Uma nova etapa nas relações entre a América Latina e a maior potencia do mundo se inicia com a abertura do primeiro Foro China e CELAC, a Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos, em Pequim, nesta quinta-feira (8). A China reforça a cooperação com a região, através deste novo canal direto de negociações.
*Da correspondente da RFI em Hong Kong
O chanceler brasileiro, Mauro Vieira, realiza sua primeira missão internacional para participar dos dias de evento ao lado de mais de 30 ministros das relações exterior e quatro chefes de estados latino americanos. Juntos, eles vão assinar a Declaração de Pequim, um acordo de parceria, sobretudo econômica, para os próximos cinco anos.
O foro é uma nova plataforma de diálogo para a China com os 33 países da América Latina e tem a vantagem estratégica de não contar com a presença dos Estados Unidos. Assim, o governo chinês tem campo livre para ampliar sua influência em nações historicamente vinculadas à economia americana. Hoje, a China é o maior parceiro econômico do Brasil e o segundo da região. Entre janeiro e novembro de 2014, o volume de negócios entre China e América Latina alcançou a marca de US$ 242 bilhões.
China tem muito interesse na América Latina
Este é o maior evento diplomático que a China vai sediar este ano. Mais uma prova que o país tem olhado com crescente interesse para a região. Participam do foro hoje na capital chinesa Luis Guillermo Solís, presidente da Costa Rica, país que está na presidência da CELAC, e seus homólogos do Equador, Rafael Correa; e da Venezuela, Nicolás Maduro.
Estão igualmente presentes o primeiro-ministro das Bahamas, Perry Christie e os ministros das relações exteriores de ao menos 30 países latino-americanos. Já o recém empossado Mauro Vieira, representa o Brasil no exterior pela primeira vez como ministro das Relações Exteriores.
Agenda do encontro
Em discurso durante a cerimônia de abertura, o presidente chinês, Xi Jinping, afirmou que o Foro China-CELAC terá um grande impacto na cooperação Sul-Sul e no desenvolvimento global. Ele acrescentou que os dois lados concordaram em estabelecer um plano de cinco anos em um documento, que foi batizado de “Declaração de Pequim”. O texto, que será definido durante os dois dias de reuniões, vai demarcar um consenso político, definir as linhas de base do fórum e da cooperação.
O governo chinês reforçou que os termos da parceria se baseiam no espírito da igualdade e do benefício mútuo.
Principais pontos desta parceria
A cooperação China e América latina é principalmente econômica. Os principais setores de cooperação são: agricultura, manufaturados e telecomunicações. Diversas companhias chinesas de tecnologia têm apostado no mercado latino-americano.
A China tem aumentado sua participação em investimentos em infraestrutura na região, como no importante canal interoceânico da Nicarágua. Os governos latino-americanos têm interesse que esses investimentos não se concentrem apenas na exploração de recursos naturais e energéticos, mas tragam benefícios para o desenvolvimento industrial e gere conhecimento, sobretudo tecnológico.
Pequim se comprometeu em aplicar, até 2019, US$ 35 bilhões, o equivalente a cerca de 97 bilhões de reais, em financiamento de projetos na região. As relações comerciais entre as duas partes foram multiplicadas em quase 10 vezes entre 2003 e 2013. O volume de negócios saltou de US$ 29 bilhões para US$ 259 bilhões. Os países somam um oitavo da economia mundial.
Durante a visita do presidente chinês a diversos países da América Latina, incluindo o Brasil, em julho do ano passado, a China propôs que o volume de comércio entre os dois lados chegasse a 500 bilhões de dólares nos próximos 10 anos. Neste período, o investimento direto da China na região pode atingir a barra dos 250 bilhões de dólares.
Durante a mesma visita, foi estabelecida na Cúpula de Brasília de Líderes da China e de Países da América Latina e Caribe a criação deste primeiro encontro CELAC-China. Ele é fruto de uma proposta chinesa.
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