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Reportagem

Expedição científico-militar percorrerá a pé os 320 km que separam Brasil e Guiana

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A partir do dia 2 de junho, uma expedição científico-militar francesa percorrerá a pé, pela primeira vez, os 320 quilômetros que separam o Brasil da Guiana Francesa. Entre os objetivos científicos da missão estão o mapeamento dessa região pouco conhecida entre o Parque Nacional da Guiana, do lado francês, e o Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque, em território brasileiro; a atualização das fronteiras; e a catalogação da diversidade biológica. Do ponto de vista militar, os quinze legionários aproveitarão para treinar a progressão em mata fechada, compreender a extensão das atividades humanas na região e reafirmar a soberania francesa sobre a localidade, ameaçada pela mineração ilegal.

Homens do Terceiro Regimento da Legião Estrangeira treinam na selva da Guiana Francesa
Homens do Terceiro Regimento da Legião Estrangeira treinam na selva da Guiana Francesa CCM 3e REI
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Essa expedição poderia aumentar o tamanho do território francês? "Teoricamente, sim", responde o geógrafo François-Michel Le Tourneau, diretor acadêmico do Centro Francês de Pesquisa Científica (CNRS) e coordenador da equipe científica. Mas não será um crescimento expressivo, "no máximo alguns hectares".

Le Tourneau explica ainda que existe uma comissão binacional de fronteiras que toma decisões sobre essa questão. "O que podemos fazer é alertar os brasileiros sobre o fato de que, em tal ou tal lugar, é preciso fazer retificações. Depois, os brasileiros podem ter diversas reações. Ou dizer: 'mostrem onde muda, ok, estamos de acordo'. Ou ainda, 'Não. Nós vamos verificar se vocês trabalharam bem e ver os lugares por nós mesmos'".

Mineração clandestina

O general Alain Walter, comandante militar da operação, brinca: "conhecendo os brasileiros, tenho certeza de que eles não dirão 'sim'". Ele, que comanda o Terceiro Regimento da Legião Estrangeira desde julho de 2013, explica que a missão permitirá igualmente mapear indícios de infrações na região - em especial, a ultrapoluente mineração clandestina de ouro.

"A gente trabalhou muito na luta contra os mineradores ilegais, o que me deu um pouco de liberdade de ação e manobra, para que eu pudesse me concentrar em outras coisas", afirma Walter. "Antes, efetuávamos com regularidade missões de soberania. A grande diferença é que não fazíamos sete ou oito com base em ocorrências, mas fazíamos uma ou duas, que duravam um, dois meses. A maior parte de nossos esforços agora se concentram no lançamento de foguetes, que têm aumentado, e na luta contra a mineração".

De acordo com ele, a missão agora "é saber se tem muita gente lá e garantir que, no parque da Guiana, não haja mineradores trabalhando perto da fronteira. E claro, a missão 'mais militar' é aumentar nosso know-how de sobrevivência na floresta".

Sacrifício

Como se pode imaginar, é uma missão difícil, que levará tanto civis quanto militares aos limites de suas capacidades físicas e psicológicas. O coronel Alain Walter explica que "só de comida, são dez quilos" por pessoa.

"Então os homens carregarão mochilas de 25, 30 quilos. O terreno estará escorregadio porque é o fim da temporada de chuva", conta. Por que fazer na temporada de chuva? "Porque precisamos de água. Precisamos de volume d'água para que não tenhamos de descer demais o rio para buscar água. Não partimos com muita coisa para a floresta. Partimos com a roupa do corpo, sabonete, uma ou outra muda de roupa".

Então, os homens têm de lavar roupas todas as noites. "De manhã, vestimos a roupa molhada, mas limpa. A questão da saúde é uma problemática real. É por isso que temos um médico, para administrar a saúde dos legionários durante toda a expedição", descreve Walter.

Para Le Tourneau, que estará acompanhado do botânico inglês William Milliken e do etnofarmacólogo Guillaume Odonne, também do CNRS, o sacrifício valerá a pena. "É uma região completamente isolada, o que é ao mesmo tempo vantajoso e inconveniente. Vantajoso em relação à preservação do meio ambiente. É uma zona extremamente vasta, deserta, e repleta de unidades de preservação ambiental. Os parques ecológicos são bastante simbólicos porque evidentamente a materialização dessa proteção é muito difícil por conta da distância entre os lugares. Essa preservação do ambiente é ao mesmo tempo difícil porque é uma zona rica em recursos - principalmente ouro - e os mineradores ilegais percorreram vastas parcelas dessa região. Não sabemos se eles permaneceram na linha fronteiriça ou se penetraram mais profundamente", conclui.

A expedição poderá ser acompanhada tanto pelo Twitter quanto pelo blog do CNRS.

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