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Linha Direta

Turistas e imigrantes em situação precária dividem espaço na ilha grega de Kos

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A ilha grega de Kos, no extremo oeste da Europa, é hoje o epicentro da crise migratória europeia. Esta é a avaliação da Acnur, a Agência de Refugiados da Organização das Nações Unidas. A apenas quatro quilômetros da Turquia, a ilha, também destino turístico de europeus, é hoje a principal porta de entrada dos milhares de migrantes que vêm colapsando as fronteiras da Macedônia, Sérvia e Hungria, a caminho de países como Alemanha e França.

Migrantes desembarcam de um bote após chegar à ilha grega de Kos.
Migrantes desembarcam de um bote após chegar à ilha grega de Kos. REUTERS/Kenan Gurbuz
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Luisa Belchior, correspondente da RFI Brasil na Ilha de Kos.

Há uma semana, o governo grego enviou um navio para levar a Atenas milhares de refugiados sírios que estavam na ilha de Kos. A medida acalmou a situação apenas em um primeiro momento, porque a cada dia centenas de pessoas chegam aqui, em uma ilha que não montou nenhuma infra-estrutura para isso.

Atualmente, há cerca de 4 mil migrantes e refugiados perambulando pelas ruas de Kos, e apenas nas duas últimas semanas, foram 3 mil entradas irregulares na ilha e 30 mil desde o início do ano. Para fazermos uma comparação, no ano passado, o recorde de entradas de migrantes irregulares era de 800 ao mês. A cada manhã, é possível ver no porto novos botes chegando ou pessoas resgatadas pela guarda costeira e até por turistas.

A ilha está também cheia de turistas, o que torna o cenário ainda mais caótico e perigoso, na avaliação da Acnur. Kos é hoje um forte destino turístico para famílias e jovens ingleses, alemães, holandeses, franceses e turcos. Há muitos bares, restaurantes e discotecas durante a noite, dezenas de barcos oferecendo passeios turísticos, muitas lojas de lembranças e produtos típicos. Por isso, há muito movimento o tempo todo, e os migrantes literalmente dividem o espaço com os turistas, evidenciando ainda mais o contraste entre essas duas realidades. A Acnur teme que um choque cultural possa ter consequências catastróficas.

Os migrantes permanecem na ilha porque precisam esperar receber uma documentação que lhes permita seguir viagem pela Europa. Como eles entram de maneira ilegal no país – ou seja, invadindo as águas da Grécia –, as autoridades gregas devem, em teoria, detê-los até verificar sua situação, como, por exemplo, se eles se encaixam no status de refugiado, o que lhes dá acesso à Europa.

Mudança na política grega

Mas, com a quantidade de gente, as autoridades locais não dão conta desse registro e por isso há imigrantes esperando mais de duas semanas. Enquanto isso, eles acampam em barracas ao longo do passeio marítimo da capital da ilha, Kos. A ONU ofereceu montar um centro de acolhida na ilha, para colocar essas pessoas e agilizar o processo de identificação de cada um, documentação e, se for o caso, deportação de quem não se encaixa no perfil de refugiado.
Mas a prefeitura, por enquanto, não aceita a proposta, alegando que isso pode provocar um efeito chamada. A situação é inédita para a ilha, e por isso tanto as autoridades como os moradores não sabem lidar com ela.

Kos está recebendo tanta gente só agora porque, até o ano passado, o governo grego, então nas mãos dos conservadores, ordenava que policiais da ilha devolvessem no ato à Turquia pessoas que entrassem ilegalmente em águas do país. Esta prática infringe as normas europeias, que determinam que os países devem receber essas pessoas, detê-las e, caso sejam refugiadas, conceder a elas o visto para estar na Europa.

Caso contrário, elas podem então ser devolvidas a seu país de origem. A ONU avalia que cerca de 30% dos que estão aqui, sobretudo paquistaneses e indianos, não se enquadram no status de refugiado e, por isso, podem ser expatriados.

 

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