Europeus terão de dar resposta ao povo grego, mais do que ao governo de Atenas
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Dois dias após o estrondoso “não” do referendo grego, líderes europeus e ministros do Eurogrupo se reúnem, em caráter extraordinário, nesta terça-feira (7), em Bruxelas, para tentar salvar a Grécia – uma última chance para evitar que o país deixe a zona do euro. A retomada das negociações com os credores foi facilitada pela demissão do ex-ministro das Finanças grego, Yanis Varoufakis, que era um obstáculo às negociações.
Em Bruxelas, os líderes europeus também precisam se questionar sobre a possibilidade de oferecer um acordo melhor para a Grécia. Na verdade, a resposta da Europa tem de ser dada ao povo grego, muito mais do que ao governo de Atenas.
A Grécia deu um passo para a mudança com a saída de Varoufakis do governo. Agora, a bola está do lado da Europa, que precisa decidir como será o jogo daqui por diante. O primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, se comprometeu a apresentar uma nova oferta hoje. França e Alemanha exigem propostas concretas contra a crise. Seria, talvez, a última oportunidade para a Grécia permanecer na zona do euro.
Mas existe um problema real que é conseguir um consenso entre os 28 governos do bloco sobre um novo acordo para a Grécia. Nem sempre todos os países pensam na mesma direção. Até dentro do mesmo governo, há divergências, como é o caso da Alemanha.
Ontem, a chanceler alemã, Angela Merkel declarou que a porta ainda está aberta para a Grécia. Merkel estaria pronta a fazer concessões para manter o país no euro por causa de preocupações geopolíticas. Vizinha da Turquia e próxima do instável Oriente Médio, se fosse expulsa do bloco, a Grécia poderia se aliar a parceiros indesejáveis. Mesmo assim, o ministro da Economia alemão, Sigmar Gabriel, um dos pesos pesados do governo de Berlim, tem sido inflexível. Ele afirmou que Atenas terá que fazer uma oferta que supere as propostas anteriores, caso queira permanecer na zona do euro.
É preciso levar em conta também que a Europa demora muito para tomar decisões. Para se chegar a um acordo, como o que está em cima da mesa, foram necessários meses de negociações. Desta vez, se a Europa pretende salvar a Grécia, ela vai ter que agir rápido.
Dependência do Banco Central Europeu
A Grécia nunca foi tão dependente do Banco Central Europeu (BCE). Por hora, o BCE decidiu manter a linha de liquidez de emergência aos bancos da Grécia. Mas, a qualquer momento, a instituição pode voltar atrás e deixar de injetar dinheiro no sistema bancário grego, precipitando assim a saída do país da zona do euro.
É preciso lembrar que a Grécia tem uma dívida de 170% do PIB, e que os empréstimos do FMI e BCE são indispensáveis para bancar os gastos do Estado e manter o sistema financeiro funcionando. No momento, a única certeza é que a Grécia continuará mergulhada em uma terrível recessão, tendo pela frente quase 40 anos para pagar seus credores.
Em resumo, existem três cenários possíveis no horizonte grego: a negociação de um novo acordo; a saída da zona do euro negociada diplomaticamente, com o retorno de uma moeda nacional; e, por último, deixar os gregos à própria sorte com o colapso dos bancos no país.
Corrida contra o tempo
Atenas corre novamente contra o tempo para conseguir uma ajuda antes que os bancos fiquem sem dinheiro, e antes do vencimento de uma parcela de € 3,5 bilhões que deve ser paga ao BCE até o dia 20 de julho. Se o país não honrar o pagamento, o BCE pode declarar a insolvência dos bancos gregos e cortar a ajuda financeira, o que poderia resultar na saída do país da zona do euro.
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