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Planeta Verde

Pesquisadora: alta do desmatamento não afeta posição do Brasil na COP-21

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Os dados mais recentes confirmam o aumento do desmatamento na Amazônia, encerrando um ciclo de quedas que já durava 10 anos. Os números divergem segundo a fonte, mas são certeiros em apontar a reversão da curva: o Inpe assinala 68% a mais de superfície desmatada e o Imazon diz que foram 63%.

O desmatamento da Amazônia aumentou pelo menos 63% de agosto de 2014 a julho de 2015.
O desmatamento da Amazônia aumentou pelo menos 63% de agosto de 2014 a julho de 2015. Hebert Rondon/ Ibama
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O período analisado é de agosto de 2014 a julho de 2015, em relação ao mesmo intervalo do ano anterior. A notícia parece preocupante, mas na opinião da geógrafa francesa Martine Droulers, o levantamento não compromete os esforços do Brasil em reduzir a destruição da floresta na última década. A pesquisadora do Credal (Centro de Pesquisas e Documentação sobre as Américas, da Universidade Sorbonne-Nouvelle) estuda a Amazônia há mais de 40 anos.

Várias ONGs já tinham previsto o aumento do desmatamento neste ano, dado como certo. Qual a sua análise dos números?
Como geógrafa, observei imediatamente o mapa, que indica os 10 municípios amazônicos que foram mais desmatados. Sem surpresa, foram os maiores em superfície, como Altamira ou Porto Velho. Isso corresponde aos grandes projetos de infraestrutura do governo para fazer as hidroelétricas, que demandam a construção de estradas, geram o crescimento das cidades. Mas se pensarmos nas causas clássicas do desmatamento, sempre foram a exploração da madeira, as colonizações agrícolas (assentamentos rurais) e, principalmente, a pecuária. Quando o desmatamento chegava a 20 mil quilômetros quadrados, era por causa da pecuária. Aos poucos, esses três elementos foram sendo mais controlados, nos últimos 10 anos. É claro que ainda há madeira ilegal, mas é preciso cada vez mais certificações para a venda. Isso resultou na queda de dois terços do desmatamento: saímos da faixa de 20 mil para 5 mil quilômetros quadrados. Agora, temos um desmatamento mais localizado, que vai ser mais fácil de controlar.

A mudança das causas do desmatamento é, portanto, uma notícia animadora?
Exatamente. A tendência geral é de ficar cada vez mais sob controle. A situação há 20 anos, por exemplo, era totalmente descontrolada. Agora, as imagens de satélite ajudam muito. O problema é que os dados são complexos, e as universidades e o exército não têm pessoal para analisar todas as imagens. Está indo rápido, mas a formação de pessoal demora mais.

A senhora acha que o aprimoramento tecnológico é hoje a principal ferramenta para fiscalizar o desmatamento?
As ferramentas técnicas são importantes, porém também é preciso haver uma polícia ambiental eficaz. É preciso ter pessoas em campo, na estrada nas fazendas. A imagem indica o fenômeno, mas para fiscalizar mesmo, é preciso ir lá.

A senhora considera a alta do desmatamento preocupante ou acha que é uma situação temporária, enquanto durarem as obras de infraestrutura?
Acho que o importante é que, há 15 anos, mais de 15 mil quilômetros eram desmatados por ano, e nos últimos cinco anos, foram menos de 5 mil. É uma mudança fenomenal. É preciso ficar atento, mas em termos de escala, é algo de menos importância. É uma escala bem menor.

O argumento da queda do desmatamento é o principal do Brasil na questão da redução de emissões de gases de efeito estufa. Os números negativos chegam às vésperas da COP-21, em Paris. A senhora acha que esses dados podem enfraquecer a posição do Brasil nas negociações para o novo acordo climático?
Não, acho que não. Deve-se falar em décadas, e não em anos. Temos que ver as tendências das décadas. Há 20 anos, a situação da Amazônia era terrível. Era um terreno desconhecido: quando comecei os meus estudos, mal havia mapas e os que existiam, estavam todos errados. Todo mundo fazia o que bem entendia. Agora, a sociedade está mais armada para fiscalizar e para conscientizar, porque na época muita gente sequer estava consciente do problema do desmatamento.

 

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