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Fato em Foco

Temendo novos atentados, imprensa europeia se rende à autocensura

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Desde os atentados em Paris, no início de janeiro, a mídia europeia passou a se questionar sobre os limites da liberdade de imprensa. Observando se concretizar o temor da multiplicação das violências, com os ataques em Copenhague, no último fim de semana, jornais, televisões e rádios da Europa reconhecem estar recorrendo à autocensura.

Capas de alguns jornais franceses no dia seguinte ao atentado do dia 7 de janeiro contra a redação do Charlie Hebdo, em Paris.
Capas de alguns jornais franceses no dia seguinte ao atentado do dia 7 de janeiro contra a redação do Charlie Hebdo, em Paris. Reprodução
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Logo depois dos atentados em Paris, vários veículos britânicos já se recusavam a mostrar a capa da célebre edição da revista satírica Charlie Hebdo, estampada com uma imagem do profeta Maomé carregando o cartaz: "Tudo está perdoado".

O próprio jornal dinamarquês Jyllands-Posten, o responsável pelo estopim das violências há dez anos, quando publicou as caricaturas da entidade sagrada dos muçulmanos, decidiu não repetir o ato em 2015. Segundo o editor-chefe do jornal, Jorgen Mikkelsen, essa foi uma decisão necessária, mas consciente da ameaça que ela produz contra a liberdade de imprensa.

Liberdade "absoluta"

A defesa da livre expressão, aliás, foi a primeira reação da mídia dinamarquesa após os ataques no último fim de semana. "Ninguém responsabiliza os veículos dinamarqueses pelos ataques de Copenhague. Todos estão unidos pela defesa da liberdade", ressalta a jornalista brasileira Margareth Marmori, que vive na Dinamarca há 16 anos.

Mas a liberdade "absoluta" das mídias passou a ser questionada no país e relacionada à incitação ao ódio. "Há jornalistas que acham que o exercício da livre expressão sem limites está indo longe demais", explica.

O jornalista da emissora francesa Canal Plus, Gael Legras, se diz consciente de que a autocensura prejudica o jornalismo, mas, para ele, a liberdade de imprensa também tem limites. "Acredito que os jornalistas carregam uma grande responsabilidade e é delicado impor uma cultura, uma forma de pensar e uma ideologia a todos. É preciso levar em consideração as crenças, as diferenças e as sensibilidades de terceiros", considera.

Legras discorda, no entanto, que a resposta dos extremistas às publicações das caricaturas de Maomé possa ser justificada.  "Demonstrar seu desacordo através de violências, ataques e assassinatos é algo atroz, insuportável", considera.

Questão de bom senso

Na época dos atentados em Paris, o jornalista e professor de Jornalismo da Universidade Federal de Santa Catarina, Antônio Brasil, estava finalizando seu pós-doutorado na capital francesa. Para ele, a autocensura é uma questão de ética e bom senso da profissão, o que faltava na redação de Charlie Hebdo."Os limites do bom senso já tinham sido ultrapassados pelo Charlie Hebdo há muito tempo", acredita.

Brasil defende que, mesmo sendo imprudente, a revista satírica tentava reencontrar seu espaço através da provocação. "Quando você está em uma situação econômica delicada, com poucas vendas para manter sua publicação, talvez você perca seu bom senso, seu autocontrole e sua autocensura", analisa.

Resistir às ameaças

Apesar de a autocensura ser um artifício ao qual a mídia europeia venha recorrendo nos últimos tempos, a ONG Repórteres Sem Fronteiras (RSF) continua defendendo que os jornalistas não devem se curvar às ameaças terroristas. Uma campanha da instituição, intitulada de "A Liberdade de expressão não tem religião" prega que todos são livres para criticar o sistema político, filosófico e religioso na França.

"Todos os veículos franceses, independentemente de suas posições políticas e linhas editoriais, se manifestaram a favor do Charlie Hebdo. Pedimos aos jornalistas para que continuem a exercer suas funções dentro do direito à liberdade de expressão. Não nos dobraremos diante dos atentados", diz o responsável pelo escritório da União Europeia da RSF, Antoine Héry.

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