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Planeta Verde

Dispositivo da Volkswagen para fraudar poluição é comum

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O escândalo da fraude no sistema de emissões de gases poluentes de carros da Volkswagen causa furor nos Estados Unidos e na Europa, e chama a atenção para os sistemas de inibição da poluição dos automóveis. Segundo especialistas, quanto mais eletrônico for o veículo, mais fácil é a manipulação dos dados para passar nas inspeções de rotina.

Volkswagen reconheceu que 11 milhões de carros a diesel foram manipulados.
Volkswagen reconheceu que 11 milhões de carros a diesel foram manipulados. REUTERS/Fabian Bimmer
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A denúncia foi feita por uma organização americana que milita pela diminuição da poluição nos transportes, e resultou na demissão do presidente da montadora alemã. A fabricante, no entanto, pode não ser a única a adotar esse tipo de ferramenta, que lhe permitia vender veículos a diesel que eram, na realidade, mais poluentes do que anunciavam.

Os carros estavam programados para identificar a realização de testes de rotina e, neste instante, passavam a emitir menos óxido de azoto do que o normal. O gás é um dos mais tóxicos emitidos pelos automóveis. Augusto César de Mendonça Brasil, professor de engenharia na Universidade de Brasília (UNB) e especialista em emissões de automóveis, afirma que esse é um efeito colateral da programação eletrônica dos veículos.

“Quanto mais nós evoluirmos em termos de componentes para tornar o carro mais inteligente, mais problemas deste tipo nós teremos. O carro vai fazer o que ele bem entender”, afirma. “Se tudo é eletrônico, as fábricas vão ajustar o sistema de acordo com um ciclo. É muito fácil fazer isso.”

Controle no Brasil

A Alemanha, a França e a Coreia do Sul já anunciaram a abertura de investigações para apurar a ocorrência desse tipo de adulteração dos parâmetros. Por enquanto, o escândalo ainda não chegou no Brasil.

“O Ibama faz uma certificação da qualidade dos motores dos carros que são lançados. Mas também há uma verificação dos veículos que os estados podem decidir em qual periodicidade vai ser feita. No Rio de Janeiro, por exemplo, isso é feito anualmente, a toda a vez que se vai renovar a licença do carro”, explica o especialista em direito, política e gestão ambiental Sávio Bittencourt, professor da Fundação Getúlio Vargas. “Eu tenho certeza de que, nos Estados onde há a produção de automóveis, o Ministério Público já se articula para instaurar inquéritos, para instar os órgãos ambientais a fazer os controles.”

O cuidado com as emissões de gases poluentes ainda não é uma questão prioritária na escolha do brasileiro, na hora de comprar um veículo. Pouco a pouco, a mudança de comportamento começa a ganhar espaço entre os consumidores do país.

“No Brasil, é um pouco diferente da Europa. Temos uma classe econômica que não tinha carros e agora tem vontade de ter”, ressalta Mendonça Brasil. “Para o brasileiro, importa muito mais o preço do veículo do que se o carro tem ou não uma preocupação ambiental.”

Efeito negativo para imagem da marca

A denúncia de fraude fez as ações da Volkswagen despencarem nesta semana. Para Bittencourt, a repercussão negativa terá o benefício de despertar as consciências sobre o problema.

“Apesar de serem trágicos, todos os danos ambientais acabam colaborando para uma mudança de comportamento futura que é sempre muito bem-vinda. A gente cresce com esse tipo de erro”, lembra o professor da FGV-Rio. “Vestir a camisa do meio ambiente também significa fazer escolhas melhores, como abrir mão de um motor mais potente para escolher outro menos poluidor.”

A montadora alemã admitiu que 11 milhões de carros fabricados a partir de 2009 estavam programados para inibir temporariamente a emissão de óxido de azoto. Não bastasse a dissimulação, quando acionado, o sistema ainda gera um consumo extra de 3 a 4% de combustível.

 

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