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Saúde em dia

Doença rara que provoca paralisia muscular se espalha pelo Nordeste do Brasil

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A incidência de uma doença imunológica rara tem crescido no Nordeste do Brasil desde o início do ano . Trata-se da síndrome de Guillain-Barré, que provoca fraqueza muscular e pode gerar paralisia em membros do corpo. Só no primeiro semestre já foram mais de 50 casos na Bahia, 14 no Maranhão, com três mortes, e 10 no Ceará.

A síndrome de Guillain-Barré afeta o sistema nervoso periférico
A síndrome de Guillain-Barré afeta o sistema nervoso periférico
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A infectologista Ceuci Nunes, diretora do Hospital Couto Maia, em Salvador, explica por que a doença tem se espalhado pela região: "A síndrome de Guillain-Barré é uma doença antiga e 70% das pessoas relatam um quadro infeccioso anterior. Nós tivemos no Nordeste um aumento dos casos de zika vírus, além da existência de dengue e chikungunya. Como existe na literatura médica relatos de aumento de síndrome de Guillain-Barré pós-epidemia de zika vírus na Polinésia Francesa a gente acha que uma grande possibilidade de o aumento dos casos ser devido à infecção por zika".

Marcondes Cavalcante França Júnior, coordenador do Departamento de Neurogenética da Academia Brasileira de Neurologia, diz que a questão ainda está sendo investigada, mas concorda que essas doenças infecciosas podem ser a porta de entrada para a síndrome.

"Quando o organismo desencadeia uma resposta imunológica para combater esses vírus ou bactérias que causam a infecção, às vezes essa resposta imunológica, ela é anormal, ao ponto de, além de matar o vírus ou a bactéria, ela também acaba lesionando e danificando o sistema nervoso periférico. Quando isso acontece é que se desenvolve a síndrome de Guillain-Barré", explica.

Diagnóstico precoce

Os dois médicos alertam que um diagnóstico precoce garante um tratamento rápido e a cura total da doença, que, em casos mais graves, pode deixar sequelas motoras. Os casos de morte, como no Maranhão, são raros e acontecem quando os músculos da respiração são afetados e a pessoa não é encaminhada a um hospital para receber ventilação mecânica.

"Geralmente a doença se inicia com um quadro de perda de sensibilidade e sintomas de formigamento e dormência, geralmente nos pés. A medida que passa o tempo, esse quadro se associa à perda de força. Uma característica é a progressão rápida da fraqueza muscular, que começa nos pés. Mas, ao longo de poucas horas ou poucos dias, ela tende a subir, ela tem um caráter ascendente. Vai afetando as coxas e pode chegar aos membros superiores", explica o neurologista França Jr.

O médico acrescenta que, em alguns casos, a síndrome pode afetar também a musculatura relacionada com a respiração." São os pacientes mais graves, que têm dificuldade de respirar. E em alguns casos há comprometimento da musculatura que controla a deglutição, então eles não conseguem se alimentar", diz.

A infectologista Ceuci Nunes explica como é o tratamento. "Utilizamos imunoglobulina, uma dose que varia de acordo com o peso do paciente, por via endovenosa. É importante a gente lembrar que é um medicamento de uso unicamente hospitalar", diz.

Jornalista apresenta sequelas

A jornalista Lucia Hipólito desenvolveu a síndrome em 2012, quando estava em férias em Paris. "No dia de embarcar para o Rio, quando me levantei para tomar banho e me vestir, minhas pernas não se mexiam mais. Chamamos o médico ao hotel, e ele achou melhor eu ser internada. No hospital eu fui diagnosticada", conta.

Lucia teve um caso mais agressivo da doença e, apesar de ter feito o tratamento à base de imunoglobulina, após três anos, ela ainda sofre com as sequelas. "Não ando, as minhas mãos estão meio tortas e a minha voz foi afetada também. Os médicos dizem que tudo pode melhorar, mas ninguém faz prognóstico."

Em geral, a moléstia evolui rapidamente, atinge o ponto máximo de gravidade por volta da segunda ou terceira semana e regride devagar. Por isso, pode levar meses até o paciente ser considerado completamente curado. Em alguns casos, a doença pode tornar-se crônica ou reincidir.

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