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Papa reforça posição de líder internacional com viagem aos EUA, dizem especialistas

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Com uma agenda que envolve compromissos muito além da religião e dando continuidade a visitas de forte caráter político, o papa Francisco chegou na terça-feira (22) aos Estados Unidos, depois de passar por Cuba. O restabelecimento das relações diplomáticas entre Washington e Havana, a reforma migratória e até mesmo mudanças climáticas são os principais assuntos que o Sumo Pontífice vai tratar no país.

Papa Francisco foi recebido pelo presidente Barack Obama ao desembarcar em Washington.
Papa Francisco foi recebido pelo presidente Barack Obama ao desembarcar em Washington. REUTERS/Jonathan Ernst
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Mas também deverá enfrentar a queda de popularidade da igreja católica nos Estados Unidos, diante de escândalos de pedofilia e do conservadorismo dos líderes religiosos no país, sobre questões que o próprio papa já se mostrou tolerante, como o casamento gay e o aborto.

Com essa posição progressista em relação à religião e seu forte envolvimento em questões de políticas, Jorge Bergoglio se consolida cada vez mais como uma das principais lideranças internacionais. O professor de Teologia da PUC-RS, Érico Hammes, aponta até mesmo semelhanças entre o Sumo Pontífice e o presidente norte-americano, Barack Obama.

"São duas figuras carismáticas significativas e que não impõem a liderança pelo poder. O papa dá prioridade a situações e necessidades de mudanças que precisam ser realizadas mundialmente, em nome dos marginalizados e, como ele mesmo definiu, dos ‘descartados pelo sistema’. Por isso reforça cada vez mais seu caráter de líder", avalia.

Vaticano quer renovação e liderança

Para o professor de História Contemporânea da Universidade de Brasília (UnB), Virgílio Arraes, especialista em Vaticano, a atitude vanguardista do Sumo Pontífice é motivada por sua própria personalidade, mas também impulsionada por um desejo da Cúria de renovação e mais liderança. "Bento XVI, de certo modo foi uma continuidade de João Paulo II, e a mentalidade deles ainda estava na época da Guerra Fria", analisa.

Segundo Arraes, o Vaticano compreendeu que "o mundo hoje tem uma nova pauta" e a própria renúncia de Joseph Ratzinger pode ser um reflexo dessa necessidade de mudança da Cúria. "Até agora o papa Francisco tem se mostrado à altura dos desafios e a igreja católica vem tentando marcar uma posição através de seu Pontificado", ressalta.

Jorge Bergoglio será o primeiro papa a discursar no Congresso norte-americano, na quinta-feira (24). Na sexta-feira (25), ele falará na ONU sobre mudanças climáticas e a crise dos refugiados. No fim de semana, participa do Encontro Mundial das Famílias, realizado na Filadélfia, onde um milhão e meio de fiéis são esperados, entre eles, muitos brasileiros.

O papa é pop

Francisco tem uma forte popularidade nos Estados Unidos, país de maioria protestante. De acordo com uma recente pesquisa da Universidade de Quinnipiac, dois terços da população, entre ateus, protestantes e católicos, apreciam o Sumo Pontífice.

Carmem Pinpinati, membro da Comunidade Católica Brasileira de Miami, conta que os norte-americanos, independentemente de sua religião, veem com bons olhos a visita do Santo Padre aos Estados Unidos. "De um modo geral, as pessoas aqui simpatizam com o papa e esse encontro com o presidente norte-americano é muito valorizado. Ele tem incentivado união e humildade entre as pessoas, o que é importante porque mostra que as religiões não são motivo de divisão", opina.

Carmem explica que convive com muitos cubanos em Miami e que a moderação de Bergoglio para o restabelecimentos das relações entre Havana e Washington surpreendeu a comunidade. "O papa renovou as esperanças dos cubanos de um mundo melhor", diz.

54 milhões de latinos

Os imigrantes latinos nos Estados Unidos ocuparão um importante espaço na agenda do Santo Padre, que fará a maioria de suas missas em espanhol. Cerca de 55% dos 54 milhões dos latinos no país são católicos.

Os hispânicos, aliás, são frequentemente alvo de ataques dos conservadores, a exemplo do pré-candidato Republicano à presidência, Donald Trump, que prometeu deportar imigrantes ilegais se for eleito. Em contrapartida, a Casa Branca anunciou que vai acolher 85 mil refugiados em 2016 e 100 mil em 2017.

Por isso, depois da aproximação diplomática entre Havana e Washington, a imigração será um dos assuntos-chave do Sumo Pontífice nos Estados Unidos, prevê Hammes. "Em vista de toda a situação que a Europa está vivendo e também da forma como os Estados Unidos lidam com imigrantes e de figuras xenófobas que vem ganhando voz, dar um respaldo a políticas e a posições mais interculturais e tolerantes é uma de suas prioridades."

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