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Fato em Foco

Nos 70 anos do fim de Auschwitz, judeus se sentem ameaçados

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A Europa lembra nesta semana os 70 anos do fim do campo de concentração de Auschwitz, na Polônia, onde pelo menos 1,1 milhão de pessoas foram mortas pelo regime nazista. As celebrações contarão com a presença de representantes de alto de escalão de 38 países, como os presidentes francês, François Hollande, e alemão, Joachim Gauck.

Entrada do campo de Auschwitz, em foto de 2009.
Entrada do campo de Auschwitz, em foto de 2009. REUTERS/Kacper Pempel
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A comemoração acontece em um momento delicado para a comunidade judaica da França, onde o antissemitismo e o medo de atentados leva cada vez mais judeus a se mudarem para Israel. No ano passado, mais de 7 mil judeus franceses emigraram, o dobro do registrado no ano anterior. Este número deve ser ainda maior em 2015, na opinião de Roger Cukierman, presidente do Conselho Representativo das Instituições Judaicas (Crif) do país. Ele lembra que, em menos três anos, três atentados foram realizados contra a comunidade judaica.

“Sim, estamos preocupados, porque agora não se tratam mais de insultos, pichações ou até agressões físicas: trata-se da vontade de matar”, afirma. “Eu sinto profundamente as celebrações de Auschwitz porque os meus avós foram mortos nas câmaras de gás de Treblinka, meus pais tiveram de deixar a Polônia para fugir do antissemitismo nos anos 1930 e eu tive de viver escondido durante a guerra. E agora, vejo os meus filhos e netos ameaçados, ao ponto de a segurança das escolas e sinagogas precisar ser garantida pela polícia e até por soldados.”

Os atos antissemitas registrados na França também dobraram no ano passado. Para Cukierman, o aumento da violência contra a comunidade judaica se deve à influência de grupos islâmicos radicais sobre uma parcela dos muçulmanos franceses.

“Felizmente, não é todo o país. A França não é antissemita”, garante o presidente do Crif. O jihadismo se espalha em uma pequena parte da população nacional, na comunidade muçulmana. Nessa minoria dentro da minoria, há algumas centenas de jovens que se convertem ao islã fanático e assassino. Felizmente, eles não refletem o pensamento da imensa maioria dos muçulmanos franceses.

A memória dos horrores de Auschwitz é uma das ferramentas para lutar contra o antissemitismo nas escolas, um problema que desafia os professores desde os ataques em Paris. As lembranças trazidas pelos sobreviventes têm um papel importante na conscientização sobre os riscos dos radicalismos.

Sobrevivente conta história no Brasil

No Brasil, um ex-prisioneiro dos nazistas também leva essa mensagem por onde passa. O polonês naturalizado brasileiro Aleksander Henryk Laks, hoje com 86 anos, perdeu a família nos campos de concentração poloneses e alemães.

“Eu só sobrevivi por acaso. Não sei como sobrevivi. Mas sei para que eu sobrevivi: para testemunhar e avisar que isso nunca mais pode acontecer com ninguém”, afirma o presidente da Associação Brasileira dos Israelistas Sobreviventes da Perseguição Nazista.

Laks conta não haver um único dia em que não se lembre dos anos de perseguição nazista na Segunda Guerra Mundial, quando era adolescente. A fome, o frio e a violência nos três campos de concentração por onde passou permanecem intactos na memória.

“A pessoa pode viver 1.000 anos e não vai ver o que eu vi ao chegar em Auschwitz. Arrancavam crianças dos colos das mães, jogavam elas contra a parede, chutavam. Corriam de um lado para o outro mandando homens de um lado, mulheres de outro”, se recorda. “Meu pai não teve tempo de se despedir da minha mãe. Ela foi levada e morreu em uma câmara de gás, e depois cremada em um crematório de Auschwitz, em 1944.”

Ataques na França entristecem

O brasileiro diz estar inconformado com o retorno da violência contra os judeus na Europa. Ele acompanhou de perto as notícias sobre os ataques na capital francesa.

“Senti muita revolta, porque quando fui libertado, achei que tinha acabado o antissemitismo, a guerra, e eu viveria em um novo mundo. Achei que tudo o que passou nunca mais iria voltar a acontecer, mas hoje está acontecendo novamente”, observa. “As pessoas estão sendo mortas, e nem só judeus, mas também cristãos. Não entra na cabeça de ninguém que as pessoas estejam fazendo exatamente o que os nazistas faziam.”

Com o passar dos anos, a lista de sobreviventes do Holocausto começa a ficar escassa – na França, restam entre 300 e 350 ex-prisioneiros dos campos de Auschwitz.

 

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