Sem inovação e competitividade, Brasil voltará aos tempos de colônia
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Será que o Brasil está entendendo que o mundo está mudando – e mudando rapidamente? É claro que não dá mais para ficar esperando um aleatório novo “milagre econômico” para tirar o país do buraco em que se meteu. Também não dá para ficar achando que vai prosperar só vendendo comidinha e minério para o resto do mundo E mantendo uma economia cada vez mais atrasada na base de subsídios tirados do bolso do contribuinte.
O carnaval da época da “globalização feliz” foi-se, quando bastava vender soja e ferro para a China a preços estratosféricos, enchendo o bolso dos consumidores nacionais com créditos públicos e o das empresas com empréstimos de mão beijada, também públicos. Hoje estamos vivendo uma quarta-feira de cinzas de ressaca a perder de vista e não há Necroton que ajude.
Mas pelo visto, alguma luz pode aparecer no fundo do túnel. E pode ser que não seja a da locomotiva vindo em sentido contrário. O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, num recente pronunciamento em Londres para uma conferência de investidores internacionais, anunciou que o Brasil ia lançar uma nova iniciativa em matéria de comércio internacional, explorando a possibilidade de um acordo de facilitação de negócios com a União Europeia.
Além de confirmar a manutenção de uma política de austeridade macroeconômica ortodoxa, com diminuição dos gastos públicos e prioridade à luta contra a inflação, Levy também surpreendeu a todos declarando que o foco dos financiamentos do BNDES deveria ser o de promover novos projetos empresariais em vez de continuar financiando atividades já existentes. Caramba! Uma verdadeira revolução nesses tempos de Lava-Jato.
O ministro embrulhou tudo isso num pacote voltado a aumentar rapidamente a produtividade e a competitividade da economia brasileira. Até que enfim! O novo ativismo em matéria de comércio internacional, se vingar, é absolutamente essencial. Aliás, há pouco tempo, o ministro da Indústria e Comércio Exterior já se pronunciara a favor de uma flexibilização das regras do Mercosul.
Negociações sem o bloco
Uma maneira de permitir que os países membros possam negociar acordos com terceiros sem ter que passar por negociações em bloco. Há tempo que os Europeus, enfadados com a paralisia das negociações com o Mercosul, esperam que o Brasil acabe dialogando diretamente, de maneira bilateral, sem o poder de veto dos argentinos e o peso do Mercosul, com suas duas outras “malas” que são a Venezuela e a Bolívia em processo de adesão.
Na verdade, o Brasil não pode esperar por seus ‘parceiros mercosulinos’. A Europa está negociando com os Estados Unidos um acordo bilateral (o TTIP) que pode ter um impacto fundamental para o comércio e a economia global. Não se trata mais só de reduzir tarifas, mas de definir regras e standards, assim como mecanismos para decidir as regras da futura economia global.
Mesmo se as duas potências – que representam quase 60% do consumo privado mundial – conseguirem só um terço do que está em jogo, serão elas que vão ditar as regras da produção e do consumo para boa parte do século XXI. O Brasil tem que encontrar um jeito de ter alguma voz nesse processo se não quiser ficar para trás durante décadas.
Brasil precisa investir em inovação
Na verdade, a economia brasileira está cada vez mais imprensada entre a concorrência das grandes cadeias de valor de produção de massa, centradas na Ásia, nos Estados Unidos e na Europa, e o desenvolvimento extremamente rápido da nova economia digital, sobretudo nos Estados Unidos e chegando na Europa. Essa nova economia requer um alto grau de inovação permanente, tecnológica e científica, assim como imensas capacidades de financiamento de novas maneiras de consumir e produzir, cada vez mais dependentes dos serviços embutidos nos produtos.
Inovação, produtividade e competitividade são portanto a alma do negócio. Sem elas, o Brasil não terá a mínima condição de enfrentar as grandes cadeias de produção de massa. E nem será capaz de tentar um upgrade para a classe executiva da economia digital e do conhecimento. Estará condenado a voltar aos tempos da colônia, vendendo matéria prima a preço de banana. Vai sobreviver, claro, mas muito pobre e muito mal!
- Alfredo Valladão, do Instituto de Estudos Políticos de Paris, escreve às terças-feiras para a RFI.
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