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Missionário brasileiro que teve casa destruída no Níger relata tensão à RFI

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Niamei foi palco no sábado (17) de violentos protestos contra recente a caricatura do profeta Maomé publicada no jornal satírico francês Charlie Hebdo. Casas foram destruídas e dez pessoas morreram durante as manifestações. Mas se nos demais protestos nos países muçulmanos as instituições francesas eram os principais alvos, desta vez os cristãos do país foram visados, entre eles brasileiros que atuam no país em missões religiosas e humanitárias capital do Níger. A RFI entrevistou Alexandre Canhoni, líder da organização evangélica Guerreiros de Deus, uma das vítimas dos ataques, que está sendo perseguido e teve sua casa destruída.

Alexandre Canhoni mostra sede da organização Guerreiros de Deus, atacada no Níger.
Alexandre Canhoni mostra sede da organização Guerreiros de Deus, atacada no Níger. Arquivo pessoal
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De acordo com o Itamaraty, dois templos evangélicos administrados pela organização não governamental (ONG) norte-americana World Horizon, dois templos da Igreja Presbiteriana Viva, o Ministério Guerreiro de Deus e uma escola foram atacados na capital do país africano.

O brasileiro Alexandre Canhoni vive em Niamei há 14 anos e é líder da organização evangélica Guerreiros de Deus no Níger. Segundo ele, a situação é bem mais grave do que vem sendo divulgado pela imprensa internacional. “Foram queimados mais de 45 templos cristãos, evangélicos e católicos, mais de 30 bares e restaurantes, creches e até orfanatos”, conta o missionário, que teve que fugir de sua própria casa, atacada por centenas de pessoas. “Eles estavam armados com pedaços de pau, picaretas, facões, jogando pedras e destruindo tudo.”

Cristãos são insultados nas ruas

Canhoni afirma que, quase uma semana após os ataques, o clima ainda é de insegurança e os cristãos se sentem perseguidos. “Somos apontados quando andamos na rua”, relata. Mas o brasileiro lembra que já havia tensões entre os muçulmanos, que segundo números oficiais representam 98% da população do Níger, e a minoria cristã. “Muitas vezes somos insultados e as famílias nem sempre deixam seus filhos participarem de nosso projeto porque somos cristãos. Mas há também muçulmanos que vieram se desculpar do que aconteceu no fim de semana”, ressalta o missionário, lembrando que sua organização ajuda principalmente os filhos dessa maioria religiosa.

O Ministério Guerreiros de Deus cuida de cerca de 2 mil crianças, com projetos de nutrição, esportes, ateliês de costura e trabalho social com deficientes físicos. E apesar do clima de tensão, Canhoni não pretende deixar o país. “Só vamos embora se o presidente mandar sair todos os que não são muçulmanos. Nós vamos ficar e reconstruir tudo”, ressalta o missionário, que lançou uma campanha de doações por meio do site da instituição.

Ex-paquito vive em um dos países mais pobres do mundo

Antes de lançar o projeto, Canhoni teve uma carreira na televisão, como assistente de palco no programa da Xuxa, onde era conhecido como Xandi, um dos Paquitos. “Larguei toda a carreira e o glamour para vir para cá. Procurei saber onde era o país mais pobre do mundo, para poder ajudar as pessoas mais necessitadas do planeta, e descobri que era o Níger”, lembra o brasileiro, que diz ser muito próximo da população do país e contar com o apoio de seus vizinho. “Eles disseram que se tiver uma nova manifestação, a própria comunidade do bairro vai bloquear a rua de casa.”

Itamaraty está pronto para possível retirada dos brasileiros

De acordo com o Itamaraty, 33 brasileiros vivem no Níger, a maioria atuando em grupos ligados a atividades religiosas. As autoridades acompanham a evolução da situação no país e já se preparam para a possível retirada dos cristãos em caso de novos ataques.

João Zanini, encarregado de negócios da embaixada do Brasil no Benin, que faz a representação do governo brasileiro junto ao Níger, explica que já está em contato com Niamei em caso de degradação da situação. “Desde domingo a situação está mais calma, mas ainda estamos preocupados. Os próximos cinco dias serão muito importantes, pois sabemos que a qualquer momento as coisas podem de desestabilizar”, explica o diplomata, que já deu orientações para os brasileiros que vivem no país. “Pedimos que mantenham a vigilância, principalmente durante este final de semana, e que permaneçam em suas casas, sem ostentar símbolos de fé e com provisão de alimentos e água. Mas se o nível de tensão aumentar, nós já temos um plano que vai desde o oferecimento, junto com o governo do Níger, de segurança às casas onde os brasileiros estarão reunidos, até a evacuação completa em caso extremo.”

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