Weber acompanhou as famílias que aceitaram testemunhar na campanha. Para ela, os vídeos representam um apelo à solidariedade e à responsabilidade coletiva, tanto dos pais como também dos filhos. "Alguns jovens na França, propensos a partir para a jihad, podem ser tocados por esses vídeos. Ao serem contatados e influenciados pelas redes jihadistas, eles não imaginam o que podem acarretar para a vida de sua família. Afinal, eles são levados a pensar que, participando da jihad, eles vão honrar seus parentes. Então, essa campanha também pode conscientizá-los", diz Weber.

"Mamãe, eu morri"

"Quando eu lia essa frase: 'mamãe, fui para a Síria', meu cérebro interpretava como: 'mamãe, eu morri'. Esse é o depoimento de Saliha, mãe de Sabri, que tinha 19 anos quando fugiu para fazer a jihad em 2013. No vídeo, ela conta que algum tempo depois da fuga do garoto, o marido recebeu uma ligação da Síria e pensou que finalmente falaria com o filho. Do outro lado da linha, um jihadista o felicita porque Sabri morreu como mártir.

Em Bruxelas, onde mora, Saliha criou a associação de apoio a famílias Sociedade Contra o Extremismo Violento (Save). Em entrevista à RFI, ela deixou uma mensagem aos pais que enfrentam a radicalização dos filhos: "Saiam de seu silêncio, expressem suas emoções e preocupações. Há estruturas especializadas para isso, como associações de pais, por exemplo, que podem escutá-los e dirigi-los a centros de ajuda adaptados a eles e a seus filhos. Mas é preciso que eles não fiquem quietos e que falem desse grave problema que os atinge. Porque é realmente necessário chamar atenção da sociedade sobre a manipulação dos jovens."

Um fenômeno de massa

No final de cada vídeo, o telefone para a assistência de famílias que são vítimas de grupos radicais é informado. Em um ano e meio de existência, o governo francês recebeu mais de 3 mil ligações. O dispositivo virou uma peça chave na luta contra a radicalização de jovens e contra redes jihadistas.

"Não há nenhuma região da França que não passe por esses problemas. Milhares de jovens estão implicados: é um fenômeno de massa", garante Serge Blisko, presidente da Missão Interministerial de Vigilância e Luta Contra os Sectarismos (Miviludes).

Blisko informa que em todas as prefeituras francesas, há funcionários que foram formados para ajudar essas famílias. "O importante é que as pessoas não se isolem. E também é preciso que elas estejam extremamente atentas", sublinha.

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