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Linha Direta

Generosidade dos dinamarqueses com refugiados contrasta com inflexibilidade do governo

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A generosidade da população dinamarquesa contrasta com o anúncio para desencorajar a vinda de refugiados que o governo dinamarquês publicou em jornais do Líbano na última segunda-feira.  Enquanto voluntários se mobilizam para acolhê-los, Copenhague tenta colocar em prática a nova legislação, que diminui direitos e benefícios dos imigrantes. Cerca de três mil migrantes chegaram ao país desde o último domingo.

Policial dinamarquês brinca com uma menina migrante em uma rodovia da cidade de Padborg nesta quinta-feira (9).
Policial dinamarquês brinca com uma menina migrante em uma rodovia da cidade de Padborg nesta quinta-feira (9). REUTERS/Claus Fisker
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Margareth Marmori, correspondente da RFI em Copenhague

A chegada de milhares de migrantes à Dinamarca desde o último domingo está criando situações inéditas para o país e mostrando o despreparo do atual governo para lidar com a crise migratória. Nas últimas horas, as autoridades desistiram de tentar registrar as pessoas e perderam o controle sobre o destino da maioria deles, que prefere seguir viagem até a Suécia.

Enquanto isso, desde domingo, milhares de voluntários dinamarqueses têm se mobilizado para dar as boas-vindas e ajudar os migrantes com doações, como alimentos e roupas. Muitos chegam a oferecer carona aos que querem chegar até a Suécia, ignorando o risco de serem presos acusados de tráfico de humanos.

Governo faz campanha

O governo colocou anúncios em quatro jornais no Líbano para alertar sobre o endurecimento das condições de permanência no território dinamarquês. O objetivo da campanha é informar os potenciais imigrantes que não é mais economicamente vantajoso buscar asilo na Dinamarca. Este mês Copenhague reduziu pela metade os benefícios sociais pagos aos refugiados.

Por outro lado, a crise está obrigando o governo a rever a posição defendida durante a última campanha eleitoral de diminuir a entrada de imigrantes no país. Agora, o primeiro-ministro Lars Løkke Rasmussen já fala em buscar, junto com os outros países europeus, uma resposta comum para acolher os refugiados.

Destino: Suécia

Os migrantes que chegaram à Dinamarca nos últimos dias vieram em barcos ou trens vindos da Alemanha. A maior parte deles queria apenas seguir viajando para a Suécia. Muitos deles preferem buscar asilo no país vizinho porque lá eles têm familiares e amigos e as regras para concessão de asilo são mais flexíveis.

Vários migrantes estavam sendo impedidos pelas autoridades dinamarquesas de continuar a viagem, mas ontem à noite a polícia começou a permitir que eles deixassem os locais onde estavam alojados temporariamente. Carros particulares de voluntários dinamarqueses já estavam a postos e prontos para levar os migrantes para longe da vigilância da polícia.

Na cidade portuária de Rødby, os 240 migrantes que estavam na estação ferroviária deixaram o local e foram levados nos carros dos voluntários. Esse grupo havia se recusado a fazer o registro e decidido permanecer nos vagões dos trens que os trouxeram da Alemanha.

Na mesma cidade, hoje de manhã, outros 400 migrantes foram autorizados a deixar o ginásio de esportes da cidade e também seguiram viagem em carros particulares. O mesmo aconteceu com outro grupo de 60 pessoas que havia passado a noite na estação de Padborg, cidade dinamarquesa que fica na fronteira com a Alemanha.

A polícia não conhece ao certo o destino desses migrantes, mas calcula que a maior parte deles tenha se dirigido a estações de trem para completar a travessia que os levará ao seu destino.

Convenção de Dublin

O objetivo da polícia em barrar os migrantes era fazer valer as regras da Convenção de Dublin, segundo a qual as pessoas que ainda não registraram seu pedido de asilo, teriam de fazê-lo na Dinamarca e não poderiam viajar para outro país europeu. Os migrantes temem que, ao se registrarem em solo dinamarquês, eles percam o direito de ir para a Suécia. Muitos, que já se registraram em um outro país europeu, temem serem obrigados a voltar ao destino inicial.

Durante três dias, a polícia dinamarquesa tentou diplomaticamente convencer os migrantes a se registrar, mas a maior parte deles resistiu de diversas maneiras, o que acabou causando transtornos em rodovias e estações de trem. Várias vezes, estradas foram interditadas depois que centenas de migrantes deixaram as cidades de Padborg e Rødby para, escoltados por policiais, tentarem caminhar e chegar ao seu destino. No meio do caminho, muitos deles deixavam a rodovia e saíam da vigilância da polícia. Outros, cansados voltavam para as cidades de onde haviam saído.

Aparentemente, as autoridades dinamarquesas não sabiam muito bem o que fazer: tinham que seguir a Convenção de Dublin mas, ao mesmo tempo, não queriam forçar os migrantes a se registrar. A solução foi apelar para a lei dinamarquesa. O chefe da polícia, Jens Henrik Højbjerg, explicou ontem que as autoridades só podem deter estrangeiros três vezes por no máximo 24 horas. Depois disso, são obrigados a deixá-los seguir para outro país. Como muitas pessoas já haviam sido detidos por esse período, a polícia foi obrigada a liberá-las.

Pego de surpresa

O governo dinamarquês deu sinais de que foi pego de surpresa pela chegada em massa de migrantes ao país. Quando os migrantes expressaram o desejo de não pedir asilo na Dinamarca, o primeiro-ministro dinamarquês Lars Løkke Rasmussen anunciou que tentaria entrar em acordo com o governo da Suécia para que os migrantes pudessem ser asilados lá. A ideia foi rechaçada pelo primeiro-ministro sueco, Stefan Löfven, que afirmou que a Dinamarca também precisa assumir sua responsabilidade e fazer valer a Convenção de Dublin.

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