Sob aplausos e protestos, centro de Bruxelas agora é só para pedestres
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A prefeitura belga se orgulha de ter aberto “a maior zona de pedestres da Europa”. Desde o último fim de semana, os carros estão proibidos em uma vasta área do centro de histórico de Bruxelas, um plano que visa devolver a área nobre para a circulação de pessoas. A medida, no entanto, enfrenta resistência de uma parcela dos habitantes, que a considera populista.
No total, 50 hectares agora são destinados aos pedestres. Os moradores que têm estacionamento próprio estão autorizados a entrar na zona, mas aqueles que deixavam o carro nas ruas precisarão estacionar o veículo na parte externa ao perímetro de pedestres. Quatro novos estacionamentos subterrâneos serão construídos para atender à demanda.
Quanto aos serviços de entregas para os comerciantes, podem funcionar apenas das 4h às 11h. Veículos de emergência e serviços excepcionais, como encanador, podem entrar na zona de pedestres a qualquer hora.
O prefeito da cidade, Yvan Mayeur, avalia que a intensa presença de carros estava empobrecendo o centro de Bruxelas. “O centro de Bruxelas era uma grande via de carros, uma autoestrada urbana que dividia a cidade em duas, causava uma fratura entre os bairros. Nós decidirmos colocar um fim nisso”, explica. “É um novo paradigma: nós abandonamos a cidade que se constrói e se alarga em benefício dos carros e da indústria automobilística, para dar espaço a uma cidade ocupada pelos cidadãos, os habitantes.”
O aumento das áreas exclusivas para pedestres é uma tendência em cidades europeias, como Paris e Roma. Em Bruxelas, que propõe o perímetro mais vasto até agora, um plano de tráfego nos arredores do centro vai ser testado durante oito meses. O objetivo é ajustar as medidas e propor outros itinerários para os carros que costumavam passar pela área central.
“Não é uma questão de tendência: é uma questão de sobrevivência das cidades. Todos nós devemos agir para modificar a situação das nossas cidades, que estão tomadas por carros e congestionamentos o dia inteiro”, avalia. “Estamos falando de problemas ambientais, de saúde pública. Eu acho que, hoje em dia, nenhuma cidade tem o direito ficar sem agir contra isso.”
Protestos
Nem todo mundo ficou satisfeito com o projeto da prefeitura. Associações de moradores avaliam que o plano foi mal concebido e vai resultar em transtornos para os bairros vizinhos do centro, com o aumento dos engarrafamentos, da poluição e do barulho. Além disso, os habitantes temem que o comércio do centro acabe se voltando apenas para o turismo.
“A zona de pedestres não deve esmagar as outras modalidades que existem em uma cidade. Nós concordamos com uma área de pedestres equilibrada, em harmonia com as outras funções e habitantes do bairro. E não é isso que está acontecendo”, reclama o representante do bairro Mohamed Benzaouia. “Estão criando grandes problemas de tráfego. A qualidade do ar e de vida dos habitantes vai se degradar, afinal querem desenvolver o turismo de massa e promover cada vez mais grandes eventos aqui no centro.”
Desafio para as cidades
O arquiteto urbanista Jean-Jacques Terrin, autor de Le Piéton dans la Ville, l’espace public partagé, observa que, desde o século 18, o homem busca aprimorar a velocidade – mas agora redescobre os prazeres da lentidão.
“O desafio das cidades hoje é privilegiar os dois: a velocidade, porque todo mundo quer chegar rápido no trabalho, na universidade ou no mercado, e o passeio, que virou um valor. Como conciliar isso? Há cidades que não necessariamente são feitas para andar a pé, mas desenvolveram estratégias para promover a caminhada”, lembra o especialista. “Cidades como Vancouver, Nova York, Melbourne ou Londres são feitas para o carro, mas conseguem conciliar os dois, sem terem se tornado exclusivas para pedestres.”
Recentemente, Paris ampliou a quantidade de ruas nas quais a velocidade máxima é de 30 km/h. O objetivo da prefeitura é que toda a capital francesa circule mais devagar até 2020.
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