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Um ano antes das Olimpíadas, morte de ciclistas no Rio tem repercussão internacional

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Os crimes violentos registrados recentemente no Rio de Janeiro têm chamado a atenção bem além das fronteiras brasileiras. Pouco mais de um ano antes do início dos Jogos Olímpicos, a morte do médico Jaime Gold, esfaqueado quando andava de bicicleta da Lagoa Rodrigo de Freitas, local onde serão realizadas algumas provas náuticas da competição, ganhou repercussão internacional. Especialista ouvida pela RFI considera que os episódios refletem o fracasso das políticas de segurança pública na cidade.

Bicicleta na Lagoa Rodrigo de Freitas lembra o assassinato do médico Jaime Gold.
Bicicleta na Lagoa Rodrigo de Freitas lembra o assassinato do médico Jaime Gold. REUTERS/Pilar Olivares
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O diário francês Libération fala de uma “onda de agressões com facas na cidade-sede dos Jogos Olímpicos de 2016”, enquanto o jornal norte-americano Wall Street Journal lembra que o assassinato do médico de 52 anos “em um bairro rico” é o caso mais recente de uma série de ataques na região. A agência de notícias AFP também relata que o episódio desta terça-feira (19) acontece apenas algumas semanas após um francês de 19 anos ter sofrido o mesmo tipo de ataque quando andava de bicicleta em volta da Lagoa Rodrigo de Freitas, e poucos dias depois de uma turista vietnamita ter sido esfaqueada no Centro do Rio.

A socióloga Vera Malaguti, professora de criminologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, lembra que essa região da cidade já havia sido palco de outros episódios semelhantes nos últimos meses e que um policiamento maior deveria ter sido previsto em volta da Lagoa. Mas ela ressalta que a violência não está presente apenas nos bairros nobres e turísticos, mesmo se a mídia nem sempre noticia o que acontece no resto do Estado. “No dia que o médico foi esfaqueado, a polícia civil matou dois jovens na Ilha do Governador, mas isso não teve tanto impacto. A repercussão é sempre maior e mais dramática quando se trata de vítimas de classe média, da Zona Sul, algo constante no Rio de Janeiro”, analisa.

Relação truculenta entre polícia e população

Para a professora, que também é secretária-geral do Instituto Carioca de Criminologia (ICC), o aumento da violência reflete o fracasso da estratégia de segurança pública implementada na cidade. “As políticas de recolhimento compulsório de jovens pelas ruas, de aumento das prisões e de brutalidades policiais, e principalmente, o sufocamento de uma voz juvenil das favelas, produziram, economicamente, uma ‘descida’ para atividades criminosas pelas ruas da cidade, mas também um espécie de bronca da população como um todo”, comenta a socióloga.

Ela também aponta a parte de responsabilidade das UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora), que teriam reforçado as tensões entre policiais e moradores. “A política de ocupação militar, que é baseada em modelos estadunidenses e israelenses de segurança máxima”, e que não leva em conta a ação das associações de moradores e organizações populares das favelas, só teria piorado uma “relação historicamente muito truculenta entre a polícia e a população”.

Outro aspecto histórico salientado pela socióloga é a questão racial, sempre presente quando o assunto é segurança no Brasil. “Ontem mesmo eu passei pela Lagoa e vi a polícia parando os jovens negros que andavam de bicicleta”, relata.

Situação não deve mudar até os Jogos Olímpicos

Fora do Brasil, todos os olhos estão voltados para a questão da segurança durante os Jogos Olímpicos, quando milhares de turistas são esperados no Rio de Janeiro. O jornal francês Libération lembra que desde 2008 as autoridades da cidade lançaram a política de pacificação para tornar a cidade mais segura, não apenas para a Copa do Mundo de 2014, mas também para as Olimpíadas. No entanto, para Vera Malaguti a estratégia de segurança prevista para o evento não é adaptada. “Infelizmente, vai ser o mesmo projeto elitista, que vai impedir a movimentação do povo do Rio de Janeiro, criando corredores de segurança que vão reprimir os movimentos políticos, como durante a Copa do Mundo, e a circulação dos pobres pela cidade”, finaliza.

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