Nas redes sociais, milhares de pessoas prometem voltar às ruas neste domingo (12) contra o governo federal. Centenas de cidades anunciam manifestações com slogans contrários à presidente Dilma Rousseff e o PT (Partido dos Trabalhadores). Mas, segundo especialistas, a demanda pelo impeachment enfraqueceu, em relação aos protestos ocorridos em 15 de março.
As manifestações são organizadas por nove movimentos, que giram em torno de três grupos principais. Todos estão insatisfeitos com Dilma, mas se diferem em relação à saída da presidente.
O Vem para a Rua é visto como o mais moderado, ao criticar tanto o governo, quanto a corrupção do sistema político brasileiro como um todo, e ao defender a renúncia da petista. Em seguida, o Movimento Brasil Livre prega os valores da direita e pede o impeachment da presidente. Por fim, o Revoltados Online é o mais radical contra o PT, e chegou a querer uma intervenção militar para destituir Dilma do Planalto.
A capacidade de mobilização dos protestos, entretanto, ainda é uma incógnita. Na avaliação do sociólogo e cientista político Paulo Baía, a revolta dos manifestantes de março diminuiu ao longo das últimas semanas. “No dia 15 de março, o clima de indignação e de insatisfação era bem maior do que hoje, em função da atuação política do PMDB, que tem tentando neutralizar a crise política, embora ainda a estejamos vivendo. Há uma organização melhor em relação ao 15 de março, quando as pautas eram muito diversas.”
O professor da UFRJ ressalta que a própria oposição atrofiou a demanda pela saída da presidente por meio de um impeachment. “A tese do impeachment foi neutralizada ao longo deste mês, sobretudo devido à ação do PMDB, que está sendo o fiel da balança. O PMDB no Congresso se colocou contra o impeachment, Fernando Henrique Cardoso também declarou que o impeachment não era necessário”, afirma. “Isso esvaziou essa pauta, mas reforçou a que a pede a renúncia da presidente, o fora Dilma.”
Falta de hábito
O cientista político Francisco Fonseca, da Fundação Getulio Vargas, lembra que a maioria dos manifestantes de março pertence a uma fatia da sociedade pouco acostumada a ir para as ruas se manifestar. Por isso, a mobilização pode ter caído. Por outro lado, ele argumenta que a oposição continua estimulando os protestos, assim como a imprensa – dois fatores que podem pesar na participação nos atos do próximo domingo.
“Hoje, a mídia no Brasil é quase um partido político. Quase todos os meios de comunicação fizeram praticamente um chamado para que houvesse as manifestações, desde um mês antes”, avalia. “Além disso, o governo de São Paulo, do PSDB, chegou a mudar os horários dos jogos de futebol, como forma de estimular a participação das pessoas.”
Fazer Dilma “sangrar”
Fonseca concorda que a defesa do impeachment se tornou minoritária. O especialista ressalta que, para a oposição, o enfraquecimento do governo é mais interessante do que a saída da presidente.
“A ideia de impeachment só é defendida por algumas pessoas que não têm muito conhecimento sobre a própria política, afinal o próprio sistema político não tem interesse que isso aconteça. O que interessa à oposição é desgastar a Dillma, que ela passe quatro anos sem governar”, explica. “É a aposta do caos, para que o Partido dos Trabalhadores seja completamente derrotado e a oposição ganhe com facilidade. Um eventual impeachment embaralharia o jogo – seria o PMBD quem assumiria o poder.”
Baía ressalta que, apesar de surpreso com a amplitude dos protestos de março, o governo pouco fez para reagir à indignação das ruas. “O governo está perdido, e demorou muito a agir. Só agora tomou medidas mais efetivas de articulação política e, ao mesmo tempo, não reconhece que tem que fazer mudanças de rota no governo – pelo menos não reconhece publicamente. Isso faz com que o clima de indignação continue”, analisa.
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