Violência em Baltimore traz à tona desigualdade racial, social e econômica
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Depois de uma segunda-feira marcada por manifestações violentas desencadeadas pela revolta da comunidade negra contra a polícia de Baltimore com a morte de Freddy Gray, 25 anos, causada por uma lesão da coluna vertebral, que ocorreu enquanto o jovem estava dentro de uma viatura policial, após ser preso, em 12 de abril. Os americanos, mais uma vez, têm de se questionar sobre a persistente presença do racismo, desigualdade social e violência dentro de sua sociedade.
Lígia Hougland, correspondente da RFI Brasil nos Estados Unidos
A situação em Baltimore ainda está tensa. Uma partida do Baltimore Orioles, o adorado time de beisebol da cidade, contra o White Sox, de Chicago, depois de ser protelada duas vezes, foi programada para ser disputada nesta quarta-feira (29), sem a presença de fãs no estádio. As escolas voltaram a funcionar hoje, depois de ficarem fechadas ontem (28).
As autoridades declararam toque de recolher para as 22h pelos próximos dias, e o país inteiro assistiu ansioso aos noticiários para ver se a medida seria respeitada nessa terça-feira ou se haveria ainda mais violência e depredação na cidade.
Mas, aos poucos, a população que ainda estava nas ruas depois das 22h foi se recolhendo, depois que a polícia atirou granadas de fumaça. Houve poucas prisões e os poucos confrontos foram rapidamente contidos.
Violência criticada
Os atos de vandalismo e violência testemunhados nessa segunda-feira foram repudiados pela comunidade negra na vizinhança onde residia Freddy Gray, chamada de Sandtown-Winchester, e também pela família do jovem. Além disso, a polícia de Baltimore ganhou reforço com dois mil homens da Guarda Nacional e mais mil policiais de localidades próximas à cidade.
A comunidade negra dessas áreas pobres de Baltimore já vinha protestando há dias, mas de modo pacífico. Os distúrbios foram causados principalmente por jovens membros de gangues.
No entanto, a cidade voltar à sua situação normal, não significa necessariamente que os problemas vão desaparecer, pois o normal da cidade é viver com pobreza e violência, especialmente em áreas predominantemente negras.
A cidade, que fica a cerca de 100km da Casa Branca, nunca se recuperou do fechamento das usinas siderúrgicas que garantiam sua economia até a década 70.
Depois, até a crise financeira de 2008, a população desprivilegiada era alvo de bancos que ofereciam financiamentos predatórios, o que fez com que muitos ficassem sem casa e com dívidas que nunca conseguiriam pagar.
Divisão racial
Um fator constante que contribui com o cenário pessimista da cidade é a divisão racial. Mais de 60% da população de Baltimore é negra, e os negros americanos, de modo geral, vivem em uma sociedade ainda segregada e com sérios problemas socioeconômicos, que levam ao crime e ao desemprego.
A taxa de desemprego em Baltimore é de 8,9%, enquanto que a taxa nacional é de 5,8%. Na vizinhança do jovem que foi morto sob custódia da polícia, a taxa de desemprego chega a quase 52%. A renda média anual dessa mesma vizinhança é de US$ 24 mil, enquanto que a renda média anual nacional é de US$ 52 mil e a do estado de Maryland é de cerca de US$ 73 mil. A disparidade é enorme.
Sempre que há uma situação de protestos e distúrbios, a sociedade discute como pode mudar esse ambiente. Mas, para haver uma mudança, é preciso contar com um investimento pesado na comunidade, especialmente em educação e oportunidades de emprego.
Barack Obama condenou os atos de destruição e disse que é preciso que tanto os criminosos quanto a polícia de Baltimore façam uma profunda autoavaliação.
O presidente americano também disse que, se os americanos querem mesmo que esse tipo de problema seja extinguido, é preciso contar com a contribuição de toda a sociedade. No entanto, Obama não pareceu confiante de que sua solução fosse ser realmente posta em prática.
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