Rússia ocupa espaço vazio deixado pelos EUA no Oriente Médio
A estratégia da Rússia na Síria é manchete no Le Figaro desta sexta-feira (18). Segundo o jornal conservador, o engajamento de Moscou por meio da entrega de armas, da construção de portos, aeroportos e bases militares e do envio de tropas terrestres à Síria marca o grande retorno da Rússia ao Oriente Médio, no vácuo deixado pelos Estados Unidos. No entanto, a estratégia de Vladimir Putin, que sempre apoiou o regime de Bashar al-Assad, desde o início da guerra civil, procova questionamentos.
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Ao apoiar militarmente Damasco contra a organização terrorista Estado Islâmico, a Rússia exibe seu poderio e, ao mesmo tempo, se atribui um papel central na busca de uma solução para o conflito sírio, escreve Le Figaro. Vladimir Putin aparece hoje como um parceiro indispensável no combate aos jihadistas e propõe a criação de uma coalizão internacional, incluindo o Exército sírio, para pôr um ponto final às ambições do autoproclamado califado islâmico. O assunto poderá ser discutido em uma reunião bilateral entre Vladimir Putin e Barack Obama à margem da Assembleia da ONU, em Nova York, no dia 28 de setembro.
Um porta-voz da Casa Branca declarou ontem que se a Rússia usar seu poderio militar contra os jihadistas, e não apenas a favor do presidente sírio, Bashar al-Assad, a ajuda poderia ser bem-vinda. Le Figaro nota que a presença russa no Oriente Médio cresce à medida em que os Estados Unidos se retiram da região. Enfraquecer os jihadistas é uma ocasião de ouro para Putin melhorar sua imagem e se reconciliar com o mundo, diz um diplomata ouvido pelo jornal.
Putin no comando dos manetes
O plano russo pode ser coerente, mas tem pontos frágeis. Em primeiro lugar, a oposição síria dificilmente aceitaria sentar à mesa de negociações com Assad depois de quatro anos de massacres do regime. A transição na Síria estaria, então, comprometida. Outro ponto a esclarecer é saber se os Estados Unidos vão aceitar que a Rússia se imponha na região, ao mesmo tempo em que incita as divisões leste-oeste. Israel pode ser outro obstáculo para Putin.
O governo israelense não está gostando nada dessa história de militarização da Síria com arsenal russo, porque a Rússia combate os jihadistas aliada ao Irã, inimigo declarado de Israel. O premiê israelense, Benjamin Netanyahu, visitará Washington e Moscou na semana que vem para defender suas preocupações.
Israel teme que o reforço militar russo na região possa atrapalhar o combate israelense ao Hezbollah, o movimento xiita financiado pelo Irã. Com a Rússia inundando a Síria de armas sofisticadas, parte dessas armas serão transferidas ao Hezbollah, enfraquecendo a capacidade de Israel de combater o inimigo xiita.
Para desespero dos civis, o jogo de interesses no Oriente Médio está cada vez mais intrincado.
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