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Fato em Foco

Voo MH 370: após um ano, familiares não conseguem fazer o luto das vítimas

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Neste domingo, acontece o aniversário de uma das maiores incógnitas da história da aviação civil. No dia 8 de março de 2014, o Boeing 777-200 da Malaysia Airlines, que fazia o trajeto entre Kuala Lumpur e Pequim, desapareceu com 239 pessoas a bordo, em algum lugar do oceano Índico. Um ano depois, o mistério do voo MH370 continua sem resposta - e impede as famílias das vítimas de fazerem o luto da perda dos parentes que estavam na aeronave.

A mãe de um dos passageiros do voo MH370 mostra a foto do seu neto, que também morreu.
A mãe de um dos passageiros do voo MH370 mostra a foto do seu neto, que também morreu. REUTERS/Olivia Harris
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Nem corpos, nem destroços. Até hoje, nenhum traço do avião foi recuperado pelas equipes de buscas, apesar dos investimentos pesados feitos nas operações. No total, mais de 4,6 milhões de quilômetros quadrados foram vasculhados em pleno mar, sem sucesso. O jato pode se transformar no primeiro a jamais ter sido encontrado, depois da perda do contato com os controladores aéreos.

Nesta semana, a Austrália garantiu que não vai suspender as buscas, apesar de as esperanças por resultados se reduzirem com a passagem do tempo. Enquanto isso, a angústia por notícias impede os familiares das vítimas de se conformarem com a tragédia.

A maioria dos passageiros, 153, tinha nacionalidade chinesa. Nas proximidades de Pequim, as autoridades instalaram um centro de apoio e informações para os parentes, que está sempre ocupado. A correspondente da RFI na cidade, Heike Schmidt, foi ao encontro dessas pessoas.

Dai Shuqin perdeu cinco parentes: a filha, o genro, um neto, a irmã e o cunhado. Ele relata que, além da dor pelas mortes, precisa suportar a pressão das autoridades para que abandone a busca por respostas. Segundo ele, policiais à paisana se infiltram nos grupos de familiares. Para Dai, o governo teme que qualquer agitação popular se transforme em um movimento de revolta.

“Não suporto essa presença da polícia. Quero vir aqui todos os dias, mas tenho medo dos policiais. Eles fazem pressão para deixarmos tudo de lado. Até na minha casa eles já vieram”, afirma.

Jian Hui, filho de uma passageira do voo, conta que parentes já foram detidos por terem levado uma bandeira de protesto ao centro de informações. Outros foram levados à força para fora do local com a justificativa de já estarem “há tempo demais” na sala.

Prisões

No total, cerca de 30 detenções provisórias já teriam ocorrido desde o acidente – inclusive crianças. Segundo Jian, a cada vez que os familiares querem organizar um encontro com advogados, o acesso à sala de reuniões é bloqueado. E quanto mais as autoridades tentam dispersar o grupo, menos ele consegue parar de pensar no acidente.

“Tenho 41 anos e, antes, nunca soube o significado da palavra tortura. Antes, eu não tinha cabelos brancos. Eles começaram a crescer neste ano”, diz. “Segundo os médicos, eu estou com depressão. Perdi o sono, e esse caso também afetou o meu trabalho. Eu era o que tinha os melhores resultados, na minha equipe. Agora, estou apresentando resultados ruins.”

Busca sem fim

Outros, como Ye Lun, pediram demissão só para se consagrar à procura por informações sobre o MH370, no qual viajava o seu cunhado. Ye vai diariamente ao centro. Mas o fim do salário logo se transformou em problemas financeiros.

“Não recebi nem um tostão de indenização até agora. A companhia aérea nos propôs 500 mil dólares, mas a maioria dos familiares recusou esse dinheiro, que é sujo de sangue. Nós queremos apoio psicológico, o pagamento das despesas de transporte e de saúde, que são garantidos pelos tratados internacionais”, conta. “A companhia não reembolsa mais nada, violando esses acordos. Para receber uma compensação financeira, é preciso assinar um certificado de óbito, mas nós nos recusamos a fazer isso porque senão a primeira coisa que eles vão fazer será encerrar as investigações.”

A psicóloga Wei Chang foi uma das primeiras a se integrar à força-tarefa para apoiar as famílias das vítimas, e até hoje mantêm contato com alguns parentes. A profissional constata que, para muitos, a aceitação das mortes ainda é uma etapa distante no longo processo de cura do trauma pela tragédia.

“A esperança lhes permite continuar a viver. Se os familiares perdessem as esperanças, se sentiriam culpados. Esse é um dos tipos de desastre mais difíceis de superar, porque não houve cadáveres”, destaca Wei. “Ninguém viu o corpo sem vida do seu familiar. A pessoa não consegue fechar esse capitulo da sua vida, virar a página. O seu coração continua a esperar, e ninguém sabe por quanto tempo. Esse é o verdadeiro desafio.”

 

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