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Reportagem

Jurado do MasterChef diz que programa contribui para evolução da culinária no Brasil

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"O MasterChef abriu as portas da gastronomia a muitas pessoas no Brasil", diz um dos chefs franceses mais célebres do país, e responsável pela cozinha do renomado Tartar&Co, em São Paulo, Erick Jacquin. Ele conversou com a RFI durante as gravações da segunda temporada do programa, que começa a ser transmitida na próxima terça-feira, dia 19 de maio, pela Band.

O chef francês Erick Jacquin é um dos jurados do programa MasterChef, transmitido no Brasil pela Band.
O chef francês Erick Jacquin é um dos jurados do programa MasterChef, transmitido no Brasil pela Band. CLAUDIO ELIZABETSKY/Divulgação Erick Jacquin
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Reality show de sucesso que começou a ser exibido no Reino Unido nos anos 90 e ganhou versões em todo o mundo, inclusive na França, o MasterChef estreou no ano passado no Brasil. Apresentado por Ana Paula Padrão, com a participação de 16 candidatos e três chefs como jurados, o brasileiro Henrique Fogaça, o francês Erick Jacquin, e a argentina Paola Carosella, o MasterChef caiu no gosto dos brasileiros. A primeira edição do programa foi um sucesso e bateu recordes de audiência.

Erick Jacquin é uma das estrelas do MasterChef, onde ficou famoso por ser extremamente severo com os competidores. Em entrevista a RFI, ele falou sobre o sucesso inesperado do programa, sua vida no Brasil, onde fixou residência há 20 anos, e a evolução da gastronomia brasileira.

RFI - Quando você aceitou participar do MasterChef Brasil, você esperava que o programa teria tanto sucesso?

Erick Jacquin - Não imaginava que teria todo esse sucesso, me surpreendeu muito. E mudou a minha vida. Sou frequentemente abordado e reconhecido nas ruas. Tem gente que nem sabe o meu nome, mas vem conversar comigo me chamando de "MasterChef".

RFI - Você está gravando a segunda temporada do MasterChef Brasil. Pode nos dizer se vai ter algo de diferente ou alguma novidade ?

Erick Jacquin - A diferença da segunda temporada em relação à primeira é que agora os candidatos já têm uma referência do programa. Então, os competidores estão sabendo entrar mais no jogo, são mais atenciosos e espertos, o que permite ao programa a se focar menos nos personagens e mais na cozinha.

RFI - Havia a expectativa de os jurados serem mais exigentes com os candidatos nesta temporada.

Erick Jacquin - Sim, somos mais exigentes porque queremos mais novidades, criatividade e elegância nas criações dos candidatos.

RFI - Na primeira temporada você provou muita comida ruim?

Erick Jacquin - Não posso falar que a comida era ruim. Podemos dizer que ela estava sem sal, sem tempero, mas ruim não porque todos os produtos à disposição dos candidatos são de qualidade.

RFI - Mas você ganhou uma fama de "durão" ao reclamar dos pratos que os candidatos preparavam…

Erick Jacquin - Eu sempre tive essa fama. As pessoas que já trabalharam comigo sabem que eu sou severo. Sou exigente com os outros e comigo mesmo.

RFI - Mas você é exigente no dia-a-dia ou criou uma personagem para o MasterChef?

Erick Jacquin - Não criei nada. O Erick Jacquin da vida real é o mesmo do programa.

RFI - Além de pilotar seu restaurante, o Tartar&Co, participar do MasterChef, você também gosta de dar palestras sobre o universo da gastronomia. Uma delas, inclusive, foi intitulada de "Minha Fama de Mau". Você acha que é a personalidade mais brincalhona e menos séria dos brasileiros que ressalta sua imagem de malvado?

Erick Jacquin - Eu vejo que os brasileiros não sabem falar "não". Dizer "não", no Brasil, é como um palavrão. Os brasileiros dizem "pode ser", "vou pensar", "vamos ver". E eu sou uma pessoa direta: eu digo quando não gosto. Se eu não quiser falar com você, não vou falar. Não vou pegar um caminho ao lado se posso seguir em frente.

RFI - Da cozinha, você começou a dar palestras e, depois, você passou para a televisão. Você diz que gosta de contar sua trajetória. Qual é a parte de sua vida que você tem mais orgulho?

Erick Jacquin - Eu tenho orgulho de toda a minha história. Não tenho vergonha de contar que passei dificuldades no Brasil, como muita gente sabe. Não é fácil de ser cozinheiro, chef e administrador. Tive essa fase complicada com um de meus restaurantes, mas em geral, tenho muito orgulho do meu trabalho, especialmente de ser cozinheiro. Essa é a minha paixão. E eu gosto de falar sobre minha vida. Acho muito importante contar o que fiz de bom e ruim, para não repetir os erros.

RFI - Em várias de suas entrevistas, você mencionou as épocas difíceis de sua vida no Brasil. Parece que para você é importante mostrar que nem tudo é sucesso em sua carreira.

Erick Jacquin - A gente não pode pensar que tudo é maravilhoso no Brasil. Nem tudo é praia e sol aqui. Esse país precisa mudar muita coisa, como a lei trabalhista e os impostos. Essa legislação data de 50 anos e não é adaptada hoje para empresas pequenas, como a que eu tinha. Hoje, uma pequena empresa não sobrevive muito tempo no Brasil.

RFI - Da época de seu primeiro restaurante no Brasil, o La Brasserie, quais são as melhores lembranças que você guarda?

Erick Jacquin - Os clientes, a cozinha aberta em frente ao público, o restaurante lotado com espera no bar, a alegria dos funcionários que trabalhavam comigo, o prazer de fazer pratos bonitos, as mesas floridas, a adega cheia de bons vinhos… tudo. Foi espetacular para mim.

RFI - Você nasceu no Vale do Loire, região central da França, e começou sua carreira em Paris. Como você foi parar no Brasil?

Erick Jacquin - Eu sempre digo que nasci do lado errado do rio, o lado pobre. Comecei a trabalhar na cozinha com 17 anos, em Paris. Aprendi muito e um dia fui convidado a chefiar uma cozinha. Sete, oito anos depois, fui convidado a trabalhar em São Paulo por um dono de restaurante - que é meu amigo até hoje - e isso mudou minha vida. Até que resolvi abrir meu primeiro restaurante, onde vivi épocas maravilhosas e épocas de pesadelo.

RFI - Depois de 20 anos no Brasil, você diz que ama o país, se naturalizou brasileiro, mas fala também que sempre será francês.

Erick Jacquin - É muito difícil mudar de nacionalidade. Eu nasci na França e sempre vou ser francês, não tem outro jeito. A verdade é que nunca vou ser considerado como um verdadeiro brasileiro e nunca vou deixar de ser francês. Dividir meu coração entre duas personalidades é possível, mas ser totalmente brasileiro é impossível.

RFI - Do que você mais sente falta na França?

Erick Jacquin - De tudo o que é francês e que não tem no Brasil. É engraçado porque quando estou na França tenho muita saudade do Brasil e quando estou no Brasil sinto falta da França. Mas algo que sinto muita falta e que eu fazia muito em Paris é de andar na rua. Em São Paulo é muito difícil andar a pé, não tem segurança.

RFI - Como você avalia a culinária brasileira hoje?

Erick Jacquin - A gastronomia brasileira passou por uma grande evolução. Ela mudou e está mais conhecida. Mas ainda precisa se modernizar e se atualizar. E isso só quem pode fazer são as donas e os donos de casa. O patrimônico gastronômico do Brasil está na casa e na cultura dos brasileiros.

RFI - Dos pratos típicos brasileiros, qual o seu preferido?

Erick Jacquin - Eu adoro arrumadinho, carne seca e, lógico, feijoada. Mas eu não gosto daquela feijoada moderna, onde vem tudo separado. Eu gosto da tradicional, onde vem tudo: pé de porco, orelha, rabo… Não gosto da feijoada sofisticada. Porque tem coisa que não pode mudar porque a versão tradicional é melhor.

RFI - Você acredita que o Masterchef Brasil contribuiu, de alguma forma, para despertar o interesse dos brasileiros para a gastronomia?

Erick Jacquin - Claro! O Masterchef abriu as portas da gastronomia a muitas pessoas. E, principalmente, vai modernizar a comida caseira, aquela que é feita no dia-a-dia.

RFI - Atualmente é possível se tornar um bom chef no Brasil?

Erick Jacquin - Antes de pensar em se tornar um bom chef de cuisine, é preciso formar bons cozinheiros. São os excelentes cozinheiros que, depois, vão virar chefs. É esse o segredo. E isso é possível em qualquer lugar do mundo. O Brasil tem muito potencial para formar bons cozinheiros e chefs: ingredientes, material, produtos naturais e um público que gosta de comer. E isso é essencial, porque sem pessoas apaixonadas pela gastronomia é impossível ter bons cozinheiros, chefs e restaurantes.

RFI - Você recebeu a Ordem Nacional da Legião da França no ano passado, está no alto do pódio gastronômico do Brasil, tem um restaurante renomado (Tartar & Co), recebeu diversos prêmios, é a estrela de um programa famoso de televisão… o que mais você almeja para a sua carreira ?

Erick Jacquin - Eu sou muito feliz e tudo o que quero é continuar assim. Gostaria muito de um dia fazer uma peça de teatro e atuar, falando da gastronomia. Estou preparando um projeto dentro dessa ideia.

RFI - Enquanto você é jurado do MasterChef Brasil, na França a família Jacquin também tem um representante na quinta temporada do MasterChef France, que está sendo gravada e é transmitida pela emissora TF1.

Erick Jacquin - Isso é muito interessante. Tem um primo meu participando como candidato na quinta temporada do MasterChef na França. O nome dele é Philippe Jacquin, que é médico e apaixonado por gastronomia. Como você vê, MasterChef é um caso de família…

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