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Linha Direta

Termo "bebê-âncora", usado por Trump, gera polêmica na campanha eleitoral dos EUA

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E os bebês, quem diria, foram parar na pauta do dia na disputa à sucessão de Barack Obama na presidência americana. O candidato à frente das pesquisas entre os republicanos, o empresário Donald Trump, combateu na semana passada o direito de cidadania ao nascimento dado a bebês de imigrantes não-documentadas que chegam grávidas aos EUA. Para tanto, ele usou o termo “bebês-âncora”, que recebem esta alcunha por aumentarem a possibilidade de seus pais não serem deportados pela Imigração.

O candidato Donald Trump causou polêmica com declarações sobre "bebês-âncora", em foto de 21 de agosto de 2015, onde mimetiza o conhecido gesto do "Mr. America".
O candidato Donald Trump causou polêmica com declarações sobre "bebês-âncora", em foto de 21 de agosto de 2015, onde mimetiza o conhecido gesto do "Mr. America". MARK WALLHEISER / GETTY IMAGES NORTH AMERICA / AFP
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Eduardo Graça, correspondente da RFI Brasil em Nova York

A tirada de Trump acabou levando a uma nova discussão em torno da reforma da Imigração nos EUA, tópico cada vez mais central na corrida presidencial de 2016.  A confusão criada por Trump não repercutiu apenas nos latinos e democratas mas dentro de seu próprio partido, que precisará do voto dos eleitores hispânicos para voltar à Casa Branca.

E confusão é a palavra certa, embora Donald Trump argumente ter apenas ecoado a opinião de militantes republicanos, insatisfeitos com o fato o de os EUA serem um dos dois únicos países do mundo desenvolvido a conceder cidadania automática para indivíduos que provem ter nascido no país. O outro é o Canadá. O problema é que o termo “bebê-âncora’ é considerado tão ofensivo quanto chamar os imigrantes não-documentados de “ilegais”. Estima-se que os EUA contém hoje  cerca de 12 milhões de trabalhadores não-documentados, a grande maioria deles pagando impostos locais e estaduais, e com laços de família com os 55 milhões de cidadãos hispânicos. Estes, por sua vez, pela primeira vez representarão mais de 10% dos eleitores americanos.

Voto hispânico é voto-chave

Se é possível os republicanos vencerem no ano que vem sem os votos dos hispânicos? Fica muito difícil. Estudos encomendados pelos próprios estrategistas republicanos estimam que, para vencer as eleições presidenciais, a direita precisa assegurar pelo menos 40% dos votos dos hispânicos. E a mais recente avaliação de um grupo independente, o America’s Voice, feita no mês passado por cientistas políticos da Universidade da Califórnia, diz que o número correto é, na verdade, 47% dos votos da população de origem latina, por conta da presença destes eleitores em estados importantes do colégio eleitoral. Para se ter uma ideia, Mitt Romney recebeu pouco mais da metade deste número em 2014. E Hillary Clinton, a mais forte dos candidatos democratas, tem uma aprovação maior do que Barack Obama entre os hispânicos.

Repercussão

A desastrada declaração de Trump não teve pernas curtas. O ex-governador da Flórida, Jeb Bush, que é casado com uma cidadã de origem mexicana, defendeu em seguida o direito de cidadania de bebês nascidos exclusivamente de imigrantes documentados, e citou seus colegas na disputa das primárias republicanas, os ultra-conservadores senadores Ted Cruz e Marco Rubio, como exemplos de beneficiários desta proteção constitucional, já que ambos são filhos de cubanos. Só que Jeb Bush usou novamente o termo “bebê-âncora”.

A ex-secretária de Estado, Hillary Clinton, não perdeu tempo e imediatamente corrigiu seus oponentes republicanos lembrando que o termo correto para se tratar de crianças de colo é “bebê”, sem âncora alguma. Ela também voltou a defender a implantação urgente de uma reforma do sistema de Imigração americano. Não por acaso, Clinton aparece em média com 64% de intenção dos hispânicos contra 27% de seu mais próximo adversário, Jeb Bush, nas pesquisas de opinião. Na prática, a cada tirada preconceituosa de Donald Trump, diminuem as chances de os republicanos retomarem a Casa Branca.

Trump no Brasil e conservadorismo

Curiosamente, as tiradas de péssimo gosto de Trump respingaram no Brasil. Na sexta-feira, o “New York Times” publicou reportagem mostrando que a inauguração de um hotel de luxo da rede Trump no Rio de Janeiro, por conta das Olimpíadas, um projeto de US$ 120 milhões, não despertou as ameaças de boicote a negócios do empresário que foram registradas em outros países da América Latina. O texto deu a entender, Eduardo, que a visão xenófoba da extrema-direita americana também ecoa no Brasil.

A reportagem trata das diferenças percebidas por brasileiros em relação a seus vizinhos na América Latina, e entrevista um parceiro local do empreendimento de Trump no Rio, o empresário Paulo Figueiredo Filho, de 33 anos, que se diz de acordo com as ideias de Trump, afirmando que os imigrantes ilegais – termo usado pelo brasileiro – causam mesmo uma série de problemas para a sociedade americana. A reportagem ecoou nas redes sociais e foi percebida, sim, como um retrato do aumento da força do conservadorismo à americana do Brasil e não ajudou o sobrenome do empresário brasileiro, que é neto de João Baptista Figueiredo, o último general a presidir o país durante a ditadura militar.

 

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