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França/Resenha da imprensa

Depois de ataque a trem, imprensa francesa analisa opções de combate ao terror

Quase uma semana depois do atentado frustrado no trem Thalys 9364, que vinha de Amsterdã para Paris, o suposto terrorista Ayub El-Khazzani volta a estampar as capas dos jornais franceses. Na terça-feira (25), o marroquino de 25 anos se apresentou pela primeira vez diante de um juiz e foi indiciado por "múltiplas tentativas de homicídio com objetivo individual terrorista ou em relação com organização terrorista".

Polícia francesa conduz o marroquino Ayoub el Khazzani para fora do tribunal, na manhã desta quarta-feira, 26 de agosto de 2015.
Polícia francesa conduz o marroquino Ayoub el Khazzani para fora do tribunal, na manhã desta quarta-feira, 26 de agosto de 2015. REUTERS/Regis Duvignau
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El-Khazzani subiu no comboio fortemente armado e efetuou disparos de um fuzil alemão AKM, antes de ser contido por três norte-americanos e um britânico. Ele foi estrangulado até perder a consciência por Spencer Stone, um soldado da Força Aérea dos Estados Unidos, amarrado e entregue às autoridades.

Mas, passados seis dias do crime, o perfil de seu autor é o que mais intriga os jornais - e a polícia. Afinal, mesmo fichado pelos serviços anti-terroristas, o homem conseguiu embarcar, armado de um fuzil, uma pistola e um canivete em um trem internacional. A questão que se levanta é: o que mais pode ser feito para prevenir este tipo de ataque, sem comprometer as liberdades democráticas?

Democracia assustada

Em editorial, o Libération faz uma explanação pragmática do que não fazer: seguir a cartilha da líder do partido de extrema direita francês Frente Nacional, que sugeriu logo depois da tentativa de atentado, que todas as pessoas vigiadas por possível associação terrorista sejam expulsas do território francês.

No entanto, o jornal, que se classifica como humanista, não descarta a proposta simplesmente porque ela fere prerrogativas constitucionais básicas - o direito a um julgamento justo, as liberdades de culto, associação e circulação. Mas porque ataca a democracia "sem trazer uma contrapartida eficaz" (como se eficácia pudesse servir de justificativa para tolher a democracia).

O que o Libération argumenta é que "expulsos do território, os terroristas seriam mais difíceis de localizar". Só no final do texto, o editorialista Laurent Joffrin lembra que "a instauração da arbitrariedade e a limitação das liberdades contradizem nossos valores". E, mesmo então, ele torna a ressalvar: "sem ser produtiva".

Radicalização

O jornal enviou um repórter à cidade portuária de Algesiras, no sul da Espanha, onde El-Khazzani teria se radicalizado. François Musseau começa sua investigação pela mesquita Tawaq, em El Saladillo, "um bairro multiétnico, popular, com 40% de desempregados e conhecido pelo intenso tráfico de maconha".

Lá, ele entrevista algumas pessoas que contam como o rapaz se transformou gradualmente de um pequeno traficante de haxixe vestido em jeans da moda em um muçulmano ortodoxo, que só saía à rua em trajes tradicionais, ia à mesquita, rezava e recitava, de cor, trechos do Alcorão. Apesar da mudança, ninguém desconfiou que ele caminhava para a jihad.

Seu pai, que o jornalista descreve como alguém "visivelmente abatido", conta que "sua prisão na França foi uma enorme surpresa": "Se ele apelou para o terrorismo foi para ter o que comer, mais nada", estima Mohammed El-Khazzani.

"Verdadeira carnificina"

Mas, apesar da esperança do pai, os indícios não apontam para essa possibilidade. De acordo com o procurador da república francesa, François Molins, o rapaz estava preparado para promover uma "verdadeira carnificina". Em entrevista ao jornal Le Figaro, Molins conta que ele não apenas trazia um arsenal de guerra, como acessou o YouTube antes de entrar no trem e ouviu um canto jihadista, que conclama os fiéis a "pegar em armas e combater em nome do profeta".

As autoridades já retraçaram o percurso geográfico de Ayub El-Khazzani, que passou pela Alemanha, Áustria, Bélgica, França, Albânia e Turquia. Agora, o principal interesse das investigações é determinar o financiamento da ação: o terrorista, que não tinha domicílio fixo ou emprego, pagou 149 euros em uma passagem de primeira classe no trem. Ele continua afirmando que achou as armas em uma praça pública, o que não convence a polícia.

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